São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Planos escultóricos de Sean Scully buscam luminosidade

TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA

As telas que Sean Scully mostra no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio, diferem muito do sentido tradicional da pintura. Embora continuem sendo superfícies de lona lisa, em formato retangular onde se aplica tinta, elas não se apresentam como janelas em que formas se relacionam como se reconstituíssem a ilusão de um olhar.
Parente do minimalismo, a pintura de Scully tem uma feição mais física. São planos que, como uma porta, se mostram como um corpo impenetrável e opaco. A presença física da tela é ressaltada pela largura dos chassis e por um tamanho que garante uma densidade. O trabalho aparece como um anteparo que tem uma presença equivalente ao de objetos de uso comum. A justaposição de diferentes superfícies ressalta esse aspecto escultórico dos quadros.
Embora a palpabilidade da estrutura física do trabalho lhe dê um aspecto objetivo e uma corporeidade literal, as suas formas retangulares se relacionam na tela de maneira distinta da minimal.
No minimalismo, os elementos da pintura tendem a ressaltar uma espécie de objetividade intransponível. As cores abandonam seu aspecto de forma e tornam-se superfícies. Objetos feitos que se mostram rasos, sem disfarces. Assim, um azul é um corpo de azul com estrutura, tamanho e formato nítido e individualizado. Quando são agrupados, tais elementos se relacionam individualmente, como parte da linha de montagem. O componente tem o papel de peça de uma obra, que constrói um sentido exterior a ele.
As relações entre os elementos ocorrem de forma externa e objetiva. Estabelecem o contato mais frio e distante possível. Talvez como se articulassem um trabalho a ser feito ou a organização de uma tarefa. É desse aspecto de atividade pré-determinada que a pintura de Sean Scully parece tentar escapar. Suas formas não podem se manter servis a nenhum tipo de imperativo anterior ao contato entre as massas de tinta. Querem ser luz, buscar uma nova luminosidade para o seu plano.
Para isso, devem ser metódicas, não podem se sujeitar à realização de efeitos nem pressupor direcionamentos ou sentidos prévios. Qualquer sujeição pode apagar o cintilar das imensas telas.
Os quadros tentam restituir uma certa densidade que singularize seus elementos e particularize a superfície. Para evitar a sujeição, as formas se amolecem e passam a se esparramar umas sobre as outras. O plano adquire uma aparência fluida. De linhas que se tramam e se desfazem umas nas outras, formando luminosidades solares. Que, no momento seguinte, nos dão adeus. O plano se torna molenga, entumecido, talvez com a mesma consistência desses encontros fortuitos e revigorantes.


Sean Scully Wall Light     
Onde: Centro de Arte Hélio Oiticica (r. Luís de Camões, 68, centro, Rio, 0/xx/21/ 2242-1012)
Quando: de ter. a sex., das 11h às 19h; sáb., dom. e fer., das 12h às 18h
Quanto: entrada franca




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