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São Paulo Fashion Week/Outono-inverno 2007
Ronaldo Fraga revoluciona com China fashion e política
Estilista faz performance para mostrar coleção complexa; Herchcovitch faz pop-polar
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A São Paulo Fashion Week finalmente ganhou ares de uma
grande semana de moda, com
um sensacional desfile-performance de Ronaldo Fraga, inspirado na China, e a deliciosa coleção masculina de Alexandre
Herchcovitch, com referências
à Islândia e aos esquimós.
Ao observar, na passarela, os
desdobramentos do universo
criativo desses dois estilistas,
fica evidente o abismo que os
separa do circuito mediano da
moda brasileira -aproximando-os dos grandes criadores internacionais. Se nem sempre
acertaram em cheio, também
nunca apresentaram coleções
irrelevantes, descartáveis.
Ronaldo transformou a passarela em dois mesões comunitários e colocou em torno deles
dezenas de descendentes
orientais chineses (e alguns japoneses, como o estilista Jum
Nakao) comendo bolinhos de
arroz. Todos vestiam uniformes com símbolos de grandes
marcas da controversa economia global e chinesa -marcada
por um desenvolvimento extraordinário e pelas denúncias
de trabalho escravo-, como se
estivessem no intervalo de almoço numa fábrica.
Nas roupas, modelagens amplas, com quimonos, uniformes, leggings, vestidos soltos e
macacões. As estampas viajaram da China de Mao Tsé-tung
à pirataria de CDs, passando
pelos sapatos (originais ou
não), um dos produtos-fetiche
da indústria de moda chinesa,
que tanto têm causado problemas ao mercado brasileiro.
Acabamentos impecáveis e
grande riqueza das idéias completam o quadro desenhado
por Fraga, que foi do simples
desejo fashion à política, sem
chatice e com muito conteúdo.
Já Alexandre Herchcovitch,
com seus adoráveis homens
das neves, mostrou mais uma
vez a força de seu streetwear inventivo e divertido, criando um
inverno pop nos pólos. A coleção é formada por uma série de
roupas em pelúcia, que apareceu nos detalhes dos ótimos capuzes com a parte traseira, em
golas, coletes e até mesmo
compondo looks inteiros com
casaco e calça peluda.
Continuam fortes as propostas com sobreposições, inclusive com uma série de bermudas
usadas sobre leggings tipo pijama. Os macacões, como o inteiriço de patrulheiro polar que
abriu o desfile ou o com alças de
suspensório, também são dos
mais bacanas. Os acessórios foram um sucesso à parte: as luvinhas sem dedos e os tênis plastificados devem virar hit.
Glória Coelho mostrou uma
coleção de garotas aristocráticas e dândis, recorrendo a arquétipos da elegância masculina dos séculos 18 e 19, misturados ao estilo rocker. Os casacos
com recortes e aberturas, sempre muito elegantes, e as belas
pelerines chamaram a atenção.
O desfile resultou forte e impecável, brincando com imagens
do feminino e do masculino, da
tradição e do presente.
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