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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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"EU FUI A SECRETÁRIA DE HITLER"

Narrativa envolvente absolve Traudl Junge

Desabafo de uma consciência culpada rende boa história

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Ninguém espere de "Eu Fui a Secretária de Hitler" as muitas coisas que o título pode sugerir. Traudl Junge, a pessoa em questão, foi uma burocrata do Reich, sem convicções nacional-socialistas exaltadas, admiradora de Hitler (como quase todos os alemães do período).
Os realizadores, André Heller e Othmar Schmiderer, trataram-na com a deferência devida a uma senhora (ela morreu pouco após conceder as entrevistas que formam o filme), e não como uma possível criminosa de guerra.
Não era preciso: Junge sentia-se, ou dizia sentir-se, um pouco como tal, por ser alienada, em suas palavras, por não ter percebido o que se passava à sua volta, o que seu patrão causava ao mundo naquele instante (ela trabalha para Hitler entre 1942 e 1945).
Sua tarefa de secretária (era uma de várias) a colocava numa posição paradoxal: estava no centro de tudo, mas num ponto cego, que não lhe permitia saber nada de relevante do que se passava, ao menos em sua descrição.
É essa posição que faz o interesse do filme. Do começo ao fim o que temos é Junge, em primeiro plano, contando sua versão. A história se torna mais rica, envolta numa narrativa bastante viva, um desabafo de Traudl Junge, ou uma catarse: é perceptível sua necessidade de limpar a consciência.
Ela podia ter sido uma heroína, mas tampouco foi uma criminosa de guerra. Sua culpa maior foi conseguir, na hora e no lugar errados, o que no Brasil chamamos de "uma boa colocação". Nada justifica tal sentimento de culpa. Mas ele rendeu uma boa história.


Eu Fui a Secretária de Hitler
Im Toten Winkel - Hitlers Sekretärin
   
Direção: Othmar Schmiderer e André Heller
Produção: Áustria, 2001
Com: Traudl Junge
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 1



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