São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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Temporada em cidade do interior de SP inspirou o escritor

DA REDAÇÃO

Celebrada como a cidade onde Mário de Andrade escreveu "Macunaíma" (1926), Araraquara tornou-se cenário importante para o escritor depois de uma grande perda. Com a morte de Renato, aos 14 anos, seu irmão mais moço, em 1913, Mário entra em depressão. "Nesse período, tio Pio o trouxe para sua fazenda em Araraquara. Lá ele ficou isolado por um mês", conta Renato Rocha, 77, primo do escritor.
Os dias de luto em Araraquara e o contato com Pio Lourenço Corrêa resultaram no nascimento do Mário poeta. "Foi o bom-senso dum tio, espécie de neurastênico de profissão, que me salvou. Pegou em mim, levou para a fazenda dele, onde ele não morava, me deixou lá sozinho. Só que voltei poeta da fazenda", escreve Mário ao escritor Manuel Bandeira.
"O Poço", conto publicado em "Contos Novos" (1947), foi inspirado em Pio", diz o cineasta Eduardo Escorel, 59, com base nas histórias que conhece das relações de Mário com a cidade. Além de participar da escritura do roteiro e montagem do filme "Macunaíma" (1969), adaptar o romance "Amar, Verbo Intransitivo" para "Lição de Amor" (1975) e filmar "Chico Antônio, o Herói com Caráter" (1983), documentário sobre o cantador que Mário encontrou em 1929 em viagem ao Rio Grande do Norte e que Escorel reencontrou na década de 80, ele também é casado com a sobrinha-neta do escritor, Ana Luiza Escorel, filha de Gilda de Mello e Souza, mulher do crítico Antonio Candido.
Em carta a Anita Malfatti, de fevereiro de 1927, Mário fala da redação de "Macunaíma", feita em Araraquara. "Fui na fazenda passar um mês. Pois me veio o saci duma idéia pra um romance, escrevi o tempo todo, teve dias em que escrevi até duas da manhã!"
"Como a porta do quarto em que ele ficava na chácara Sapucaia tinha uma parte de vidro, quando era bem tarde, Zulmira (mulher de Pio), vendo que a luz estava acesa, dizia para ele dormir. Mário apagava a luz e continuava a escrever em uma mesinha no banheiro", relata Rocha.
"Certa vez, meu pai abriu uma estrada ligando a fazenda à cidade. Ela passava dentro das terras de outros proprietários. Um italiano, Azinari, não gostou e passou a azucrinar", continua. "Um dia, Mário pergunta aos pequenos da família: "Como vamos matar o italiano? Tem que ser morte que nunca existiu, para deixá-lo mortinho'", explica a brincadeira. "A menina Maria Elisa sugeriu que ele caísse em um caldeirão de macarronada"
(LA)


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