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"O ANO APÓS DAYTON"
Filme traz melancolia pós-guerra na Bósnia
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha
A Guerra do Golfo (1991) transmitida pela televisão foi um marco, não tanto por sua competência
ou eficácia, mas por alterar certos
pressupostos sobre o registro da
realidade imediata. O documentário repensou então como filmar
tais temas.
"O Ano Após Dayton" dá alguns
exemplos. Não centra fogo no
Oriente Médio. Aponta a mira de
sua lente para um conflito bélico
menos hollywoodiano porém mais
horrendo: a guerra da Bósnia.
O filme retrata o primeiro ano de
paz na Bósnia, graças ao Acordo de
Dayton (1996), que encerrou três
anos de guerra na região.
Entre destroços e covas, pessoas
da Federação Muçulmano-croata e
da República Sérvia (deslocadas e
excluídas de casa e pátria) tentam
voltar a viver.
Em vez dos comprimidos minutos de notícia (ininterruptos ou
dispersos nos intervalos comerciais), o filme tem três horas e vinte
minutos de duração em longos
planos-sequência (divididos em
duas categorias).
²
Gente comum
Uma delas exibe entrevistas com
gente comum falando direto para a
câmera; outra mostra sua vida em
contínuos movimentos intransitivos (aparentemente sem alvo).
O filme oscila, eloquentemente,
entre momentos verbais e visuais.
Podemos seguir a caminhada da
mulher nos escombros, a litania
circular do muezim.
Os discursos verbais testemunham a situação e fazem contraponto a uma composição privilegiada pelo filme: a câmera que segue alguém (carregando um carrinho de tijolos ou caminhando numa carroça).
Apesar do desespero melancólico das falas (e das imagens), essa
relação sugere certa expectativa teleológica no futuro, pois a estrada
é promessa de um possível processo redentor.
Sem os arroubos engajados de
Susan Sontag, Henry Lévy ou Godard na questão Sarajevo, e também sem a elegância impertinente
de Marcel Ophuls em seus "documonumentais", o diretor austríaco
Nikolaus Geyrhalter põe seu filme
à serviço de uma causa, com precisa parcimônia partidária.
Frente a uma realidade insuportável, o documentário parece às
vezes preferir adotar as regras cinematográficas da transparência e
uma postura respeitosa -ainda
que se permita algumas discretas
ironias.
²
Quando: amanhã, às 12h, no Cinearte
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