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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"SONGBOOK JOÃO BOSCO"

Saem os últimos volumes dirigidos pelo produtor

Samba Minas-Rio brilha em testamento de Almir Chediak

DA REPORTAGEM LOCAL

Lançados só agora, os três volumes de songbooks (em CD e livro de cifras) dedicados a João Bosco constituem o testamento musical deixado pelo produtor Almir Chediak, assassinado durante um assalto em maio passado, aos 52 anos.
Mais que uma homenagem de 57 cantores e grupos ao pós-sambista mineiro, o "Songbook João Bosco" é certeiro ao privilegiar a fatia de obra produzida em parceria com o carioca Aldir Blanc.
Os dois parceiros estavam musicalmente afastados desde 87, e talvez o último grande feito de Chediak tenha sido reuni-los para cantar, no songbook, o clássico "O Bêbado e a Equilibrista" (79).
Bosco aparece em pessoa em outros dois momentos altos dos discos, cantando "O Mestre-Sala dos Mares" (75) com Martinho da Vila e tocando violão para Simone cantar "Nação" (82).
Na rota dos songbooks que produzia desde 91, Chediak concebeu este que seria seu último trabalho tentando conciliar as limitações do formato com soluções que as atenuassem. As limitações persistem. A burocracia às vezes domina a sequência de dezenas de canções, intérpretes e arranjos.
A necessidade de se destacar leva alguns intérpretes a um expressionismo chulo (casos de Ana Carolina, em "Linha de Passe", de 79, e de Edson Cordeiro em "Miss Suéter", de 76, originalmente cantada por Angela Maria). Equívocos assim ficam nítidos se comparados com, por exemplo, "Dois pra Lá, Dois pra Cá" (75), em que o normalmente derramado Cauby Peixoto surpreende ao se recolher a melancólica suavidade.
Solução para as burocracias se encontra, por exemplo, em encontros inusitados, com destaques para Zélia Duncan caindo no batuque com Pedro Luís e A Parede (em "O Rancho da Goiabada", de 76) e para a reunião da dupla Burnier & Cartier, mediada por Ed Motta, em "Bijuterias" (77).
A lista é extensa, mas a adequação entre canção, intérprete e arranjo favorece Milton Nascimento, Edu Lobo, Chico Buarque, Alcione, Moska, Zeca Baleiro, Daniela Mercury, Ivan Lins, Beth Carvalho, Sandra de Sá, Dudu Nobre, Pedro Mariano, Zeca Pagodinho, Paula Toller...
É o caso também de Gilberto Gil em "Odilê, Odilá" (86), rara parceria entre Bosco e Martinho da Vila. Fora ele, a corrente baiana/ tropicalista não aparece no songbook, dando pista de divergências nem sempre explícitas da MPB.
Pois a beleza de a história de Almir Chediak se encerrar num songbook de João Bosco é subsidiária dessa questão. À diferença do que acontecia nos volumes de Tom Jobim e Chico Buarque, por exemplo, Chediak recuperava aqui uma obra vultosa, embora meio fora de voga no panteão da MPB -já fizera o mesmo antes por Edu Lobo e Marcos Valle.
A prosódia carioca ao estilo de Aldir Blanc e a malemolência mineira ao ritmo de João Bosco agradecem a lembrancça.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Songbook João Bosco    
Lançamento: Lumiar
Quanto: R$ 25, em média, cada CD (três volumes)



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