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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"SONGBOOK JOÃO BOSCO"
Saem os últimos volumes dirigidos pelo produtor
Samba Minas-Rio brilha em testamento de Almir Chediak
DA REPORTAGEM LOCAL
Lançados só agora, os três
volumes de songbooks (em
CD e livro de cifras) dedicados a
João Bosco constituem o testamento musical deixado pelo produtor Almir Chediak, assassinado
durante um assalto em maio passado, aos 52 anos.
Mais que uma homenagem de
57 cantores e grupos ao pós-sambista mineiro, o "Songbook João
Bosco" é certeiro ao privilegiar a
fatia de obra produzida em parceria com o carioca Aldir Blanc.
Os dois parceiros estavam musicalmente afastados desde 87, e
talvez o último grande feito de
Chediak tenha sido reuni-los para
cantar, no songbook, o clássico
"O Bêbado e a Equilibrista" (79).
Bosco aparece em pessoa em
outros dois momentos altos dos
discos, cantando "O Mestre-Sala
dos Mares" (75) com Martinho da
Vila e tocando violão para Simone
cantar "Nação" (82).
Na rota dos songbooks que produzia desde 91, Chediak concebeu
este que seria seu último trabalho
tentando conciliar as limitações
do formato com soluções que as
atenuassem. As limitações persistem. A burocracia às vezes domina a sequência de dezenas de canções, intérpretes e arranjos.
A necessidade de se destacar leva alguns intérpretes a um expressionismo chulo (casos de Ana Carolina, em "Linha de Passe", de
79, e de Edson Cordeiro em "Miss
Suéter", de 76, originalmente cantada por Angela Maria). Equívocos assim ficam nítidos se comparados com, por exemplo, "Dois
pra Lá, Dois pra Cá" (75), em que
o normalmente derramado
Cauby Peixoto surpreende ao se
recolher a melancólica suavidade.
Solução para as burocracias se
encontra, por exemplo, em encontros inusitados, com destaques para Zélia Duncan caindo no
batuque com Pedro Luís e A Parede (em "O Rancho da Goiabada",
de 76) e para a reunião da dupla
Burnier & Cartier, mediada por
Ed Motta, em "Bijuterias" (77).
A lista é extensa, mas a adequação entre canção, intérprete e arranjo favorece Milton Nascimento, Edu Lobo, Chico Buarque, Alcione, Moska, Zeca Baleiro, Daniela Mercury, Ivan Lins, Beth
Carvalho, Sandra de Sá, Dudu
Nobre, Pedro Mariano, Zeca Pagodinho, Paula Toller...
É o caso também de Gilberto Gil
em "Odilê, Odilá" (86), rara parceria entre Bosco e Martinho da
Vila. Fora ele, a corrente baiana/
tropicalista não aparece no songbook, dando pista de divergências
nem sempre explícitas da MPB.
Pois a beleza de a história de Almir Chediak se encerrar num
songbook de João Bosco é subsidiária dessa questão. À diferença
do que acontecia nos volumes de
Tom Jobim e Chico Buarque, por
exemplo, Chediak recuperava
aqui uma obra vultosa, embora
meio fora de voga no panteão da
MPB -já fizera o mesmo antes
por Edu Lobo e Marcos Valle.
A prosódia carioca ao estilo de
Aldir Blanc e a malemolência mineira ao ritmo de João Bosco
agradecem a lembrancça.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Songbook João Bosco
Lançamento: Lumiar
Quanto: R$ 25, em média, cada CD (três
volumes)
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