São Paulo, segunda, 26 de outubro de 1998

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Paixão de Joana DŽArc

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Sobre "A Paixão de Joana D'Arc" (1928), tudo já foi dito. Da interpretação radical de Maria Falconetti no papel-título à insistência igualmente radical nos closes dos rostos sem maquiagem, da cenografia despojada à atuação de Antonin Artaud (como um monge solidário com Joana), todos os aspectos dessa obra-prima foram longamente debatidos por críticos de todo o mundo.
Mas um pouco de informação nunca é demais. Nono longa-metragem de Dreyer, "A Paixão de Joana D'Arc" -também chamado "O Martírio de Joana D'Arc"- foi realizado na França em 1928.
O diretor rejeitou o roteiro de Joseph Delteil e ateve-se às atas do processo de Joana D'Arc.
Concentrou num único dia, entretanto, as várias sessões do julgamento da heroína, condenada à fogueira como herege pela Igreja.
A produção do filme demorou oito meses. O mais trabalhoso foi a reconstituição, em concreto, do castelo de Rouen. Foram utilizadas paredes móveis, de modo a facilitar os movimentos de câmera e enquadramentos.
Respondendo a ressalvas dos críticos, que consideraram anacrônicos os capacetes dos soldados ingleses e os óculos de tartaruga de um monge, Dreyer mostrou gravuras de época em que aparecem tais acessórios. Os grandes trunfos estéticos do filme são a fotografia, de Rudolph Maté, e a montagem, do próprio Dreyer.
Em "A Paixão de Joana D'Arc", a luz não é apenas mais um fator de composição do quadro. Ela é o tema central, senão único.
Não é por acaso que a imagem-síntese do filme é a do rosto de Joana voltado para cima, banhado de luz: a iluminação material coincide com a iluminação espiritual, fundo e figura se confundem.
Se em algum momento fez sentido a frase de Abel Gance segundo a qual "o cinema é a música da luz", esse momento chama-se "A Paixão de Joana D'Arc".
Até por isso, Dreyer tinha razão ao protestar contra a trilha musical que foi acrescentada a seu filme em 1952 (mantida na fita agora lançada em vídeo). Nada contra os compositores escolhidos (Bach, Albinoni, Beethoven). Mas aquela não era a "sua" música. O melhor a fazer é tirar o som da TV e deixar-se embalar pelo silêncio melodioso do cinema de Dreyer.
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Vídeo: A Paixão de Joana D'Arc Direção: Carl T. Dreyer Elenco: Maria Falconetti, Michel Simon, Antonin Artaud, Eugene Silvain Lançamento: Continental


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