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CINEMA - ESTRÉIAS
"Coração" reúne aventura, fantasia e história
PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha
Bandeirantes do século 17, tesouros, índios, garimpeiros, rock,
história, Mike Patton, Sepultura e
Tocantins. Um barril de pólvora?
No mundo do diretor Geraldo
Moraes, não. Pelo menos foi o que
ele disse à Folha, às vésperas do
lançamento em circuito nacional
de "No Coração dos Deuses".
Ele negociou com índios, resgatou seu gosto pelas bandeiras e
história do Brasil, aceitou que o
merchandising ancorasse no longa, enfim, fez seu filme ao gosto.
O roteiro escrito por Moraes fala sobre um grupo de homens que
tenta encontrar Martírios, local
onde duas bandeiras se fixaram,
repleto de tesouros. Acabam enfrentando índios selvagens, voltam no tempo e, pior, enfrentam
os verdadeiros bandeirantes.
O projeto de Moraes lhe custou
cinco anos, três deles em pesquisas. Baseou-se no pesquisador
Manoel Rodrigues Ferreira, que
buscou Martírios por anos, ao lado do rio Araguaia, Tocantins.
Geraldo Moraes negociou com
os índios da região, os krahó. Eles
construíram a aldeia cenográfica
e, após as filmagens, ficaram com
ela. Trabalharam no elenco. Com
tudo isso, o filme ficou orçado em
"apenas" R$ 2,2 milhões, mesmo
com o elenco carimbado por Antônio Fagundes, Roberto Bomfim
e Cosme dos Santos.
Sobre a experiência em orçar
seu filme, Moraes foi secretário
do Audiovisual, em 1993, na gestão Antonio Houaiss. Lá, regulamentou essa lei de incentivo. Rodou seu primeiro longa em 1980,
"A Difícil Viagem". O outro foi
"Círculo de Fogo" (90), além de
alguns curtas-metragens.
Folha - Por que juntar aventura, fantasia e história?
Geraldo Moraes - Aos 13, ganhei uma coleção de livros de
Paulo Setúbal, em que contava a
história das bandeiras de jeito romanceado, algo que meu filme
tem muito. Sempre fui cinemaníaco e tinha o sonho de rodar um
filme como aquele livro. Até que
meus filhos me pediram para fazer uma aventura. Tentei contar
uma aventura, com efeitos e som
digital, humor e tensão, sem perder o estilo brasileiro.
Folha - Como?
Moraes - Mostrando nossa história e buscando nos livros uma
solução bem original. Nada de cavernas ou cais explodindo espetacularmente e matando os personagens, algo tipicamente hollywoodiano. E deu resultado. Fiz
projeções para operários, que estavam muito "down" com o desemprego e o não funcionamento
do país. Meu filme dizia para se
atirar porque dá pé, a tentar.
Folha - Muitos cineastas reclamam da Lei do Audiovisual.
Moraes - Tive boa experiência
com ela. Acho, apenas, que há
dois grandes problemas ainda
não solucionados. O primeiro é
que temos apenas 5% do nosso
mercado. O outro é que antes havia a Embrafilme para financiar
os filmes experimentais sem dar
espaço para os estritamente comerciais. Hoje é o inverso, todas
as leis trabalham unicamente
com o incentivo. O cinema brasileiro sempre trabalhou com uma
fonte apenas; por isso opto por
um meio-termo entre os dois.
Com isso, há espaço para o cinema autoral e do industrial.
Folha - E o que é o cinema?
Moraes - Minha teoria é a seguinte: o cara compra o ingresso e
eu tenho de passar a ele o recado,
sem uma mensagem muito cifrada. Meu filme é bem brasileiro.
Não vejo Hollywood como padrão, mas sim como exceção. Estão gostando de meu filme. Muitos o definiram como um grande
RPG ("role playing game").
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