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Pulhas foram notáveis
da Equipe de Articulistas
Para as novas gerações, Kirk
Douglas, 80, talvez não seja mais
do que o pai do grande coadjuvante tornado megaestrela Michael
Douglas ("Instinto Selvagem").
Há 40 anos, contudo, Kirk carregava o furinho no queixo talvez
mais célebre do Ocidente.
Ao contrário do filho, Kirk jamais se contentou em buscar papéis que o identificassem com o
homem americano médio. Não há
nenhum exagero em sua declaração de que fez carreira "interpretando filhos da puta".
Não foi sempre assim, certo.
Basta lembrá-lo nos dois filmes
que estrelou e produziu sob a batuta de Stanley Kubrick, "Glória
Feita de Sangue" (1957) e "Spartacus" (1960), em que interpreta,
respectivamente, um militar honrado e o gladiador rebelado contra
a escravidão no Império Romano.
Houve ainda seu Van Gogh para
Minelli em "Sede de Viver" (1956)
e, num exemplo mais recente, o
pai que salva o filho em "A Fúria"
(1978), de Brian De Palma.
Mas Kirk Douglas superou-se
mesmo ao personificar acabados
canalhas. Em "O Campeão"
(1949), seu boxeador Midge Kelly
era um herói nos ringues e um escroque fora deles. Valeu-lhe a primeira das três indicações ao Oscar,
prêmio que só recebeu em 96, ainda assim de forma honorária.
Não parece demais creditar a demora ao tradicional conservadorismo da Academia. Poucos ousaram interpretar pulhas com tamanha convicção quanto Douglas.
Um deles, aliás, golpeando o próprio coração de Hollywood.
Como o produtor Jonathan
Shields de "Assim Estava Escrito"
(1952), de Minnelli, Kirk parecia
cuspir no prato em que comia, retratando a escória na indústria.
A única regra é o sucesso a qualquer preço, numa dimensão que
torna o megaespeculador Gordon
Gekko criado por seu filho Michael em "Wall Street" (1987) um
aliado de dom Paulo Evaristo. Para
a composição de Shields, Kirk já se
graduara em "A Montanha dos
Sete Abutres" (1951), de Billy Wilder. Seu Charles Tatum é o paradigma do repórter inescrupuloso,
capaz de sacrificar uma vida em
troca de uma boa história.
Nem mesmo buscando heróis
em Homero (Ulisses) e Jules Verne
(Ned Land) Douglas se libertaria
da sombra de Tatum e Shields. Na
sua galeria de tipos inesquecíveis,
foram eles que vieram para ficar.
(AMIR LABAKI)
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