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Funk feminista "rebola" no cinema de SP
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Tati Quebra-Barraco, Deise Tigrona, Valeska da Gaiola das Popozudas e muitos anônimos das principais comunidades cariocas
(o termo usado pelo pessoal do
funk para se referir às favelas onde moram) estréiam hoje no cinema em São Paulo. Mais precisamente, no moderno Itaú Cultural,
dentro da grade do Resfest.
As principais musas dos bailes
cariocas são protagonistas do documentário "Sou Feia, Mas Tô na
Moda", da gaúcha Denise Garcia,
37, que entra em circuito na primeira semana de dezembro.
Denise passou um ano e meio
freqüentando bailes funks e produziu um filme "com lado": "Não
acredito nessa coisa de imparcialidade. Eu sempre tive lado. E estou contra a classe média e do lado do povo da favela".
O resultado do engajamento é
um filme que mostra o "funk power", com pessoas reais das comunidades contando o quanto
agora, com as músicas, têm coragem de se assumir, seja como mulher ou como favelados ou como
negros. As meninas, por sua vez,
destilam venenos contra os homens machistas. "Tem muito homem que é cachorro, sim", diz
Valeska, do Gaiola das Popozudas. "Se um homem me desrespeitar, eu desrespeito ele também", diz outra garota.
A atitude sexualmente agressiva
das moças do funk ocupa boa
parte do documentário. "Acho
que é um novo feminismo, em
que a mulher assume que tem
prazer", diz Denise, se referindo a
músicas com letras pesadas que
são cantadas no filme em ruas da
Cidade de Deus. Como o hit "69",
em que várias posições sexuais
são mencionadas.
Deise Tigrona conduz o média-metragem e apresenta a "comunidade para os telespectadores".
Em uma das suas reflexões, pergunta: "Será que, se eu rebolasse
"na boquinha da garrafa", faria sucesso e apareceria na televisão?".
Em um dos melhores momentos do filme, após narrar com
água nos olhos que sofre preconceito por morar na Cidade de
Deus, o funkeiro Cidão aparece
cantando com o parceiro Doca o
hit "Rap da Felicidade", à capela,
aquele que diz "eu só quero é ser
feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci e poder me orgulhar. E ter a consciência que o pobre tem seu lugar".
Sou Feia, Mas Tô na Moda
Quando: hoje, às 19h30
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP,
tel. 0/xx/11/3268-1776)
Quanto: entrada franca
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