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LITERATURA
Um dos mais populares escritores britânicos tem lançada a continuação de seu sucesso anterior, "Pai e Filho"
Parsons explora os segredos de família
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Adultos são, afinal de contas,
crianças que apenas querem acreditar em histórias. É por isso que a
banda Libertines, "O Código Da
Vinci", "O Senhor dos Anéis", a
artista plástica Tracey Emin e Zeca Pagodinho são o fenômeno
que são. Junte a eles Tony Parsons, que definiu a frase inicial
deste texto.
Relativamente desconhecido no
Brasil, o inglês Parsons, nascido
em 1955, é um dos maiores best-sellers europeus dos últimos anos
-seu primeiro livro lançado por
aqui, "Pai e Filho", foi comprado
por mais de 3 milhões de pessoas
em todo o mundo.
O novo romance, "Marido &
Mulher", é a continuação de "Pai
e Filho". "O final de "Pai e Filho"
era como metade da história.
Harry [o "pai"] fica junto da mulher que ama, mas como essa relação segue? Eles estão felizes? Como está a mãe de Harry, que perdeu o homem que amava? Havia
muitas linhas narrativas interessantes a destrinchar, e os leitores
de "Pai e Filho" queriam saber o
que acontecia com os personagens", diz Parsons em entrevista à
Folha, por e-mail.
Em "Marido & Mulher", Harry,
um produtor de programas de
TV, agora está junto de Cyd, que
conhecera no livro anterior.
Harry tem um filho pequeno, Pat,
de seu primeiro casamento, com
Gina. Cyd tem uma filha, Peggy. O
livro é basicamente a história dessa teia de relacionamentos de
Harry: a angústia de não poder
acompanhar de perto o crescimento do filho, a incerteza sobre
Cyd, as dificuldades com Peggy...
É um pouco (ou muito...) relacionado à própria vida do autor.
Parsons iniciou carreira escrevendo para o semanário musical
"NME", em 1977 -ano do estouro do punk-, aos 22 anos. Logo
depois casou-se com outra jornalista da publicação, Julie Burchill.
Os dois iriam depois para a dita
"imprensa séria" -Parsons é hoje um dos três colunistas mais lidos do Reino Unido, no jornal
"Daily Mirror"; Burchill passou
pelo "Guardian" e "Times".
Assim como Harry, Parsons
também tem um filho de um casamento desfeito e também tem
um pai que morreu vítima de câncer. "Este livro não foi inteiramente baseado em minha vida,
apenas partes dele, mas os leitores
gostam de acreditar que tudo o
que está ali realmente aconteceu
comigo. Somos como crianças
que querem acreditar em histórias. Eu vivo nos meus sonhos, então os utilizo tanto quanto o que
acontece na vida real."
Muito da temática de "Marido
& Mulher" esteve nos outros livros de Parsons. E os críticos caíram em cima. "Gosto de escrever
sobre famílias; me fascina. Me interesso em saber o que significa
ser pai de alguém, filho de alguém, marido ou mulher de alguém. Não me importo com o
que dizem os críticos -eles geralmente são escritores frustrados.
Quero saber o que pensam meus
leitores, e parece que eles têm famílias!", brinca.
Uma outra crítica: a escrita despretensiosa e ágil de Parsons não
se encaixaria no termo literatura.
"Não ligo para literatura -ligo
para histórias. Literatura é coisa
para professores e estudantes
-os poucos que existem. Além
disso, os jornais e TVs britânicos
são um esgoto cheio de veneno e
sujeira. Mas alguns dos ratos nesse esgoto são engraçados, e é divertido escrever sobre eles."
Parsons é, também, comparado
a Nick Hornby, outro britânico
que alcança os primeiros lugares
das listas de mais vendidos com
temas como relacionamentos e
frustrações. "Nick Hornby é um
amigo e um vizinho -fico feliz
em ser comparado a ele, pois ele é
bom. Mas somos diferentes. Passei por um monte de coisas muito
cedo -meus pais morreram, casei e tive filho aos 20, aos 30 era divorciado, pai solteiro... isso formatou o meu trabalho."
MARIDO & MULHER. Autor: Tony
Parsons. Editora: Sextante. Quanto: R$
29,90 (341 págs.).
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