São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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Compositora gira o mundo, procura sua casa

DA REPORTAGEM LOCAL

"Giramundo" é uma peça artesanal do interior paulista. Decomposta a palavra, no entanto, encontramos "gira mundo", algo que Fernanda Porto tem feito incessantemente à procura de uma identidade própria. Pululando entre regências, bandas pop, cantos líricos, percussões baianas, drum'n'bass etc., tem girado o mundo musical sem direção visível, à procura de sua própria casa. "Giramundo" leva essa busca a graus mais altos, perdido entre reggaes, pops, MPBs, axés, eletrônicas...
O chão natal de Fernanda, segundo ela própria, é a composição. Se a voz aguça e faz lembrar a Bahia de Daniela Mercury, bem longe de casa, isso também se deve a que morar na composição não é tarefa fácil para uma mulher MPB.
Faça-se uma breve linha do tempo das autoras brasileiras. Nascemos em Chiquinha Gonzaga. Pulamos quase meio século, para Dolores Duran e Maysa. Nos consolidamos em Rita Lee, só nela. Adquirimos Marina Lima, Paula Toller, Fernanda Abreu, Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, poucas mais. A reserva é masculina.
Não parece à toa que Fernanda se associe a Chico Buarque, homem de quem se diz conhecer a alma feminina como se fosse mulher. Ela provoca ao limite esse mito, contradizendo o dom anacrônico de "Roda Viva" com drum'n'bass, a MPB compenetrada com pop baiano largado, masculino em feminino. O resultado é interessante porque não é bom, porque expõe conflitos em xeque.
Embora tenha se feito em registro vibrante, a compositora se desnuda e se revela quando é íntima, intimista -em "Bicho do Mato", franca confissão. Dali afloram conservadorismo sincero e curiosidade pelas próprias contradições. "Giramundo" é prima de "Viramundo", formalismo do Gilberto Gil pré-tropicalista lançado em 66 pela não-compositora Maria Bethânia, disputado em 68 pela não-compositora Elis Regina. Eis que Fernanda, em 2004, ainda busca seu porto. (PAS)


Giramundo
  
Artista: Fernanda Porto
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 30, em média



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