São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA

Um dos mais populares escritores britânicos tem lançada a continuação de seu sucesso anterior, "Pai e Filho"

Parsons explora os segredos de família

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Adultos são, afinal de contas, crianças que apenas querem acreditar em histórias. É por isso que a banda Libertines, "O Código Da Vinci", "O Senhor dos Anéis", a artista plástica Tracey Emin e Zeca Pagodinho são o fenômeno que são. Junte a eles Tony Parsons, que definiu a frase inicial deste texto.
Relativamente desconhecido no Brasil, o inglês Parsons, nascido em 1955, é um dos maiores best-sellers europeus dos últimos anos -seu primeiro livro lançado por aqui, "Pai e Filho", foi comprado por mais de 3 milhões de pessoas em todo o mundo.
O novo romance, "Marido & Mulher", é a continuação de "Pai e Filho". "O final de "Pai e Filho" era como metade da história. Harry [o "pai"] fica junto da mulher que ama, mas como essa relação segue? Eles estão felizes? Como está a mãe de Harry, que perdeu o homem que amava? Havia muitas linhas narrativas interessantes a destrinchar, e os leitores de "Pai e Filho" queriam saber o que acontecia com os personagens", diz Parsons em entrevista à Folha, por e-mail.
Em "Marido & Mulher", Harry, um produtor de programas de TV, agora está junto de Cyd, que conhecera no livro anterior. Harry tem um filho pequeno, Pat, de seu primeiro casamento, com Gina. Cyd tem uma filha, Peggy. O livro é basicamente a história dessa teia de relacionamentos de Harry: a angústia de não poder acompanhar de perto o crescimento do filho, a incerteza sobre Cyd, as dificuldades com Peggy...
É um pouco (ou muito...) relacionado à própria vida do autor. Parsons iniciou carreira escrevendo para o semanário musical "NME", em 1977 -ano do estouro do punk-, aos 22 anos. Logo depois casou-se com outra jornalista da publicação, Julie Burchill. Os dois iriam depois para a dita "imprensa séria" -Parsons é hoje um dos três colunistas mais lidos do Reino Unido, no jornal "Daily Mirror"; Burchill passou pelo "Guardian" e "Times".
Assim como Harry, Parsons também tem um filho de um casamento desfeito e também tem um pai que morreu vítima de câncer. "Este livro não foi inteiramente baseado em minha vida, apenas partes dele, mas os leitores gostam de acreditar que tudo o que está ali realmente aconteceu comigo. Somos como crianças que querem acreditar em histórias. Eu vivo nos meus sonhos, então os utilizo tanto quanto o que acontece na vida real."
Muito da temática de "Marido & Mulher" esteve nos outros livros de Parsons. E os críticos caíram em cima. "Gosto de escrever sobre famílias; me fascina. Me interesso em saber o que significa ser pai de alguém, filho de alguém, marido ou mulher de alguém. Não me importo com o que dizem os críticos -eles geralmente são escritores frustrados. Quero saber o que pensam meus leitores, e parece que eles têm famílias!", brinca.
Uma outra crítica: a escrita despretensiosa e ágil de Parsons não se encaixaria no termo literatura. "Não ligo para literatura -ligo para histórias. Literatura é coisa para professores e estudantes -os poucos que existem. Além disso, os jornais e TVs britânicos são um esgoto cheio de veneno e sujeira. Mas alguns dos ratos nesse esgoto são engraçados, e é divertido escrever sobre eles."
Parsons é, também, comparado a Nick Hornby, outro britânico que alcança os primeiros lugares das listas de mais vendidos com temas como relacionamentos e frustrações. "Nick Hornby é um amigo e um vizinho -fico feliz em ser comparado a ele, pois ele é bom. Mas somos diferentes. Passei por um monte de coisas muito cedo -meus pais morreram, casei e tive filho aos 20, aos 30 era divorciado, pai solteiro... isso formatou o meu trabalho."


MARIDO & MULHER. Autor: Tony Parsons. Editora: Sextante. Quanto: R$ 29,90 (341 págs.).


Texto Anterior: Crítica: Documentário "comportado" mostra nicho do punk contra a corrente
Próximo Texto: Bernardo Carvalho: Michael Moore da vida privada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.