São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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O drum'n'bass não morreu

Estilo de batidas quebradas, que destaca linhas de baixo e bateria, volta a lotar pistas de clubes descolados; Marky e Andy defendem renovação

Andre Porto/Folha Imagem
DJ Marky nos toca-discos na festa Vibe, no clube Lov.e


ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Você não está sonhando. Este jornal é sim de 2006, e não de 1999 ou 2000. E, sim, o drum'n'bass (d+b, para iniciados) voltou a movimentar a noite, com pistas cheias, filas na porta de clubes descolados e top DJs de outras praias, como Mau Mau, tocando em festas dedicadas ao estilo.
Em parte, o responsável pelo revival é DJ Marky, 33, estrela do drum'n'bass no Brasil e no exterior. Entretanto, não foi só por ter retomado, há um mês, sua clássica noite Vibe, na boate Lov.e, que Marky deu o empurrão que faltava para o d+b voltar a ser notícia.
O fim da festa, há um ano, por falta de público, também foi decisivo para dar um novo gás à cena. "Sempre deixei claro que o drum'n'bass não girava em torno do DJ Marky ou da festa do Marky. Cada um tem que fazer a sua parte", fala o próprio.
E foi exatamente isso o que ocorreu. Com o fim da noite, DJ Andy, 30, outro bamba do gênero, assumiu a responsa de manter o d+b nas pistas e emplacou o projeto Subgrave, que acontece quinzenalmente, aos domingos, no D-Edge.
"Quando o Marky parou de fazer a Vibe, meu trabalho foi o de não deixar ficar sem nada de drum'n'bass em São Paulo", conta Andy, que antes de conseguir a residência no D-Edge passou por três outras casas.
Sua matinê deu tão certo que outro projeto de d+b, o 30HZ, dos DJs Mari Rossi e Jr. Deep (da dupla Drumagick), passou a se revezar com o Subgrave nos domingos do D-Edge.

Renovação
Ainda que, como aponta Andy, festas de outras vertentes da eletrônica, como o tecno e a house, também não estejam "tão cheias", é um mistério porque, com tantos fãs, o d+b tenha ficado um tempo apagado.
Sua popularidade se mede em números: nos últimos sete anos, o espaço dedicado a ele no festival Skol Beats é, de longe, o mais cheio. Em 2006, 57 mil pessoas foram ao evento e lotaram a tenda "Marky&Friends".
Mas, mesmo no auge, lembra Andy, só havia "umas três festas de d+b na cidade". Para ele, os donos dos clubes têm preconceito -"talvez porque o drum'n'bass seja um estilo que veio da periferia". "Eles querem sempre ceder uma quinta ou um domingo. Nunca sexta ou sábado. Mas, mesmo assim, acabou rolando e voltou a ficar em evidência."
A desgastada fórmula drum'n'bass + bossa nova/samba, que entrou em trilha sonora de novela e levou Marky e Xerxes ao 17º lugar da parada inglesa de singles (com a música "Carolina Carol Bela"), também foi responsável por afastar os clubbers das festas.
Para Andy, no entanto, essa estagnação é falsa. "Depois da saturação do mix com a música brasileira, a mídia não deu mais atenção. Achou que não tinha nada de novo", acredita.
Ele defende que o d+b continuou se renovando. "Voltaram com força as misturas com reggae e rock, além de outras com levada de funk e da soul music", diz o DJ. A prova de que o d+b é um dos estilos que mais se adapta a outros ritmos, afirma Andy, é a Subgrave, onde toca de tudo. "Abro espaço para DJs como Mau Mau, Pedrinho Dubstrong e Camilo Rocha mostrarem fusões."
Outra noite que tem feito sucesso apostando em misturas é a 8 Ball, que há três anos acontece no inusitado Tati Snooker, casa de bilhar que fez uma pista de dança para receber fãs das batidas quebradas. "Não gosto de rótulos. Tocamos todos os estilos de drum'n'bass. Depende da pista", descreve o DJ Cesar Peralta, da dupla 2FunkyZ, criador da balada, onde também rola house.
Além das variações na pista, Marky aponta diversos novatos, como os produtores brasileiros Bungle e Cable, que estão renovando o ritmo no estúdio. "O Bungle está fazendo um sucesso incrível lá fora, sampleando desde Isaac Hayes até rock progressivo."
O próprio Marky deu um tempo na antiga parceria com Xerxes, com quem lançou o disco "In Rotation" (2003), para engatar novos trabalhos com Bungle, com quem tem feito remixes para produtores gringos e singles para DJs.

Público fiel
Com ou sem novidades, o fato é que, no último dia 12, a noite do DJ Marky estava como nos velhos (e bons tempos): lotada e com a pista fervendo.
"Para mim, o drum'n'bass nunca vai ser uma mesmice", disse à Folha Tiago Felix, 24, que segue Marky desde 1997, quando ele tocava na discoteca Toco, na Vila Matilde.
"Ele [Marky] é um DJ que movimenta muito a galera", falou Samantha Almeida, 25. "Não toca coisas comerciais e é extremante inovador. Parece que tem uma estrela dourada."


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