São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O EXPRESSO POLAR"

Com orçamento de cerca de US$ 160 milhões, animação se arrisca em revolução no cinema digital

Filme leva Tom Hanks ao mundo virtual

DAVE KEHR
DO "NEW YORK TIMES"

Visto de longe, "O Expresso Polar" pode parecer apenas mais um filme natalino. Adaptado do livro infantil homônimo, de 1985, escrito por Chris van Allsburg, é a história de um garoto sem nome que vive num subúrbio americano na década de 1950 e cuja crença cada vez menor no Papai Noel ganha um reforço. Na noite de véspera do Natal, um trem fantasmagórico pára diante de sua casa e um cobrador o convida para subir e dar um passeio até o pólo Norte.
Com Tom Hanks atuando sob a direção de Robert Zemeckis, como fez em "Forrest Gump" e "O Náufrago", "O Expresso Polar" soa como uma aposta segura.
Mas existe uma revolução escondida dentro desse filme "para a família", aparentemente inócuo. É bem possível que "O Expresso Polar" mude toda a maneira como os filmes são criados e vistos. De um ponto de vista técnico, ele pode marcar uma virada decisiva na transição gradual do cinema analógico para o digital.
"O Expresso Polar" não é nem um filme tradicional de ação ao vivo, nem uma animação computadorizada do tipo que a Pixar aperfeiçoou com "Procurando Nemo" e "Os Incríveis". É algo que fica a meia distância entre os dois -um filme que leva uma presença humana real para dentro de um mundo virtual. Nesse processo, o filme elimina muitos dos elementos mais básicos do fazer cinema: não há sets caros, iluminação complexa nem câmera volumosa. Na realidade, não existe película. "O Expresso Polar" só chega ao celulóide na etapa final da produção, quando é transferido do disco rígido do computador para a película, com a ajuda de impressora a laser.
Em viagem recente a Nova York, Robert Zemeckis observou que a Warner Brothers está assumindo um risco grande com "O Expresso Polar". "É um conceito realmente difícil de ser digerido por qualquer um", explicou.
Para começo de conversa, Hanks faz cinco papéis, desde o de um garoto de sete anos de idade até o do Papai Noel.
Pioneiro de longa data da tecnologia dos efeitos especiais (em filmes como "De Volta ao Futuro" e "Uma Cilada para Roger Rabbit"), Zemeckis vê grande potencial nela, mas também riscos. "Foi tremendamente libertador." Mas enfatizou que a tecnologia precisa ficar em segundo plano. "O mais importante ainda é a história."
Assistir a "O Expresso Polar" sendo criado e ao filme na tela significa começar a compreender o potencial da nova tecnologia e suas possíveis desvantagens.
Havia pouco que lembrasse uma filmagem tradicional no armazém em Culver City, Califórnia, onde o filme estava sendo feito em abril. Dezenas de sensores infravermelhos captavam e gravavam digitalmente a luz refletida pelas dezenas de pequenos refletores presos ao body preto usado por Hanks, além dos 150 refletores menores colados sobre seus músculos faciais. O grande salto qualitativo se deve à capacidade de captar expressões faciais.
O maior risco comercial consiste em ter apostado um orçamento que, ao que consta, teria chegado a US$ 160 milhões na possibilidade de que o público ainda consiga fazer uma conexão emocional com os personagens.


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Crítica: Obras colocam homem comum no palco da grande história
Próximo Texto: Crítica: Quem acredita em Papai Noel?
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.