|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"IRREVERSÍVEL"
Idéias retrógradas pontuam roteiro
Divulgação
|
Monica Bellucci e Vincent Cassel em cena de "Irreversível" |
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O elemento mais chocante
de "Irreversível" não é a violência explícita, explorada pelo
puro desejo do escândalo. Chocante mesmo é ver um filme de
idéias tão retrógradas e preconceitos arraigados ser feito no século 21. Duplamente chocante é
saber que esse filme é francês.
A estrutura de "Irreversível" é
baseada em dois princípios. O
primeiro é a total descrença no ser
humano. Ou, o que talvez seja
pior, a crença profunda na bestialidade do homem (uma bestialidade "natural", inata e descontextualizada). O segundo é o fatalismo doutrinário, a idéia de que o
destino é irremediável.
Filmando a golpes de marreta, o
diretor Gaspar Noé (de "Seul contre Tous") nega com veemência o
projeto humanista do cinema
francês. A imagem mais emblemática surge nos primeiros minutos: um crânio é esmagado a golpes de um extintor de incêndio,
sem cortes ou alívio para o espectador. É o aniquilamento definitivo do projeto racional.
A sequência está no princípio
do filme, mas narra o final da história, já que a estrutura do roteiro,
como está tão em voga, propõe
uma narrativa "de trás para a
frente". O espectador começa
vendo a vingança pessoal de Marcus (Vincent Cassel), que desce ao
submundo gay para caçar o suposto estuprador de sua mulher
(Monica Bellucci), e vai acompanhando o que se passou antes até
chegar ao momento que o autor
determinou como o "princípio",
um tempo idílico e feliz que se deteriorou até a podridão (porque o
homem não presta; é o que está
implícito em cada fotograma).
"Irreversível" foi exibido no
Festival de Cannes de 2002 e causou escândalo. Mas foi puro fogo
de palha. Em poucos dias, escândalo e filme foram esquecidos.
Irreversível
Irréversible
Direção: Gaspar Noé
Produção: França, 2001
Com: Monica Bellucci e Vincent Cassel
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco e no Cinearte
Texto Anterior: "Eu Fui a Secretária de Hitler": Desabafo de uma consciência culpada rende boa história Próximo Texto: Copião: Artistas fazem filme grátis para a Loteria da Cultura Índice
|