São Paulo, segunda, 26 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELÂMPAGOS
Um cara de Zeus

JOÃO GILBERTO NOLL

Por que me chamavam novamente se eu não tinha mais o que dizer? Não achava inclusive que tinha muito mais o que viver, eu, um grego inquieto, aquele figurante em "Desprezo" do Godard, e que agora, vivendo no Brasil, entrara nessa encrenca colossal. A cela aberta, um homem falou que eu seria deportado. Devolveu meu passaporte. Abri: não era eu, mas alguém bem parecido na fisionomia e no nome. "Anda", falou um guarda, louco por uma última porrada. Sobrevoando o Atlântico, eu ia pedindo a Zeus que me transportasse, o mais depressa possível, para longe do cara que se apossara de mim.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.