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DISCO - ANÁLISE
"Álbum Branco' virou lenda com brigas e tragédia
do "Notícias Populares"
"The Beatles"/"White Album"
virou lenda menos pela música
que por outros fatos relacionados.
É o álbum que marca o início do
fim dos Beatles, gravado entre tantas brigas e ambiente tão pesado
que o pacífico e cordato Ringo
Starr chegou a abandonar a banda
por duas semanas. Quando voltou,
encontrou no estúdio uma cama
que John Lennon colocou para Yoko Ono deitar-se e ficar sempre
perto dele no início do romance. A
presença constante dela criou mais
tensão entre os integrantes.
O "Álbum Branco" também inspirou involuntariamente o psicopata metido a profeta hippie Charles Manson a comandar crimes
sangrentos na Califórnia, como o
assassinato da atriz Sharon Tate
em agosto de 1969. Após ser preso,
Manson disse que achava que músicas como "Helter Skelter" e
"Blackbird" tinham mensagens
ocultas que lhe mostravam que seria necessário matar e promover o
caos para realizar uma revolução.
Foi a consequência mais trágica
do hábito de fãs de procurar pistas
em letras, achando que os Beatles
eram uma espécie de novos líderes
mundiais. Isso já estava tão forte,
antes mesmo do caso Manson, que
foi ironizado por John Lennon na
música "Glass Onion". Tudo isso
obscurece um pouco o valor musical de "White Album", possivelmente o melhor disco de rock feito
sob más relações pessoais.
Na hora de tocar, os Beatles conseguiram transformar cada duelo
de egos em uma vantagem sonora.
O piano tocado com a sutileza de
um coice na introdução de "Ob-la-di, Ob-la-da" é um jeito malcriado
de Lennon expressar que achava a
canção composta por Paul
McCartney uma baboseira. A pirraça deu energia à música e ficou.
Em "While My Guitar Gently
Weeps", George Harrison abriu
mão de fazer o solo em sua própria
composição. Preferiu trazer o guitarrista Eric Clapton ao estúdio para ver se os outros se comportavam
bem. Deu certo: ninguém parou de
tocar para discutir, e o solo cortante do convidado elevou a canção.
A competição criativa pode ter
dado certo na maioria das faixas,
mas o produtor George Martin sabia que nem todas eram ótimas e
insistiu que fossem selecionadas 14
para um álbum simples. Perdeu,
pois nenhum beatle queria ver
uma composição sua de fora.
Isso permitiu que inconsequências como "Wild Honey Pie" (com
McCartney tocando todos os instrumentos) e "Revolution 9" (uma
colagem sonora feita por Lennon e
Yoko que costuma ganhar toda
eleição de "pior faixa dos Beatles")
enfraquecessem o "White Album"
em comparação aos outros discos
mais importantes do quarteto.
Se é menos enxuto e coeso que
"Rubber Soul" (65), "Revolver"
(66) e "Sgt Pepper" (67), o "White
Album" é a obra mais intensamente rock dos Beatles.
Apesar de ter folk suave como
"Julia" ou "Mother Nature's Son" e
o jazz leve de "Honey Pie", esse é o
álbum da banda com a maior
quantidade de rock pouco polido.
Nas guitarras cruas, nos rugidos
conturbados de Lennon em "Yer
Blues" e "Everybody's Got Something to Hide Except Me and My
Monkey" e no heavy metal sinistro de "Helter Skelter" berrado por
McCartney, os Beatles repetem o
entusiasmo que levou a banda a ser
fundada cerca de dez anos antes.
Mas, em 68, isso não bastava para
contornar a crise quando os amplificadores eram desligados.
(MO)
²
Disco: The Beatles ("Álbum Branco")
Banda: The Beatles
Relançamento: EMI
Quanto: R$ 36 (duplo; segundo a
gravadora, o Brasil receberá 5.000 unidades
da série numerada comemorativa)
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