São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros CRÍTICA DVD Bresson põe personagem sob permanente tensão e afirma método "cinematográfico" INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA Robert Bresson estava certo quando dizia que cada ator tem só um papel na vida. Quem se der o prazer de assistir a "Um Condenado à Morte que Escapou", uma das obras-primas de Bresson, dificilmente esquecerá das feições de François Leterrier: os ossos compridos, magros, as mãos em busca de um instrumento sobre o qual agir, o andar calmo. Mas são sobretudo os olhos que chamam a atenção. Já que durante quase todo o filme Fontaine (este é o personagem) planeja, prepara ou executa sua fuga, esses olhos tensos, que com ligeiros movimentos procuram abarcar o máximo de espaço visual possível, são a imagem dominante do filme. A imagem que faz esse personagem ser realmente único. Estamos em Lyon, 1943. França ocupada durante a Guerra. Os alemães dispõem-se a fuzilar a maior parte dos resistentes que encontram. Entre eles, Fontaine. Por que, entre todos os prisioneiros, é ele que se dispõe a fugir? Não há uma resposta clara para isso. Primeiro, Fontaine quer fugir. Segundo, sabe que será fuzilado a qualquer momento. Terceiro, encontra uma maneira de pelo menos dar início a seu plano. FUGA Mas nada disso responde à questão tão bem quanto o subtítulo do filme: o vento sopra para onde quer. Numa fuga, tudo pode acontecer. O que Bresson nos dá a ver é a atividade de um corpo que pensa e age em situação de tensão quase permanente. Talvez mais do que nunca estejamos diante desse tão particular "método Bresson": nada procura imitar a realidade, mas tudo cria uma imagem insubstituível do que seja uma prisão, a vida dos prisioneiros, sua atividade, seus contatos. Feito em 1956, a partir de um relato de memórias, "Um Condenado..." é o momento em que Bresson afirma de vez a ideia de "cinematógrafo", que substitui à de cinema, e ganha o prêmio de melhor direção em Cannes. Ou, para simplificar, começa aqui a série de obras-primas que prossegue com "Pickpocket", "O Processo de Joana D'Arc" etc. UM CONDENADO À MORTE QUE ESCAPOU DISTRIBUIÇÃO Lume QUANTO R$ 40, em média CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Vanessa vê TV: Legal essa parada rude Próximo Texto: Romance satírico de Voltaire é relançado pela Coleção Folha Índice | Comunicar Erros

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