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"EU FUI A SECRETÁRIA DE HITLER"
Narrativa envolvente absolve Traudl Junge
Desabafo de uma consciência culpada rende boa história
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ninguém espere de "Eu Fui a
Secretária de Hitler" as muitas coisas que o título pode sugerir. Traudl Junge, a pessoa em
questão, foi uma burocrata do
Reich, sem convicções nacional-socialistas exaltadas, admiradora
de Hitler (como quase todos os
alemães do período).
Os realizadores, André Heller e
Othmar Schmiderer, trataram-na
com a deferência devida a uma senhora (ela morreu pouco após
conceder as entrevistas que formam o filme), e não como uma
possível criminosa de guerra.
Não era preciso: Junge sentia-se,
ou dizia sentir-se, um pouco como tal, por ser alienada, em suas
palavras, por não ter percebido o
que se passava à sua volta, o que
seu patrão causava ao mundo naquele instante (ela trabalha para
Hitler entre 1942 e 1945).
Sua tarefa de secretária (era
uma de várias) a colocava numa
posição paradoxal: estava no centro de tudo, mas num ponto cego,
que não lhe permitia saber nada
de relevante do que se passava, ao
menos em sua descrição.
É essa posição que faz o interesse do filme. Do começo ao fim o
que temos é Junge, em primeiro
plano, contando sua versão. A
história se torna mais rica, envolta
numa narrativa bastante viva, um
desabafo de Traudl Junge, ou uma
catarse: é perceptível sua necessidade de limpar a consciência.
Ela podia ter sido uma heroína,
mas tampouco foi uma criminosa
de guerra. Sua culpa maior foi
conseguir, na hora e no lugar errados, o que no Brasil chamamos
de "uma boa colocação". Nada
justifica tal sentimento de culpa.
Mas ele rendeu uma boa história.
Eu Fui a Secretária de Hitler
Im Toten Winkel - Hitlers Sekretärin
Direção: Othmar Schmiderer e André
Heller
Produção: Áustria, 2001
Com: Traudl Junge
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco 1
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