São Paulo, sexta, 26 de dezembro de 1997.




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O velho samba sacode a poeira

Coleções de CDs trazem gênero de volta ao mercado em cenário dominado pelo 'pagode pop', sertanejo e axé

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Ainda é tempo de samba. De um lado, duas coleções de CDs tentam seduzir o consumidor de cá com a promessa de sintetizar a história do gênero; de outro, os pagodeiros do Só pra Contrariar abocanham o posto de maiores vendedores de discos de 1997, com 2 milhões de cópias desembolsadas.
Duas caixas denominadas "Os volumes 1 e 2 de Apoteose ao Samba", série lançada pela EMI, sintetizam em seis CDs 80 anos de história, a partir do advento do samba amaxixado "Pelo Telefone", cantado por Bahiano e tido como "a primeira gravação classificada como samba a alcançar o sucesso".
Quase ao mesmo tempo, a gravadora BMG e a editora Globo se unem para levar o samba, pela primeira vez, às bancas de jornal. Em 40 fascículos semanais, a coleção "História do Samba" passeia, em textos e gravações, pelas glórias daquele que ainda é o gênero mais legitimamente brasileiro.
Para além dos projetos de memória, a tendência é, na opinião de executivos das grandes gravadoras, que o samba -em suas formas mais variadas, dos ritmos tradicionais ao pagode de teclado e ao samba da Bahia (a axé music)- continue dominando o mercado em 1998.
"No ano que vem, teremos Copa do Mundo, evento que se associa a povão, a alegria, a cerveja. Depois, vêm as eleições, os comícios. O samba se encaixa bem nesse panorama, e acreditamos que deve dominar o mercado em 98", afirma o diretor de marketing da gravadora EMI, Alberto Runkel.
"Vivemos um quadro em que o novo consumidor, de 14 a 17 anos, quer cada vez mais música para dançar. A música da Bahia é o pop brasileiro, com potencial de exportação tremendo", afirma Marcelo Castelo Branco, presidente da PolyGram.
Sua gravadora detém quatro títulos com vendas superiores a 1 milhão de exemplares em 97 (leia quadro abaixo).
Três deles são de axé music -É o Tchan, Netinho e Banda Eva- e um, de música sertaneja -Chitãozinho e Xororó.
O fenômeno acaba por se fazer acompanhar de uma pequena explosão de revalorização do samba mais tradicional, "de raiz".
Com ela, surge uma pequena controvérsia entre especialistas e executivos ouvidos pela Folha, sobre se o pagode radiofônico abre alas para que se lembre do velho samba ou se as vertentes correm paralelas, concorrendo uma com a outra. Quem dá margem ao conflito é ele: o mercado.




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