São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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São Paulo Fashion Week/Outono-inverno 2007

Ronaldo Fraga revoluciona com China fashion e política

Estilista faz performance para mostrar coleção complexa; Herchcovitch faz pop-polar

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A São Paulo Fashion Week finalmente ganhou ares de uma grande semana de moda, com um sensacional desfile-performance de Ronaldo Fraga, inspirado na China, e a deliciosa coleção masculina de Alexandre Herchcovitch, com referências à Islândia e aos esquimós.
Ao observar, na passarela, os desdobramentos do universo criativo desses dois estilistas, fica evidente o abismo que os separa do circuito mediano da moda brasileira -aproximando-os dos grandes criadores internacionais. Se nem sempre acertaram em cheio, também nunca apresentaram coleções irrelevantes, descartáveis.
Ronaldo transformou a passarela em dois mesões comunitários e colocou em torno deles dezenas de descendentes orientais chineses (e alguns japoneses, como o estilista Jum Nakao) comendo bolinhos de arroz. Todos vestiam uniformes com símbolos de grandes marcas da controversa economia global e chinesa -marcada por um desenvolvimento extraordinário e pelas denúncias de trabalho escravo-, como se estivessem no intervalo de almoço numa fábrica.
Nas roupas, modelagens amplas, com quimonos, uniformes, leggings, vestidos soltos e macacões. As estampas viajaram da China de Mao Tsé-tung à pirataria de CDs, passando pelos sapatos (originais ou não), um dos produtos-fetiche da indústria de moda chinesa, que tanto têm causado problemas ao mercado brasileiro.
Acabamentos impecáveis e grande riqueza das idéias completam o quadro desenhado por Fraga, que foi do simples desejo fashion à política, sem chatice e com muito conteúdo.
Já Alexandre Herchcovitch, com seus adoráveis homens das neves, mostrou mais uma vez a força de seu streetwear inventivo e divertido, criando um inverno pop nos pólos. A coleção é formada por uma série de roupas em pelúcia, que apareceu nos detalhes dos ótimos capuzes com a parte traseira, em golas, coletes e até mesmo compondo looks inteiros com casaco e calça peluda.
Continuam fortes as propostas com sobreposições, inclusive com uma série de bermudas usadas sobre leggings tipo pijama. Os macacões, como o inteiriço de patrulheiro polar que abriu o desfile ou o com alças de suspensório, também são dos mais bacanas. Os acessórios foram um sucesso à parte: as luvinhas sem dedos e os tênis plastificados devem virar hit.
Glória Coelho mostrou uma coleção de garotas aristocráticas e dândis, recorrendo a arquétipos da elegância masculina dos séculos 18 e 19, misturados ao estilo rocker. Os casacos com recortes e aberturas, sempre muito elegantes, e as belas pelerines chamaram a atenção. O desfile resultou forte e impecável, brincando com imagens do feminino e do masculino, da tradição e do presente.


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