São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Coletiva de galerias aproveita a movimentação da Bienal

"Paralela 2" tenta reafirmar a produção contemporânea

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Do ponto de vista da produção contemporânea brasileira, "Paralela 2" é a mais esperada mostra do circuito off-Bienal.
Ao contrário da primeira versão, em 2002, que contou apenas com quatro galerias na organização -Casa Triângulo, Brito Cimino, Fortes Vilaça e Luisa Strina-, quando cada marchand apresentava seus artistas em baias individuais, a exposição agora mescla os trabalhos com um sentido curatorial, a cargo de Moacir dos Anjos, diretor do Museu de Arte Moderna do Recife, e inclui outras cinco galerias: Marília Razuk, Milan Antonio, Nara Roesler, Thomas Cohn e Vermelho.
Obviamente, o objetivo principal é atrair os colecionadores, nacionais e estrangeiros, de olho na arte contemporânea brasileira em tempos de Bienal, até mesmo porque o galpão de 3.000 m2 escolhido para sediar o evento está localizado numa região de difícil acesso público.
"A exposição tem um sentido comercial, mas ela transcende o sentido de feira, já que há um reforço para o conjunto da produção, o que é um índice de amadurecimento das galerias", diz Moacir dos Anjos.
Ao mesmo tempo, o limite imposto ao curador, de apresentar todos os artistas das nove galerias, enfraquece a idéia de conjunto pois, mais do que apontar para a diversidade da produção, a exposição salienta a disparidade do que é considerado contemporâneo pelos galeristas, dificultando a função do curador em traçar eixos curatoriais.
"A mostra é um grande panorama da produção brasileira. Não escolhi os artistas e, por isso, foi difícil encontrar uma questão que aglutinasse tudo. Selecionei as obras individualmente, pela sua qualidade, dando preferência às inéditas ou pouco vistas, e aí comecei a olhar quais seriam os vizinhos." A partir desse princípio, o curador chegou a nove núcleos temáticos.
Dessa forma, mapeando-se a produção nacional a partir de uma organização comercial, a arte brasileira, hoje, aborda as seguintes questões: a cultura de massa, a representação, os campos de cor, os sistemas, o ambiente onírico, o corpo, a paisagem, cidade/espaço e pintura/pictorialismo.
"São aproximações. Ao mesmo tempo, busquei criar algumas provocações em cada módulo", explica dos Anjos, que coloca peças de Artur Barrio, por exemplo, em meio a alguns módulos, como forma de causar estranhamento. Em meio a tantas obras, ganham destaque aquelas nunca vistas e, especialmente, aquelas criadas no próprio local da exposição.
É o caso de Rivane Neuenschwander, que apresenta "Zé Carioca e Amigos", realizada numa das paredes do galpão e que reproduz, em grande formato, a estrutura de um gibi, sem as figuras, apenas com os balões de texto, que podem ser preenchidos pelo visitante com giz. A obra faz parte do núcleo dedicado à cultura de massa, onde também se encontra Marepe, outro que traz novo trabalho, "Sangue de Novela", uma mesa com calhas à volta, cheias de molho de tomate.
No módulo que aborda a representação, Nelson Leirner apresenta um trabalho produzido em 1965, mas refeito no ano passado, chamado "Matéria e Forma", um tronco de madeira ao lado de uma cadeira do mesmo material, da mesma série de seu antológico porco empalhado, que, originalmente, era visto junto com um pedaço de presunto.
Já Rosângela Rennó, presente na seção dedicada ao corpo, expõe o novo trabalho, "Estudo de Caso: Apagamento nš 1", uma mesa com imagens justapostas, com visões de ângulos distintos de um assassinato. De todos os núcleos, o da pintura/pictorialismo é o que abarca maior espaço na exposição. É natural numa exposição de galerias -a pintura, suporte com o maior poder de venda, só poderia, de fato, estar hiper-representada.


PARALELA 2. Mostra que reúne obras de 160 artistas de nove galerias paulistanas. Curadoria: Moacir dos Anjos. Onde: r. Fidêncio Ramos, 308, Vila Olímpia, São Paulo, tel. 0/xx/11/7253-2546. Quando: abertura hoje, das 15h às 18h; de terça a domingo, das 12h às 20h; até 14/11. Quanto: entrada franca.


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