São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011
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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO Filme compensa longo périplo com mistério da existência INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA Estranho caminho o de "Diário de uma Busca". O que nos propõe, de início, é um fascinante mistério político e policial. Em 1984, dois homens invadem uma casa. Os dois morrem. Suicídio, segundo a versão da polícia de Porto Alegre. Ocorre que um dos assaltantes não era um qualquer: tratava-se do ex-exilado político Celso de Castro. E que o assaltado também não era um qualquer: era um representante do Paraguai no Brasil, suspeito de ser nazista. Portanto, embora já estivéssemos na maré da redemocratização, não faltavam motivos para imaginar que a trama descrita pela polícia tinha tudo para ser falsa. Aí começa a busca de Flavia Castro. Resvala pela questão policial, mas parece pouco capaz de ir muito longe. Um policial diz lembrar-se pouco do que aconteceu. Um legista afirma que, pelas balas encontradas, a hipótese de suicídio é inverossímil. O filme toma então outro rumo. A vida de Celso de Castro é vasculhada: mulheres, filhos, as trajetórias no exílio. Tantos destinos: para os filhos, para quem faz o filme, para todos uma existência difícil e cheia de recomeços. Depois, a anistia e o retorno. Mas, para Celso, ao que se pode deduzir, o retorno é o verdadeiro exílio: a constatação de derrota, a depressão. É só ao final desse longo périplo que o filme revela o que tem de mais precioso: nem toda busca chega a um resultado. Sobretudo quando envolve mortos. O mistério da existência persiste. A pergunta inicial (teria ele se suicidado?) não chega a uma conclusão. Então sabemos que estamos diante de uma dor irreparável, que o início da busca é uma dor, mas o final não a remove. Pode-se objetar que o longa é não raro dispersivo, que a narração em "off" nos levará por caminhos que parecem ter interesse só familiar. Mas o ponto de chegada, onde o enigma se dobra sobre si e nos é relançado, compensa os não tão raros momentos em que Flavia se entrega às facilidades da filmagem digital. DIÁRIO DE UMA BUSCA PRODUÇÃO Brasil/França, 2010 DIREÇÃO Flavia Castro ONDE no Frei Caneca Unibanco Arteplex CLASSIFICAÇÃO 10 anos AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Busca de respostas para ferida familiar move documentário Próximo Texto: Crítica/Drama: Sentimentalismo de Lelouch provoca enjoo no espectador Índice | Comunicar Erros |
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