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"Cleópatra", de Bressane, divide platéia em Brasília
Durante a sessão competitiva do filme, enquanto alguns espectadores gritavam "bravo!", outros diziam: "Que bosta!'
Em debate sobre o filme, diretor rebateu jornalista que chamou seu longa de "patético" dizendo: "Nada
do que você gosta é bom"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Em duas horas de projeção
(na noite de sexta) e em duas
horas e 20 minutos de debate
(na tarde de sábado), no 40º
Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro, o novo longa-metragem de Julio Bressane, "Cleópatra", produziu o mesmo efeito: uma leva de opiniões radicais e antagônicas.
A sessão competitiva de
"Cleópatra" terminou sob vaias
e aplausos simultâneos. Enquanto alguns espectadores
gritavam "bravo!", outros reagiam com "que bosta!".
No dia seguinte, o diretor
atribuiu à "fenomenologia do
milagre" a numerosa presença
de interessados em debater o
filme -o auditório reservado à
discussão estava lotado.
Como faz com recorrência,
Bressane tratou a si mesmo e à
sua obra como elementos isolados no panorama atual do cinema brasileiro.
"A coisa artística ficou esterilizada no cinema brasileiro. Ficou isso que está aí -um cinema esterilizado artisticamente", disse. O diretor atribuiu ao
"processo de bossalização" o fato de que seu filme "talvez pareça novidade", quando, na verdade, se trata de "uma narrativa
simples e convencional".
Dos debatedores, Bressane
ouviu avaliações tão distintas
de "Cleópatra" como "sublime"
e "orgasmo estético" ou "constrangedor" e "patético".
Ao jornalista Marcos Petrucelli, da rádio CBN, que adjetivou o filme como "patético",
Bressane respondeu: "Nada do
que você gosta é bom. A força
está no que é bom e você não
gosta. O esforço é [necessário]
quando você não gosta. A força
está na ignorância. Pelo menos
se curve".
Antes, o diretor classificara o
cinema como "um instrumento
radical de transformação", que
exige do artista "um esforço de
contradição consigo mesmo, de
esquecer a sua mediocridade".
Intérprete de Cleópatra,
Alessandra Negrini disse que o
filme é "um exercício de linguagem" e falou do aspecto kitsch.
"Cleópatra virou uma figura
mítica e kitsch. Isso tinha de estar lá, na figura de um ator global fazendo [a personagem]."
Quando tomou a palavra, o
cineasta Edgar Navarro (vencedor em Brasília em 2005 com
"Eu me Lembro") identificou
Bressane como um dos "três
imortais" do cinema brasileiro
-sendo os demais Glauber Rocha e Rogério Sganzerla-, mas
disse perceber em sua atitude
"certo pedantismo" e desejar
que ele "descesse do Olimpo".
Navarro disse não fazer "uma
crítica acintosa" e arrematou:
"Você é tão podre quanto o sol".
Ele citava o próprio Bressane,
que falara do efeito cegante do
sol, se olhado diretamente, do
qual Ísis/Cleópatra seria uma
representação metafórica.
Bressane evitou responder a
Navarro. Preferiu comentar a
intervenção anterior, da ex-professora universitária Ana
Holland, que afirmou ter saído
da sessão sentindo-se "meio
tonta, sem fôlego" e disse que
levará "dez anos" para entendê-lo. "Esse filme é para você",
concluiu Bressane.
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