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"Era tudo muito pesado", conta o ator principal
DA ENVIADA A LOS ANGELES
Sorridente e com forte sotaque
australiano, o ator Eric Bana, 37,
está relaxado, cabelos desajeitados e pronto para fugir de polêmicas -todo o contrário de seu personagem Avner em Munique, cuja silhueta cabisbaixa, arma em
punho, ilustra um agente secreto
israelense torturado pela culpa,
medo e fracasso nos outdoors do
novo filme de Spielberg.
Para Bana ("Hulk", "Tróia"), o
grande desafio do papel foi filmar
fora de seqüência a lenta degradação de Avner, que avança de jovem idealista e nacionalista a um
homem destruído e paranóico à
medida que cumpre suas ordens
para executar suspeitos.
Bem-humorado, Bana conta
que na Austrália "não se estuda
história política do Oriente Médio", a primeira coisa que fez ao
ser convidado por Spielberg foi
começar a ler. No entanto, não
opina sobre os últimos 50 anos de
guerra e conflito -repete a convenção: "É frustrante".
Considerou que o filme deixou
uma marca pesada, amenizada
pelo humor seco no roteiro de
Tony Kushner e Eric Roth -como na insistência do Mossad por
notas fiscais dos gastos do grupo.
Veja trechos da entrevista concedida em Los Angeles no início
do mês.
(LS)
Folha - O tema polêmico do filme
te perturbou?
Eric Bana - Nem um pouco. Sabíamos que a repercussão teria
duas fases. A primeira foi inteiramente previsível: a controvérsia
antes mesmo da estréia. Na segunda, os críticos aplaudiram.
Folha - Como você se preparou
para o papel?
Bana - Eu sabia sobre Munique,
mas não do que aconteceu depois.
Além do preparo militar, estudei
para interpretar um judeu israelense defendendo seu país por nacionalismo. É importante saber a
história da região. Precisava entender a natureza frustrante do
conflito e como seria viver na cabeça de um personagem real.
Folha - Qual é a frustração?
Bana - A frustração vem do entendimento de que há boas intenções dos dois lados para alcançar
uma solução. Mas surgem imposições práticas, um golpe, falta de
densidade política de um líder.
Folha - Qual foi a cena mais difícil
do filme?
Bana - Ah, havia muitas (risos).
Foram umas seis ou sete.
Folha - Fale de uma.
Bana - Eu diria que a conversa
com o militante palestino na escadaria foi bem difícil. Tínhamos de
ser fiéis ao texto. Mas tecnicamente foi complicado interpretar um
judeu israelense do Mossad que
fingia ser um alemão do Exército
da Facção Vermelha que discutia
o futuro de Israel com um militante da OLP. Como mostrar o
que Avner estava sentindo para o
público sem revelar sua origem?
Mas conseguimos mostrar uma
ligação emocional entre os dois,
era algo que Spielberg deixou claro que queria extrair da cena.
Folha - Te impactou interpretar a
deterioração moral e enlouquecimento de Avner?
Bana - Sim, demora um tempo
para sacudir os efeitos. Eu percebi
que fiquei muito mais ansioso
que o normal. Fico reparando, vigiando tudo que acontece à minha volta, como se meu cérebro
tivesse ficado habituado.
Folha - O sarcasmo e humor áspero do filme ajudaram?
Bana - Era um alívio necessário,
especialmente o humor negro de
Spielberg no set, entre cenas. Era
tudo muito pesado, drenava todas as nossas energias.
Folha - Israelenses acharam que o
filme não os favorece.
Bana - Não é algo que eu queira
comentar.
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