São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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33º "Asterix" é anunciado com pompa

JEAN-PIERRE STROOBANTS
DO "LE MONDE"

Um menir de seis toneladas na Grand-Place de Bruxelas, transformada em aldeia gaulesa; um banquete histórico, um cortejo de gigantes, um selo e uma moeda lançados para celebrar a ocasião; dois aviões da linha aérea SN Belgium decorados com os heróis franceses dos quadrinhos: a publicidade orquestrada para o lançamento do 33º título das aventuras de Asterix e Obelix é sutil como um rebanho de javalis dopados com poção mágica.
Apoiada pelo governo municipal e inumeráveis patrocinadores privados, a Editions Albert-René pensou grande, como se Harry Potter tivesse chegado ao país do Tintin e do Manneken Pis vestido de Obelix para a ocasião.
Uma exposição de 2.000 m2 destacando 44 inéditos de Uderzo e 1.800 objetos ligados à série de quadrinhos também abriu as portas no centro Tours et Taxis, uma antiga fábrica da cidade. Em 2006, a mostra segue para Lyon, capital dos gauleses, e depois para outros países da Europa e para Montreal.
Resta o essencial: o livro em si. Confirmando que essa operação gigantesca de marketing, que pretensamente tem funções apenas celebratórias, não é mais que uma produção com fins comerciais, a editora só mostrou a capa do trabalho, na última quarta-feira, durante uma entrevista coletiva com Albert Uderzo. Os jornalistas não puderam ver mais que uma reprodução da capa, que retoma o desenho do primeiro título da série "Asterix". O novo livro se chama "Le Ciel Lui Tombe Sur La Tête" [o céu cai sobre sua cabeça], na versão francesa, e "A Arma Secreta", na versão flamenga.
A estratégia de promoção adotada ocultou todos os detalhes sobre a história até 14 de outubro, data em que oito milhões de exemplares -3,1 milhões dos quais em francês- chegarão ao varejo em toda a Europa.
Visivelmente incomodado pelos jornalistas que queriam saber por que a apresentação do novo trabalho não havia sido realizada na data do lançamento, Uderzo enrolou: "Boa pergunta, mas não posso dizer mais nada, infelizmente", disse ele, voltando-se na direção de Bernard de Choisy, curador da exposição e seu genro.
"Não viemos aqui para vender, mas para comemorar. Vocês conhecerão o conteúdo mais tarde", explicou Choisy. Segundo os editores, era preciso "reservar a surpresa ao leitor". Os jornalistas só foram informados que o 33º livro era "um tanto diferente" e que a ação não se passava no Japão.
Aos jornalistas, só restava perguntar por que esse vasto plano de comunicação estava sendo implementado na capital da Bélgica e da Europa. Segundo Choisy, o governo municipal da cidade provou ser "o mais maluco" entre os contactados na Europa.
Sem esquecer, como escrevem os organizadores, que era conveniente fugir "à pressão dos centuriões modernos que estabeleceram o politicamente correto" e, aparentemente, não estendem suas atividades repressivas à Bélgica.


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