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RELÂMPAGOS
Um cara de Zeus
JOÃO GILBERTO NOLL
Por que me chamavam
novamente se eu não tinha
mais o que dizer? Não achava inclusive que tinha muito
mais o que viver, eu, um
grego inquieto, aquele figurante em "Desprezo" do Godard, e que agora, vivendo
no Brasil, entrara nessa encrenca colossal. A cela aberta, um homem falou que eu
seria deportado. Devolveu
meu passaporte. Abri: não
era eu, mas alguém bem parecido na fisionomia e no
nome. "Anda", falou um
guarda, louco por uma última porrada. Sobrevoando o
Atlântico, eu ia pedindo a
Zeus que me transportasse,
o mais depressa possível,
para longe do cara que se
apossara de mim.
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