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Crítica/"Cleópatra"
Filme é provavelmente a grande obra do festival
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
"C leópatra", de Julio Bressane, é provavelmente o grande filme do 40º Festival de Cinema de Brasília. Como nas últimas obras do diretor, trata-se aqui de retrabalhar um signo central do imaginário ocidental numa dicção especificamente brasileira. A rainha egípcia tem significado há dois milênios a confluência entre Ocidente e Oriente, ou entre "o ordenamento grego e a fantasia oriental", como diz a própria Cleópatra (Alessandra Negrini) a certa altura.
As fontes histórico-biográficas sobre a personagem se resumem a poucas páginas de Plutarco, no século 1. Bressane trabalha sobretudo a contínua construção do mito Cleópatra ao longo dos séculos, dos afrescos antigos a Hollywood, de Shakespeare aos nossos dias.
Um caminho possível de fruição desse filme inesgotável talvez seja o de perceber como as polaridades básicas que a personagem suscita na sua relação com os romanos Júlio César (Miguel Falabella) e Marco Antônio (Bruno Garcia) -Oriente e Ocidente, tirania e sedução, Eros e logos- se constroem plasticamente na contraposição entre dois espectros cromáticos que se comunicam, mas não se fundem.
Há, por um lado, uma escala que vai do dourado uterino (do sol, do fogo, do ouro) ao vermelho sangüíneo. Por outro, todos os matizes do azul (do mar, do luar, da luz filtrada por diáfanas cortinas). Mundos que só se entrelaçam no amor carnal, no erotismo que por um momento faz da natureza e da cultura uma coisa só.
Avaliação: ótimo
O crítico José Geraldo Couto viajou a convite da organização do festival de Brasília
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