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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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"IRREVERSÍVEL"

Idéias retrógradas pontuam roteiro

Divulgação
Monica Bellucci e Vincent Cassel em cena de "Irreversível"


PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O elemento mais chocante de "Irreversível" não é a violência explícita, explorada pelo puro desejo do escândalo. Chocante mesmo é ver um filme de idéias tão retrógradas e preconceitos arraigados ser feito no século 21. Duplamente chocante é saber que esse filme é francês.
A estrutura de "Irreversível" é baseada em dois princípios. O primeiro é a total descrença no ser humano. Ou, o que talvez seja pior, a crença profunda na bestialidade do homem (uma bestialidade "natural", inata e descontextualizada). O segundo é o fatalismo doutrinário, a idéia de que o destino é irremediável.
Filmando a golpes de marreta, o diretor Gaspar Noé (de "Seul contre Tous") nega com veemência o projeto humanista do cinema francês. A imagem mais emblemática surge nos primeiros minutos: um crânio é esmagado a golpes de um extintor de incêndio, sem cortes ou alívio para o espectador. É o aniquilamento definitivo do projeto racional.
A sequência está no princípio do filme, mas narra o final da história, já que a estrutura do roteiro, como está tão em voga, propõe uma narrativa "de trás para a frente". O espectador começa vendo a vingança pessoal de Marcus (Vincent Cassel), que desce ao submundo gay para caçar o suposto estuprador de sua mulher (Monica Bellucci), e vai acompanhando o que se passou antes até chegar ao momento que o autor determinou como o "princípio", um tempo idílico e feliz que se deteriorou até a podridão (porque o homem não presta; é o que está implícito em cada fotograma).
"Irreversível" foi exibido no Festival de Cannes de 2002 e causou escândalo. Mas foi puro fogo de palha. Em poucos dias, escândalo e filme foram esquecidos.


Irreversível
Irréversible
 
Direção: Gaspar Noé
Produção: França, 2001
Com: Monica Bellucci e Vincent Cassel
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco e no Cinearte



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