São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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ARTES CÊNICAS

Grupo mineiro consegue espaço em BH, que é inaugurado hoje, para acomodar acervo de 800 marionetes

Bonecos do Giramundo vão ao museu

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Giramundo girou, girou e até que enfim achou seu lugar: o grupo mineiro de teatro de bonecos inaugura hoje, em Belo Horizonte, seu museu. E "giro", aí, não é metáfora. Nos últimos anos, os 800 bonecos do acervo do grupo ficaram zanzando em busca de um canto onde pudessem se acomodar e ser exibidos para o público que os acompanha há 31 anos, ou para quem os quiser conhecer.
O périplo do Giramundo começou em 1993, quando se iniciam as negociações para a instalação do museu em Belo Horizonte. Sem apoio dos órgãos públicos, o grupo desiste de BH e passa a negociar com a Prefeitura da cidade de Lagoa Santa; também não dá certo. Em seguida, chega-se a fazer um projeto arquitetônico para o museu em Ouro Preto.
Enquanto isso, os pobres bonecos eram despejados de sua "casa" na Universidade Federal de Minas Gerais, com a qual o grupo mantinha um convênio. Transferidos às pressas para um teatro, eles aguardaram o desenrolar do imbróglio: Ouro Preto foi trocada por Cataguases, e esta, por sua vez, por Belo Horizonte -um dos fundadores do grupo, Álvaro Apocalypse, cedeu um terreno seu, e uma empresa de engenharia doou um galpão para o museu.
"Ainda não é o ideal, mas está se tornando, aos poucos", diz Marcos Malafaia, integrante do grupo há 15 anos e que coordena a montagem do Museu Giramundo.
Além de exibir os bonecos utilizados em 27 espetáculos, o museu, que terá como anexo uma Escola de Artes do Marionete, pretende incentivar este tipo de teatro, pouco difundido no Brasil. "Nas Américas, o teatro de bonecos é mais desenvolvido nos países de língua espanhola", diz Malafaia. "Eles têm uma literatura própria e uma tradição de teatros ambulantes, como na Europa."
Falta ao Brasil, segundo ele, também uma regularidade nos eventos dedicados ao teatro de marionetes, o que possibilitaria aos grupos viver do próprio trabalho. "Na Europa, eles podem circular, se reproduzir, isso melhora a qualidade do trabalho."
O Museu Giramundo vai explorar a tradição do grupo na confecção de seus bonecos, que percorrem todos os gêneros: marionetes clássicas, manipuladas por fios; a marionete de luva; a de varetas, manipulada por baixo; e a de balcão, por trás. Há bonecos de tamanhos variados: desde os pequeninos, com 30 cm, até os maiores, de até 3 m de altura.
Os bonecos são, em sua maioria, feitos em madeira, material considerado ideal para as marionetes de pequeno porte, mas pesado para as maiores. São usados, então, no acabamento, materiais como isopor, poliuretano e fibra de vidro. Só no início foi utilizado o papel machê, abandonado por questões de conservação.
Um diferencial do Giramundo é que seu teatro nem sempre esteve voltado para o público infantil, como normalmente acontece no mundo das marionetes. Montaram "A Bela Adormecida" (1970) e "Pedro e o Lobo" (1993), para as crianças; mas fizeram também "O Diário" (1997), "Orixás" (2001) e "Cobra Norato" (1978) -com o qual ganharam o prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), em 1979. "Pedro" e "Cobra" serão exibidos no mês que vem em São Paulo.
Na inauguração, hoje à noite, será lançado o livro "Dramaturgia para a Nova Forma do Marionete", de Álvaro Apocalypse, já como primeiro volume editado pelo grupo na Escola de Marionetes, e o vídeo "Giramundo - Uma História de Títeres e Marionetes", dirigido por Mariana Tavares.


MUSEU GIRAMUNDO. Inauguração hoje, para convidados, e amanhã, entrada grátis; das 10h às 17h, de quarta a domingo. Onde: r. Varginha, 235, Floresta, Belo Horizonte, tel. 0/xx/31/ 3446-0686. Quanto: R$ 3.



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