São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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cinema

CRÍTICA DRAMA

Julio Medem decepciona com erotismo frio e tedioso

Trama banal neutraliza o poder da nudez em "Um Quarto em Roma"

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Aos apreciadores da beleza feminina -em particular, àquele numeroso contingente que acredita que nada pode ser mais inspirador do que o sexo entre mulheres-, o longa "Um Quarto em Roma" é uma promessa de paraíso na tela.
Um filme em que as duas belas protagonistas -a espanhola Elena Anaya e a ucraniana Natasha Yarovenko- aparecem nuas em 90% das cenas e fazem sexo um punhado de vezes ao longo da projeção.
Além disso, a obra vem com a assinatura do cineasta espanhol Julio Medem, que já havia demonstrado um talento raro para captar a beleza das mulheres em "Lucia e o Sexo", de 2001 (embora, claro, Paz Vega tenha ajudado muito).
Isto posto, "Um Quarto em Roma" é uma decepção. Para os que buscam sexo, as DRs (discussões de relacionamento) entre as duas personagens neutralizam o poder erótico dos corpos nus. Para os que querem cinema, Medem responde com truques e tiques "artísticos".
A trama é franciscana. A espanhola Alba (Anaya) e a russa Natasha (Yarovenko) se conhecem em um bar de Roma.
A primeira, lésbica, convence a segunda, prestes a se casar, a subir para seu quarto de hotel.
Elas não demoram muito a tirar suas roupas. Mas levam um bom tempo para se desnudarem em um sentido não literal.
A princípio, elas dão pistas erradas sobre o passado e presente. Aos poucos, revelam histórias íntimas e trágicas. Ao longo de uma noite, criam laços que vão muito além do sexual.

PSICOLOGISMOS
"Um Quarto em Roma" remete a pequenos grandes filmes sobre paixões intensas em espaços limitados, como "O Último Tango em Paris" (1972), de Bernardo Bertolucci, ou "Amor à Flor da Pele" (2000), de Wong Kar-wai.
Mas, ao contrário destes, a obra de Medem não consegue extrapolar a estreiteza do cenário.
O cineasta se perde num emaranhado de diálogos pretensiosos, psicologismos baratos, metáforas visuais supostamente poéticas. Se o objetivo de Medem era desfetichizar o corpo feminino, cercando-o de palavras e imagens tediosas, então esse talvez seja o único aspecto bem-sucedido deste filme.
Ao lado de "Caótica Ana" (2007), trabalho anterior de Medem, "Um Quarto em Roma" presta um desserviço a sua obra: colocar em dúvida o apreço por seus melhores filmes, como "Os Amantes do Círculo Polar" (1998) e "Lucia e o Sexo".
Depois de uma revisão, será que eles sobrevivem como fantasias românticas repletas de imaginação ou ressurgem como um exercício vazio de erotismo como "Um Quarto em Roma"?

UM QUARTO EM ROMA

DIREÇÃO Julio Medem
PRODUÇÃO Espanha, 2010
COM Elena Anaya, Natasha Yarovenko
ONDE nos cines Belas Artes e Espaço Unibanco Augusta
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ruim


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