|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
Em "Lipstick Jungle", a criadora dos personagens de "Sex and the City" abandona a caça aos homens pela busca do sucesso
Bushnell lembra que há vida depois dos 35
LOLA OGUNNAIKE
DO "NEW YORK TIMES"
No novo romance de Candace
Bushnell, "Lipstick Jungle" [selva
de batom], as mulheres é que
mandam, pagam as contas e concorrem com os poderosos das
grandes empresas norte-americanas. Estão muito longe das heroínas caça-homens de "Sex and the
City", o livro anterior da escritora.
Não querem que um homem as
arrebate e tampouco estão contentes com a proverbial posição
de grande mulher por trás de um
grande homem. Na verdade, os
portadores de cromossomos XY
na selva de Bushnell são retratados quase sempre como fracos,
inúteis ou pior, ridículos.
"As mulheres do livro compreenderam que não podem confiar completamente nos homens",
diz Bushnell, sentada em uma
otomana de couro cor-de-rosa
em seu ensolarado apartamento
de Greenwich Village, em uma
tarde recente. "As mulheres precisam depender só delas mesmas".
Esse sentimento de irmãs-tomando-conta-da-parada-sozinhas é onipresente em "Lipstick
Jungle", que segundo Bushnell é o
mais feminista de seus trabalhos.
Ela afirma, no livro, que "o sucesso e a realização pessoal é que fazem com que uma mulher brilhe". As personagens do livro lutam para se tornarem bilionárias,
comprar iates, serem senhoras do
universo.
Mudança de meta
Enquanto as trintonas de "Sex
and the City", o livro lançado em
1996 que definiu a carreira de
Bushnell, passam parte significativa de suas vidas procurando pelo Homem Certo e pelo par perfeito de sapatos de luxo, Nico
O'Neilly, Victory Ford e Wendy
Healy, as profissionais quarentonas, bem pagas e insanamente
ambiciosas de "Lipstick Jungle",
não têm tempo para ou interesse
nos assuntos do coração. Precisam cuidar dos negócios.
Como editora-chefe da revista
"Bonfire", Nico, casada, mãe de
um filho, precisa navegar as águas
repletas de tubarões da Splatch-Verner, um conglomerado editorial cuja semelhança com a Condé
Nast pode ser definida como mais
que passageira. Wendy, casada e
mãe de três filhos, comanda a Parador Pictures, uma próspera
produtora de cinema ao molde da
Miramax, e Wendy, solteira convicta e estilista, dirige sua companhia de moda.
Bushnell, cujo trabalho sempre
foi influenciado pelas reviravoltas
de sua vida pessoal, disse que nos
últimos anos ela e suas amigas
passaram a conversar mais sobre
outros assuntos que não homens,
Manolos e martínis
"Quando nos encontramos, não
falamos mais sobre sexo e relacionamentos", disse Bushnell, que
parece uma década mais jovem
do que os seus 46 anos. "Falamos
sobre trabalho e carreira".
Os personagens masculinos de
"Lipstick Jungle" empalidecem
diante das contrapartes femininas, e muitos são emasculados pelas mulheres dominadoras criadas por Bushnell. Quando um
executivo da Splatch-Verner é demitido de maneira abrupta, ele
começa a soluçar. Um marido que
trabalha em casa e vive negligenciado, preocupado com injeções
de botox e visitas ao spa, abandona sua mulher viciada em trabalho, mas não sem antes levar as
crianças a esvaziar a conta conjunta. Nico põe fim ao seu tórrido
caso com um modelo de roupas
de baixo da Calvin Klein pagando
US$ 5.000 para que ele se vá sem
alarde.
Troca de papéis
"O que tentei fazer com minhas
personagens foi colocá-las na
mesma situação em que homens
ricos e poderosos muitas vezes se
vêem", disse Bushnell. "Fico fascinada em imaginar como é ser mulher em uma dessas posições poderosas, porque a verdade é que
não existe uma orientação clara
sobre a maneira pela qual você
deveria se comportar. Da mesma
forma que a sociedade precisa
reavaliar suas idéias sobre a feminilidade e sobre aquilo que as mulheres podem fazer, nós mulheres
também precisamos conduzir
uma reavaliação".
O romance já atraiu críticas
controversas. A "Publisher's
Weekly" prevê que a história de
Bushnell "vá fazer com que os leitores não larguem o livro", enquanto o "Daily News", de sua
parte, afirmou que "ela não está à
altura de pregar o evangelho do
poder feminino sem soar como se
tivesse aberto a velha gaveta das
reclamações".
Pós-feminismo
Bushnell, que fala em sentenças
longas e enérgicas, disse que não
estava encorajando as mulheres a
queimar seus sutiãs La Perla. "Na
verdade, falo da luta por realização pessoal, da luta por acreditar
em você mesma apesar dos obstáculos que a sociedade impõe às
mulheres", diz. "Como viver de
acordo com os nossos próprios
valores? É uma questão que afeta
a todas nós".
Faz mais de uma década que
Bushnell começou a escrever sua
coluna "Sex and the City", no
"New York Observer".
Vestida com uma saia rosada
Oscar de la Renta, uma blusa de
seda e usando sapatos Christian
Dior, Bushnell relembra os anos
em que a vida não era tão suntuosa e ela dormia em um sofá-cama
em um apartamento apertado no
Upper East Side. "Eu realmente
enfrentei dificuldades quanto tinha 20 e 30 anos", disse. "Eu lutava por dinheiro, lutava para ser levada a sério".
Aos 26, Bushnell diz que era "a
típica mulher confusa de seus 20 e
poucos anos, tentando manter a
cabeça acima d'água". Aos 36,
passou a ser Carrie Bradshaw. "Eu
tive todas essas aventuras", diz.
"Mas continuava tentando apostar no seguro, ou sonhando que o
Homem Certo chegaria para me
salvar. Era uma idéia que eu não
abandonava".
Mesmo depois de chegar ao sucesso e à estabilidade financeira,
com a publicação em livro de suas
colunas no "Observer" e a transformação do texto em uma série
de sucesso pela HBO, Bushnell diz
que ainda sentia um vazio. "Lembro de quando recebi as primeiras
cópias de "Sex and the City'", afirma. "Estava sozinha, e chorei".
Não eram lágrimas de alegria.
"Mr. Big acabara de me largar por
outra mulher", diz. "Eu enfim havia realizado o sonho da minha
vida e só conseguia pensar que estava sozinha, não tinha com
quem dividir".
O Homem Certo
Depois de décadas de namoros
com homens conhecidos como
Gordon Parks, Bob Guccione Jr. e
Ronald A. Galotti (ex-editor de revistas e o Mr. Big na vida real), ela
agora está casada com Charles
Askegard, um dos astros do balé
da cidade de Nova York.
Askegard, que circulava pelo
apartamento na tarde da entrevista usando calções brancos de tênis
e uma camiseta listrada justa, é
uma década mais novo que sua
mulher. Embora ele use o collant,
na família, Bushnell diz que não é
ela que usa as calças.
"Creio que ambos sentimos que
somos iguais, e realmente parceiros", disse. O único barulho de
pezinhos correndo em sua casa
vem de Betsy, seu labrador preto.
"Se é certo para você ter filhos,
você terá filhos", diz Bushnell.
"Há muitas maneiras diferentes
de ter filhos. Ao mesmo tempo, eu
não acho que seja certo dizer a
uma mulher que ela precisa ter filhos para se sentir realizada".
Bushnell diz que gostaria que as
mulheres terminassem seu livro
se sentindo tanto inspiradas
quanto atônitas por a vida não
terminar depois dos 35. "Tanta
coisa pode acontecer a você depois dos 40", disse. "E nem tudo
talvez seja bom. Algumas coisas
provavelmente serão ruins, mas
algumas serão realmente ótimas".
Texto Anterior: Visuais: Titi Freak "invade" e "desorganiza" galeria Próximo Texto: 33º "Asterix" é anunciado com pompa Índice
|