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Temporada em cidade do interior de SP inspirou o escritor
DA REDAÇÃO
Celebrada como a cidade onde
Mário de Andrade escreveu "Macunaíma" (1926), Araraquara tornou-se cenário importante para o
escritor depois de uma grande
perda. Com a morte de Renato,
aos 14 anos, seu irmão mais moço,
em 1913, Mário entra em depressão. "Nesse período, tio Pio o
trouxe para sua fazenda em Araraquara. Lá ele ficou isolado por
um mês", conta Renato Rocha,
77, primo do escritor.
Os dias de luto em Araraquara e
o contato com Pio Lourenço Corrêa resultaram no nascimento do
Mário poeta. "Foi o bom-senso
dum tio, espécie de neurastênico
de profissão, que me salvou. Pegou em mim, levou para a fazenda
dele, onde ele não morava, me
deixou lá sozinho. Só que voltei
poeta da fazenda", escreve Mário
ao escritor Manuel Bandeira.
"O Poço", conto publicado em
"Contos Novos" (1947), foi inspirado em Pio", diz o cineasta
Eduardo Escorel, 59, com base
nas histórias que conhece das relações de Mário com a cidade.
Além de participar da escritura do
roteiro e montagem do filme
"Macunaíma" (1969), adaptar o
romance "Amar, Verbo Intransitivo" para "Lição de Amor"
(1975) e filmar "Chico Antônio, o
Herói com Caráter" (1983), documentário sobre o cantador que
Mário encontrou em 1929 em viagem ao Rio Grande do Norte e
que Escorel reencontrou na década de 80, ele também é casado
com a sobrinha-neta do escritor,
Ana Luiza Escorel, filha de Gilda
de Mello e Souza, mulher do crítico Antonio Candido.
Em carta a Anita Malfatti, de fevereiro de 1927, Mário fala da redação de "Macunaíma", feita em
Araraquara. "Fui na fazenda passar um mês. Pois me veio o saci
duma idéia pra um romance, escrevi o tempo todo, teve dias em
que escrevi até duas da manhã!"
"Como a porta do quarto em
que ele ficava na chácara Sapucaia
tinha uma parte de vidro, quando
era bem tarde, Zulmira (mulher
de Pio), vendo que a luz estava
acesa, dizia para ele dormir. Mário apagava a luz e continuava a
escrever em uma mesinha no banheiro", relata Rocha.
"Certa vez, meu pai abriu uma
estrada ligando a fazenda à cidade. Ela passava dentro das terras
de outros proprietários. Um italiano, Azinari, não gostou e passou a azucrinar", continua. "Um
dia, Mário pergunta aos pequenos
da família: "Como vamos matar o
italiano? Tem que ser morte que
nunca existiu, para deixá-lo mortinho'", explica a brincadeira. "A
menina Maria Elisa sugeriu que
ele caísse em um caldeirão de macarronada"
(LA)
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