São Paulo, quinta, 26 de novembro de 1998

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"THE BEATLES - A DIARY"
Livro disseca cotidiano dos "fab four"

Reprodução
Cartaz da festa da igreja Woolton Parish, quando John conheceu Paul e na qual The Quarrymen (primeira banda de Lennon) tocou, em julho de 1957


do "Notícias Populares"

Entre dezenas de livros sobre os Beatles que saem todo ano, poucos são realmente úteis. "The Beatles -A Diary", do jornalista inglês Barry Miles, lançado em setembro na Inglaterra, é útil por colocar em ordem o dia-a-dia do conjunto que deu a cara da música pop.
Filtrando anotações pessoais, informações espalhadas pela imensa bibliografia existente e até sites de fãs na Internet, Miles organizou o diário beatle.
A obra torna-se a referência mais fácil para quem quer saber quando exatamente aconteceu tal coisa com o grupo, mas não tem tempo para rastrear em outros lugares.
Mesmo para quem pode sobreviver sem saber o dia exato em que John Lennon foi atingido por um ovo em um show na Austrália (20 de junho de 1964), o livro é atraente por suas mais de 300 fotos e ilustrações, algumas históricas, outras apenas bonitas.
Os textos de cada dia contextualizam os eventos, quase sem analisar. Há de meros registros de shows até histórias pitorescas. O diário começa em 18 de fevereiro de 1934 com o nascimento de Yoko Ono, futura esposa de Lennon e que seria crucial para o fim do conjunto. E termina em 20 de maio de 1970, com a premiére do filme "Let It Be", em Londres e Liverpool, sem qualquer beatle (ou, àquela altura, ex-beatle) presente. Ainda há um breve epílogo resumindo o que aconteceu até o final de 1970.
No meio dessas datas, Miles presta seu serviço e procura demonstrar a utilidade logo de cara. Ele desmente o mito de que Lennon teria nascido (em 9 de outubro de 1940) durante um bombardeio da Luftwaffe (a Força Aérea da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial) sobre Liverpool, estabelecendo datas exatas para o último ataque anterior e o primeiro seguinte.
Na mesma página, determina que George Harrison nasceu às 23h42 de 24 de fevereiro de 1943 e não no dia 25, como sempre se divulgou. Lamenta-se apenas que o autor não tenha reproduzido no livro os documentos que bancam essas duas negações do que sempre se disse.
Alguns fatos rendem mais que outros, mas nada que aconteceu aos Beatles até 1970 é deixado de lado. Como as rápidas férias na Espanha de Lennon com o empresário do grupo, Brian Epstein, em 1963.
Isso rendeu insinuações de que os dois tinham um caso. Epstein era homossexual, mas Lennon sempre negou que qualquer relação física tenha existido, a ponto de bater em um DJ que abordou o assunto em uma festa.
A loucura e o caos da explosão da Beatlemania em 1963/64 também ficam bem retratados. Alguns atos dos Beatles ilustram que, em certos dias, o sucesso subia as suas cabeças. A falta de estrutura nas turnês da primeira megabanda pop também impressiona, com meninas adolescentes mastigando grama pisada pelos quatro ou tendo costelas quebradas pelos cassetetes de zelosos policiais pouco preparados para tais tumultos.
Como o livro mostra que isso se repetia sem descanso e sem direito a privacidade, entende-se melhor por que a banda parou de fazer shows em 1966, com McCartney finalmente concordando com os pedidos dos outros três.
O cotidiano beatle nos anos como conjunto de estúdio, entre 1967 e 1969, é um quebra-cabeça em que cada rusga corriqueira é uma peça a mais na saturação de um com o outro.
Nessa fase final, Miles é menos minucioso que nas anteriores. Poucas brigas entre os Beatles têm dia certo e as citadas não chegam a ser novidade nem entram em detalhes ("as tensões entre os membros são descritas como muito ruins a essa altura", diz um trecho em 1968).
Mesmo assim, percebe-se que o racha entre os Beatles teve razões mais pessoais que a falta de empresário desde a morte de Epstein em 1967, que fez o quarteto se perder entre fazer música e tentar botar os negócios em ordem.
O que os beatlemaníacos ou meros fãs podem decretar é a data exata em que o grupo efetivamente acabou: 20 de setembro de 1969, quando Lennon disse em uma reunião que estava fora. A data oficial ainda é 10 de abril de 1970, quando McCartney tornou pública a separação. Nada que faça muita diferença em 1998. (MARCELO OROZCO)
²
Livro: The Beatles - A Diary (em inglês) Autor: Barry Miles Lançamento: Omnibus Press
Onde encomendar: livraria Cultura (011/ 285-4033, R$ 69,50); ou na Internet: www.amazon.com; www.barnesandnoble.com




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