São Paulo, Sexta-feira, 26 de Novembro de 1999


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CINEMA - ESTRÉIAS
"Coração" reúne aventura, fantasia e história

PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha

Bandeirantes do século 17, tesouros, índios, garimpeiros, rock, história, Mike Patton, Sepultura e Tocantins. Um barril de pólvora?
No mundo do diretor Geraldo Moraes, não. Pelo menos foi o que ele disse à Folha, às vésperas do lançamento em circuito nacional de "No Coração dos Deuses".
Ele negociou com índios, resgatou seu gosto pelas bandeiras e história do Brasil, aceitou que o merchandising ancorasse no longa, enfim, fez seu filme ao gosto.
O roteiro escrito por Moraes fala sobre um grupo de homens que tenta encontrar Martírios, local onde duas bandeiras se fixaram, repleto de tesouros. Acabam enfrentando índios selvagens, voltam no tempo e, pior, enfrentam os verdadeiros bandeirantes.
O projeto de Moraes lhe custou cinco anos, três deles em pesquisas. Baseou-se no pesquisador Manoel Rodrigues Ferreira, que buscou Martírios por anos, ao lado do rio Araguaia, Tocantins.
Geraldo Moraes negociou com os índios da região, os krahó. Eles construíram a aldeia cenográfica e, após as filmagens, ficaram com ela. Trabalharam no elenco. Com tudo isso, o filme ficou orçado em "apenas" R$ 2,2 milhões, mesmo com o elenco carimbado por Antônio Fagundes, Roberto Bomfim e Cosme dos Santos.
Sobre a experiência em orçar seu filme, Moraes foi secretário do Audiovisual, em 1993, na gestão Antonio Houaiss. Lá, regulamentou essa lei de incentivo. Rodou seu primeiro longa em 1980, "A Difícil Viagem". O outro foi "Círculo de Fogo" (90), além de alguns curtas-metragens.

Folha - Por que juntar aventura, fantasia e história?
Geraldo Moraes -
Aos 13, ganhei uma coleção de livros de Paulo Setúbal, em que contava a história das bandeiras de jeito romanceado, algo que meu filme tem muito. Sempre fui cinemaníaco e tinha o sonho de rodar um filme como aquele livro. Até que meus filhos me pediram para fazer uma aventura. Tentei contar uma aventura, com efeitos e som digital, humor e tensão, sem perder o estilo brasileiro.

Folha - Como?
Moraes -
Mostrando nossa história e buscando nos livros uma solução bem original. Nada de cavernas ou cais explodindo espetacularmente e matando os personagens, algo tipicamente hollywoodiano. E deu resultado. Fiz projeções para operários, que estavam muito "down" com o desemprego e o não funcionamento do país. Meu filme dizia para se atirar porque dá pé, a tentar.

Folha - Muitos cineastas reclamam da Lei do Audiovisual.
Moraes -
Tive boa experiência com ela. Acho, apenas, que há dois grandes problemas ainda não solucionados. O primeiro é que temos apenas 5% do nosso mercado. O outro é que antes havia a Embrafilme para financiar os filmes experimentais sem dar espaço para os estritamente comerciais. Hoje é o inverso, todas as leis trabalham unicamente com o incentivo. O cinema brasileiro sempre trabalhou com uma fonte apenas; por isso opto por um meio-termo entre os dois. Com isso, há espaço para o cinema autoral e do industrial.

Folha - E o que é o cinema?
Moraes -
Minha teoria é a seguinte: o cara compra o ingresso e eu tenho de passar a ele o recado, sem uma mensagem muito cifrada. Meu filme é bem brasileiro. Não vejo Hollywood como padrão, mas sim como exceção. Estão gostando de meu filme. Muitos o definiram como um grande RPG ("role playing game").


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