São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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Fernanda Porto se separa do modismo drum'n'bass

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

A paulista Fernanda Porto, 38, ficou nacionalmente conhecida há quatro anos, ao apostar numa fórmula que reunia valores da MPB (especialmente da bossa nova) com valores da música eletrônica (particularmente do drum'n" bass). Em seu segundo álbum, recém-lançado, ela se desconstrói e decide não seguir a mesma fórmula, ao menos não em igual intensidade e concentração.
"Giramundo" espalha os gêneros e ritmos e já não insiste na batida seca do drum'n'bass como signo canção após canção. Fernanda descreve as andanças, iniciadas com faculdade de música erudita, intenções episódicas de ser pianista, concertista, regente (até estudou com o maestro Hans Joachim Koellreutter, que disse que ela não tinha nível para regência, mas a acolheu), formação de banda pop etc.: "Fui parar no que eu gostava, que era mais pop brasileiro que MPB. Mas veio uma fase em que fiquei meio enjoada de compor canção".
Vieram a descoberta do drum" n'bass, a associação com o DJ Patife, que rendeu o hit "Sambassim" (composto por ela e Alba Carvalho e remixado para as pistas por ele), e o consumo de mais de 100 mil cópias do primeiro álbum, de 2002. "O drum'n'bass foi o elemento que me permitiu voltar para a MPB e voltar a compor, numa época em que eu tinha a sensação de que as canções que fazia tinham um quê de antigo. Era uma autocrítica", prossegue.
Foi modismo, então? "Essa oportunidade de a música brasileira se abrir para uma sonoridade diferente foi saudável. O fato de outros artistas terem encontrado uma saída no drum'n'bass é interessante, mas achar que isso é solução de vida é totalmente errado. Aconteceu de desvirtuarem, não terem cuidado com a espinha dorsal que é a canção", critica.
Pois curiosamente o namoro com modismos acabou atraindo atenções de gente em geral disposta em outros fronts musicais, do formalismo ao tradicionalismo. Cesar Camargo Mariano, ex-diretor musical de Elis Regina, toca seus teclados em "Giramundo". Chico Buarque participa de versão drum'n'bass (sim, o gênero ainda existe em "Giramundo") de sua "Roda Viva" (67).
"O primeiro comentário dele foi que eu tinha voz clássica. Achei esquisito, não fiquei muito feliz com o comentário, porque não gosto de cantora de voz lírica. Mas fiquei totalmente passada quando ele disse que achou legal a versão drum'n'bass", esnoba-elogia.
Sobre Mariano: "Primeiro estranhei, de cara ele é muito quieto. Fiquei muito tensa, até mais que com Chico. Mas tivemos momentos felizes, o suingue dele é...", deixa a frase incompleta.
E por que a artista que começou trabalhando sozinha em registros "modernos" hoje faz um disco mais coletivo, que inclui músicos de rock do grupo Living Colour, mas se seduz por homens avessos a modismos como Chico e Cesar?
"Para falar a verdade, não fui eu que procurei esses dois caras. Gravei Chico para a trilha do próximo filme de Toni Venturi, e Cesar foi uma sugestão do [diretor da gravadora Trama] João Marcello Bôscoli." Fernanda sabe, ainda assim, que é dona de seu disco, e a pergunta fica parada no ar.
Falando sobre si, Fernanda sonda o lugar que sonha ocupar com o advento de "Giramundo". "Infelizmente no Brasil as pessoas ainda têm a mania de enxergar mais a cantora, de me comparar a cantoras. Estudei canto lírico, é claro que tenho prazer em cantar, mas sou uma compositora."


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