|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fernanda Porto se separa do modismo drum'n'bass
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A paulista Fernanda Porto, 38,
ficou nacionalmente conhecida
há quatro anos, ao apostar numa
fórmula que reunia valores da
MPB (especialmente da bossa nova) com valores da música eletrônica (particularmente do drum'n"
bass). Em seu segundo álbum, recém-lançado, ela se desconstrói e
decide não seguir a mesma fórmula, ao menos não em igual intensidade e concentração.
"Giramundo" espalha os gêneros e ritmos e já não insiste na batida seca do drum'n'bass como
signo canção após canção. Fernanda descreve as andanças, iniciadas com faculdade de música
erudita, intenções episódicas de
ser pianista, concertista, regente
(até estudou com o maestro Hans
Joachim Koellreutter, que disse
que ela não tinha nível para regência, mas a acolheu), formação
de banda pop etc.: "Fui parar no
que eu gostava, que era mais pop
brasileiro que MPB. Mas veio
uma fase em que fiquei meio enjoada de compor canção".
Vieram a descoberta do drum"
n'bass, a associação com o DJ Patife, que rendeu o hit "Sambassim" (composto por ela e Alba
Carvalho e remixado para as pistas por ele), e o consumo de mais
de 100 mil cópias do primeiro álbum, de 2002. "O drum'n'bass foi
o elemento que me permitiu voltar para a MPB e voltar a compor,
numa época em que eu tinha a
sensação de que as canções que
fazia tinham um quê de antigo.
Era uma autocrítica", prossegue.
Foi modismo, então? "Essa
oportunidade de a música brasileira se abrir para uma sonoridade diferente foi saudável. O fato
de outros artistas terem encontrado uma saída no drum'n'bass é
interessante, mas achar que isso é
solução de vida é totalmente errado. Aconteceu de desvirtuarem,
não terem cuidado com a espinha
dorsal que é a canção", critica.
Pois curiosamente o namoro
com modismos acabou atraindo
atenções de gente em geral disposta em outros fronts musicais,
do formalismo ao tradicionalismo. Cesar Camargo Mariano, ex-diretor musical de Elis Regina, toca seus teclados em "Giramundo". Chico Buarque participa de
versão drum'n'bass (sim, o gênero ainda existe em "Giramundo")
de sua "Roda Viva" (67).
"O primeiro comentário dele foi
que eu tinha voz clássica. Achei
esquisito, não fiquei muito feliz
com o comentário, porque não
gosto de cantora de voz lírica. Mas
fiquei totalmente passada quando
ele disse que achou legal a versão
drum'n'bass", esnoba-elogia.
Sobre Mariano: "Primeiro estranhei, de cara ele é muito quieto.
Fiquei muito tensa, até mais que
com Chico. Mas tivemos momentos felizes, o suingue dele é...", deixa a frase incompleta.
E por que a artista que começou
trabalhando sozinha em registros
"modernos" hoje faz um disco
mais coletivo, que inclui músicos
de rock do grupo Living Colour,
mas se seduz por homens avessos
a modismos como Chico e Cesar?
"Para falar a verdade, não fui eu
que procurei esses dois caras.
Gravei Chico para a trilha do próximo filme de Toni Venturi, e Cesar foi uma sugestão do [diretor
da gravadora Trama] João Marcello Bôscoli." Fernanda sabe, ainda
assim, que é dona de seu disco, e a
pergunta fica parada no ar.
Falando sobre si, Fernanda sonda o lugar que sonha ocupar com
o advento de "Giramundo". "Infelizmente no Brasil as pessoas
ainda têm a mania de enxergar
mais a cantora, de me comparar a
cantoras. Estudei canto lírico, é
claro que tenho prazer em cantar,
mas sou uma compositora."
Texto Anterior: Música: Norah Jones traz pop milionário ao Brasil Próximo Texto: Compositora gira o mundo, procura sua casa Índice
|