São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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Funk feminista "rebola" no cinema de SP

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Tati Quebra-Barraco, Deise Tigrona, Valeska da Gaiola das Popozudas e muitos anônimos das principais comunidades cariocas (o termo usado pelo pessoal do funk para se referir às favelas onde moram) estréiam hoje no cinema em São Paulo. Mais precisamente, no moderno Itaú Cultural, dentro da grade do Resfest.
As principais musas dos bailes cariocas são protagonistas do documentário "Sou Feia, Mas Tô na Moda", da gaúcha Denise Garcia, 37, que entra em circuito na primeira semana de dezembro.
Denise passou um ano e meio freqüentando bailes funks e produziu um filme "com lado": "Não acredito nessa coisa de imparcialidade. Eu sempre tive lado. E estou contra a classe média e do lado do povo da favela".
O resultado do engajamento é um filme que mostra o "funk power", com pessoas reais das comunidades contando o quanto agora, com as músicas, têm coragem de se assumir, seja como mulher ou como favelados ou como negros. As meninas, por sua vez, destilam venenos contra os homens machistas. "Tem muito homem que é cachorro, sim", diz Valeska, do Gaiola das Popozudas. "Se um homem me desrespeitar, eu desrespeito ele também", diz outra garota.
A atitude sexualmente agressiva das moças do funk ocupa boa parte do documentário. "Acho que é um novo feminismo, em que a mulher assume que tem prazer", diz Denise, se referindo a músicas com letras pesadas que são cantadas no filme em ruas da Cidade de Deus. Como o hit "69", em que várias posições sexuais são mencionadas.
Deise Tigrona conduz o média-metragem e apresenta a "comunidade para os telespectadores". Em uma das suas reflexões, pergunta: "Será que, se eu rebolasse "na boquinha da garrafa", faria sucesso e apareceria na televisão?".
Em um dos melhores momentos do filme, após narrar com água nos olhos que sofre preconceito por morar na Cidade de Deus, o funkeiro Cidão aparece cantando com o parceiro Doca o hit "Rap da Felicidade", à capela, aquele que diz "eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci e poder me orgulhar. E ter a consciência que o pobre tem seu lugar".


Sou Feia, Mas Tô na Moda
Quando:
hoje, às 19h30
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/3268-1776)
Quanto: entrada franca


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