São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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LIVROS

Em "Lipstick Jungle", a criadora dos personagens de "Sex and the City" abandona a caça aos homens pela busca do sucesso

Bushnell lembra que há vida depois dos 35

LOLA OGUNNAIKE
DO "NEW YORK TIMES"

No novo romance de Candace Bushnell, "Lipstick Jungle" [selva de batom], as mulheres é que mandam, pagam as contas e concorrem com os poderosos das grandes empresas norte-americanas. Estão muito longe das heroínas caça-homens de "Sex and the City", o livro anterior da escritora. Não querem que um homem as arrebate e tampouco estão contentes com a proverbial posição de grande mulher por trás de um grande homem. Na verdade, os portadores de cromossomos XY na selva de Bushnell são retratados quase sempre como fracos, inúteis ou pior, ridículos.
"As mulheres do livro compreenderam que não podem confiar completamente nos homens", diz Bushnell, sentada em uma otomana de couro cor-de-rosa em seu ensolarado apartamento de Greenwich Village, em uma tarde recente. "As mulheres precisam depender só delas mesmas".
Esse sentimento de irmãs-tomando-conta-da-parada-sozinhas é onipresente em "Lipstick Jungle", que segundo Bushnell é o mais feminista de seus trabalhos. Ela afirma, no livro, que "o sucesso e a realização pessoal é que fazem com que uma mulher brilhe". As personagens do livro lutam para se tornarem bilionárias, comprar iates, serem senhoras do universo.

Mudança de meta
Enquanto as trintonas de "Sex and the City", o livro lançado em 1996 que definiu a carreira de Bushnell, passam parte significativa de suas vidas procurando pelo Homem Certo e pelo par perfeito de sapatos de luxo, Nico O'Neilly, Victory Ford e Wendy Healy, as profissionais quarentonas, bem pagas e insanamente ambiciosas de "Lipstick Jungle", não têm tempo para ou interesse nos assuntos do coração. Precisam cuidar dos negócios.
Como editora-chefe da revista "Bonfire", Nico, casada, mãe de um filho, precisa navegar as águas repletas de tubarões da Splatch-Verner, um conglomerado editorial cuja semelhança com a Condé Nast pode ser definida como mais que passageira. Wendy, casada e mãe de três filhos, comanda a Parador Pictures, uma próspera produtora de cinema ao molde da Miramax, e Wendy, solteira convicta e estilista, dirige sua companhia de moda.
Bushnell, cujo trabalho sempre foi influenciado pelas reviravoltas de sua vida pessoal, disse que nos últimos anos ela e suas amigas passaram a conversar mais sobre outros assuntos que não homens,

Manolos e martínis
"Quando nos encontramos, não falamos mais sobre sexo e relacionamentos", disse Bushnell, que parece uma década mais jovem do que os seus 46 anos. "Falamos sobre trabalho e carreira".
Os personagens masculinos de "Lipstick Jungle" empalidecem diante das contrapartes femininas, e muitos são emasculados pelas mulheres dominadoras criadas por Bushnell. Quando um executivo da Splatch-Verner é demitido de maneira abrupta, ele começa a soluçar. Um marido que trabalha em casa e vive negligenciado, preocupado com injeções de botox e visitas ao spa, abandona sua mulher viciada em trabalho, mas não sem antes levar as crianças a esvaziar a conta conjunta. Nico põe fim ao seu tórrido caso com um modelo de roupas de baixo da Calvin Klein pagando US$ 5.000 para que ele se vá sem alarde.

Troca de papéis
"O que tentei fazer com minhas personagens foi colocá-las na mesma situação em que homens ricos e poderosos muitas vezes se vêem", disse Bushnell. "Fico fascinada em imaginar como é ser mulher em uma dessas posições poderosas, porque a verdade é que não existe uma orientação clara sobre a maneira pela qual você deveria se comportar. Da mesma forma que a sociedade precisa reavaliar suas idéias sobre a feminilidade e sobre aquilo que as mulheres podem fazer, nós mulheres também precisamos conduzir uma reavaliação".
O romance já atraiu críticas controversas. A "Publisher's Weekly" prevê que a história de Bushnell "vá fazer com que os leitores não larguem o livro", enquanto o "Daily News", de sua parte, afirmou que "ela não está à altura de pregar o evangelho do poder feminino sem soar como se tivesse aberto a velha gaveta das reclamações".

Pós-feminismo
Bushnell, que fala em sentenças longas e enérgicas, disse que não estava encorajando as mulheres a queimar seus sutiãs La Perla. "Na verdade, falo da luta por realização pessoal, da luta por acreditar em você mesma apesar dos obstáculos que a sociedade impõe às mulheres", diz. "Como viver de acordo com os nossos próprios valores? É uma questão que afeta a todas nós".
Faz mais de uma década que Bushnell começou a escrever sua coluna "Sex and the City", no "New York Observer".
Vestida com uma saia rosada Oscar de la Renta, uma blusa de seda e usando sapatos Christian Dior, Bushnell relembra os anos em que a vida não era tão suntuosa e ela dormia em um sofá-cama em um apartamento apertado no Upper East Side. "Eu realmente enfrentei dificuldades quanto tinha 20 e 30 anos", disse. "Eu lutava por dinheiro, lutava para ser levada a sério".
Aos 26, Bushnell diz que era "a típica mulher confusa de seus 20 e poucos anos, tentando manter a cabeça acima d'água". Aos 36, passou a ser Carrie Bradshaw. "Eu tive todas essas aventuras", diz. "Mas continuava tentando apostar no seguro, ou sonhando que o Homem Certo chegaria para me salvar. Era uma idéia que eu não abandonava".
Mesmo depois de chegar ao sucesso e à estabilidade financeira, com a publicação em livro de suas colunas no "Observer" e a transformação do texto em uma série de sucesso pela HBO, Bushnell diz que ainda sentia um vazio. "Lembro de quando recebi as primeiras cópias de "Sex and the City'", afirma. "Estava sozinha, e chorei".
Não eram lágrimas de alegria. "Mr. Big acabara de me largar por outra mulher", diz. "Eu enfim havia realizado o sonho da minha vida e só conseguia pensar que estava sozinha, não tinha com quem dividir".

O Homem Certo
Depois de décadas de namoros com homens conhecidos como Gordon Parks, Bob Guccione Jr. e Ronald A. Galotti (ex-editor de revistas e o Mr. Big na vida real), ela agora está casada com Charles Askegard, um dos astros do balé da cidade de Nova York.
Askegard, que circulava pelo apartamento na tarde da entrevista usando calções brancos de tênis e uma camiseta listrada justa, é uma década mais novo que sua mulher. Embora ele use o collant, na família, Bushnell diz que não é ela que usa as calças.
"Creio que ambos sentimos que somos iguais, e realmente parceiros", disse. O único barulho de pezinhos correndo em sua casa vem de Betsy, seu labrador preto.
"Se é certo para você ter filhos, você terá filhos", diz Bushnell. "Há muitas maneiras diferentes de ter filhos. Ao mesmo tempo, eu não acho que seja certo dizer a uma mulher que ela precisa ter filhos para se sentir realizada".
Bushnell diz que gostaria que as mulheres terminassem seu livro se sentindo tanto inspiradas quanto atônitas por a vida não terminar depois dos 35. "Tanta coisa pode acontecer a você depois dos 40", disse. "E nem tudo talvez seja bom. Algumas coisas provavelmente serão ruins, mas algumas serão realmente ótimas".


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