São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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"Era tudo muito pesado", conta o ator principal

DA ENVIADA A LOS ANGELES

Sorridente e com forte sotaque australiano, o ator Eric Bana, 37, está relaxado, cabelos desajeitados e pronto para fugir de polêmicas -todo o contrário de seu personagem Avner em Munique, cuja silhueta cabisbaixa, arma em punho, ilustra um agente secreto israelense torturado pela culpa, medo e fracasso nos outdoors do novo filme de Spielberg.
Para Bana ("Hulk", "Tróia"), o grande desafio do papel foi filmar fora de seqüência a lenta degradação de Avner, que avança de jovem idealista e nacionalista a um homem destruído e paranóico à medida que cumpre suas ordens para executar suspeitos.
Bem-humorado, Bana conta que na Austrália "não se estuda história política do Oriente Médio", a primeira coisa que fez ao ser convidado por Spielberg foi começar a ler. No entanto, não opina sobre os últimos 50 anos de guerra e conflito -repete a convenção: "É frustrante".
Considerou que o filme deixou uma marca pesada, amenizada pelo humor seco no roteiro de Tony Kushner e Eric Roth -como na insistência do Mossad por notas fiscais dos gastos do grupo.
Veja trechos da entrevista concedida em Los Angeles no início do mês. (LS)

 

Folha - O tema polêmico do filme te perturbou?
Eric Bana -
Nem um pouco. Sabíamos que a repercussão teria duas fases. A primeira foi inteiramente previsível: a controvérsia antes mesmo da estréia. Na segunda, os críticos aplaudiram.

Folha - Como você se preparou para o papel?
Bana -
Eu sabia sobre Munique, mas não do que aconteceu depois. Além do preparo militar, estudei para interpretar um judeu israelense defendendo seu país por nacionalismo. É importante saber a história da região. Precisava entender a natureza frustrante do conflito e como seria viver na cabeça de um personagem real.

Folha - Qual é a frustração?
Bana -
A frustração vem do entendimento de que há boas intenções dos dois lados para alcançar uma solução. Mas surgem imposições práticas, um golpe, falta de densidade política de um líder.

Folha - Qual foi a cena mais difícil do filme?
Bana -
Ah, havia muitas (risos). Foram umas seis ou sete.

Folha - Fale de uma.
Bana -
Eu diria que a conversa com o militante palestino na escadaria foi bem difícil. Tínhamos de ser fiéis ao texto. Mas tecnicamente foi complicado interpretar um judeu israelense do Mossad que fingia ser um alemão do Exército da Facção Vermelha que discutia o futuro de Israel com um militante da OLP. Como mostrar o que Avner estava sentindo para o público sem revelar sua origem? Mas conseguimos mostrar uma ligação emocional entre os dois, era algo que Spielberg deixou claro que queria extrair da cena.

Folha - Te impactou interpretar a deterioração moral e enlouquecimento de Avner?
Bana -
Sim, demora um tempo para sacudir os efeitos. Eu percebi que fiquei muito mais ansioso que o normal. Fico reparando, vigiando tudo que acontece à minha volta, como se meu cérebro tivesse ficado habituado.

Folha - O sarcasmo e humor áspero do filme ajudaram?
Bana -
Era um alívio necessário, especialmente o humor negro de Spielberg no set, entre cenas. Era tudo muito pesado, drenava todas as nossas energias.

Folha - Israelenses acharam que o filme não os favorece.
Bana -
Não é algo que eu queira comentar.


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