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São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

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Brasil fashionista


Começa hoje a edição 2003 da SP Fashion Week, que une gente da moda, empresários e até motoristas de táxi


Fabiana Beltramin/Folha Imagem - Silvia Boriello
PRÉVIAS Luciana Curtis (no meio) veste look de Marcelo Sommer inspirado na viagem do estilista a Moscou; (à dir.), a modelo Ana Hickman desfila coleção kitsch pós-moderna da grife Cori, assinada pelo estilista Alexandre Herchcovitch

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

A partir de hoje, somos 170 milhões de fashionistas. Até sábado, enquanto rolarem os 41 desfiles da São Paulo Fashion Week, os olhos do Brasil estarão voltados para as passarelas montadas no prédio da Fundação Bienal (parque Ibirapuera, região sul) e no novo hotel Unique, grandiloquente projeto de Ruy Ohtake na avenida Brigadeiro Luis Antonio.
Trata-se do maior evento da moda brasileira, o núcleo do calendário de lançamentos para o outono-inverno 2003, também em sua maior edição, com sete desfiles diários -à exceção da abertura, que tem seis marcas desfilando.
Ao longo dos últimos anos, como se sabe, a moda deixou seu gueto e passou a fazer parte da vida cultural brasileira, ocupando lugar em prosaicas conversas de táxi ou nos mais complexos negócios internacionais.
"Eu acompanho, eu gosto", diz o taxista Flavio Pereira Lemos, 27. "Sempre vejo quando eles passam no jornal, na televisão." "Entramos para ficar. Para nós, a moda é um segmento estratégico", garante Gilson Rondinelli, 53, vice-presidente de marketing da Telesp Celular.
Neste ano em que a telefonia celular descobre a moda (Samsung e Nokia estão também investindo), a empresa é a nova patrocinadora do evento, com um contrato de dois anos, renovável para mais um, e responde também por viabilizar a participação da modelo Gisele Bündchen e outras tops. Só o cachê de Gisele estaria em torno de R$ 150 mil, em números não confirmados, e será doado para a campanha Fome Zero, em cerimônia com a presença da primeira-dama, Marisa Letícia, hoje às 14h no Museu de Arte Moderna (MAM).
A modelo vai participar do desfile do estilista de moda masculina Ricardo Almeida, que entrou recentemente para o noticiário "off-fashion" ao confeccionar os ternos da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Gisele vai entrar com roupa masculina, ainda não sabemos se de terno, camisa ou camiseta", adianta Ricardo Almeida.

Moda e política
A moda se conecta com a realidade -e também com a política. Depois do desfile totalitarista da genial Karlla Girotto na Casa de Criadores, na última quinta, Marcelo Sommer, por exemplo, foi para Moscou em outubro e ficou encantado com a estética do lugar. "Tem muita coisa de Moscou nas formas construídas da minha coleção, na cara socialista e até mesmo fascista, mais dura, das roupas", diz o estilista, que desfila com todos os looks em preto, contraponto a seu estilo multicolorido.
O militarismo e o utilitarismo também são tendência e devem aparecer em muitas coleções, como a da UMA, marca que está entre as nove estréias deste inverno. Ao mesmo tempo, num pensamento do tipo a moda é o ópio do povo, o momento é também de escapismo e diversão. Seja no psicodelismo de Lino Villaventura ou na roupa para dançar de André Lima, com um megamix de décadas.
Viajando para outras épocas está também Alexandre Herchcovitch, que trata de uma nostalgia passadista à la Audrey Hepburn na coleção que leva seu nome, e no kitsch pós-moderno da grife Cori, mais anos 80, inspirado no estilo de decoração Memphis.
Os anos 60 vêm forte, como veremos nos desfiles de Reinaldo Lourenço e Cavalera, já antecipando a história surgida agora mesmo, nos últimos desfiles internacionais, em outubro. Espere então saias curtas (próprias para os tempos econômicos difíceis, como reza o folclore fashion) e um -controlado- tom de otimismo.
E quem disse que a moda da passarela não tem nada a ver com as ruas?


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