São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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CRÍTICA

Longo e repetitivo, filme emociona pouco

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma ou outra criança encantadora é ameaçada de explodir, uma bela grávida de oito meses tem sua cota de sobressaltos, muitos atentados espetaculares tomam conta da tela -mas o último filme de Steven Spielberg acaba emocionando muito pouco. "Munique" é longo (164 minutos) e repetitivo.
Um protagonista bonitão, mas sem carisma, o agente secreto israelense Avner (Eric Bana), está encarregado de eliminar, um por um, 11 responsáveis pelo atentado terrorista que dizimou a equipe olímpica israelense, nos jogos de Munique, em 1972. Para tanto, ele conta com a bênção da primeira-ministra Golda Meir em pessoa (Lynn Cohen), que mal e mal discute numa reunião de gabinete as implicações morais da retaliação.
Daí por diante, o que temos é a mesma cena contada várias vezes: a reunião de Avner com sua equipe de ajudantes brancaleônicos, que o filme tenta apresentar como se fossem "pessoas comuns", quase inofensivas; alguns diálogos forçadamente filosóficos com o misterioso informante Louis (Mathieu Amalric); a confecção de uma geringonça explosiva; a morte feérica de um terrorista, com um ou mais inocentes ameaçados no processo; e os escrúpulos do herói depois de cumprida a missão.
Os dilemas de Avner se tornam complexos demais para a linguagem do filme. A partir de seu trailer e de seus primeiros (e excelentes) minutos, "Munique" pretende, obviamente, ser uma máquina de suspense e tensão; para isso, é preciso que o espectador esteja identificado com os personagens. Ao mesmo tempo, a preocupação ética do filme depende de um esforço de imparcialidade e "desidentificação": trata-se de mostrar que os atos de vingança realizados por Israel, além de inúteis do ponto de vista estratégico mais amplo, terminam perdendo qualquer justificativa moral se passam a vitimar crianças e civis inocentes.
O cuidado político de Spielberg vai além: numa cena, palestinos e israelenses se encontram num mesmo esconderijo, e trocam idéias equivalentes sobre a necessidade de uma pátria. "Munique", sob esse aspecto, é um filme bem escrupuloso e equilibrado; mas sua tentativa de pensar ética e politicamente não combina com o artesanato do terror, com o virtuosismo da tensão e do alívio, que são a marca de Spielberg.


Munique
Munich
  
Produção: EUA, 2005
Direção: Steven Spielberg
Com: Eric Bana, Daniel Craig
Quando: a partir de hoje nos cines Metrô Tatuapé, Pátio Higienópolis e circuito


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