São Paulo, sexta, 26 de dezembro de 1997.




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SAMBA X PAGODE

O sambista mineiro Ataulfo Alves abraça a carioca Araci de Almeida, a intérprete predileta de Noel Rosa
Coleções sintetizam 80 anos de história

da Reportagem Local

A coleção "História do Samba", lançada pela editora Globo e pela gravadora BMG (antes RCA), leva pela primeira vez ao freguês de banca de jornal, em periodicidade semanal, uma historiografia do gênero em 40 fascículos, cada qual acompanhado de um CD.
Lançada inicialmente só no Sudeste e no Sul, a série (hoje no décimo volume) entrou vendendo 120 mil exemplares.
"Coleções de banca costumam ter uma curva descendente de vendagens. No número 6, estávamos em 45 mil exemplares", afirma o diretor de marketing para fascículos da editora Globo, Heitor Paixão.
Ele acredita na sinergia entre samba da antiga e pagode "moderno". "Com certeza o pagode puxa o interesse pela história do samba. O pagode se popularizou entre os jovens, que agora acabam se interessando também pelos grandes sambistas."
"A idéia era fazer uma obra importante, de referência para o samba. Ninguém ganha milhões com isso, mas é uma oportunidade de as pessoas conhecerem um monte de coisa rara", diz o gerente de marketing estratégico da BMG, Marcelo Falcão.
Ele tributa a "febre de samba" menos à explosão do pagode de rádio que ao revigoramento das carreiras de dois sambistas "clássicos", Paulinho da Viola e Martinho da Vila.
"Paulinho é um grande mestre, sua volta ao mercado carrega tudo isso aí junto", afirma.
A EMI, que acaba de relançar também a obra completa da sambista histórica Clara Nunes, se aprofunda no jogo comprimindo em duas caixinhas de três CDs cada (leia texto nesta página) sua versão para os 80 anos de história.
A coleção sintetiza o que aconteceu na EMI (antes Odeon) entre o lançamento do compacto "Pelo Telefone" -popularizado como "primeira gravação classificada como samba a alcançar sucesso comercial"-, em 1917, e o pagode do Só Preto sem Preconceito.
A gerente de marketing estratégico da gravadora, Sônia Antunes, que coordena o projeto, rejeita a idéia de que pagode e axé "puxem" a volta do samba de raiz.
"Acho que se trata de uma resposta indireta ao pagode e ao Tchan que estão por aí. Acho que Paulinho da Viola, ganhando seu primeiro disco de ouro com 'Bebadosamba', é que deslanchou esse processo", diz.
O responsável pela execução da coleção "História do Samba", o jornalista e artista gráfico Elifas Andreato, prefere o meio termo.
"O pagode saturou o mercado de tal forma, ficou tudo tão igual, que se tornou necessário mostrarmos o que é o samba, de fato. Mas pelo menos o pagode afastou a música americana, o que contribuiu para a redescoberta do samba por uma geração em busca de identidade", afirma.
Ele nega que a hegemonia do pagode e da axé -num cenário em que a MPB ocupa, hoje, 70% do mercado nacional- resulte numa espécie de "reserva de mercado" de música brasileira.
"A música internacional, seja boa ou ruim, continua chegando. O que se pode hoje é despertar o público para a música nacional", afirma.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



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