São Paulo, quarta, 27 de janeiro de 1999

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Roqueiros e punks trocam barulho pelo swing


Bandas revivem o ritmo dançante que dominou o mundo seis décadas atrás e vendem mais de 1 milhão de discos


CARLOS CALADO
especial para a Folha

Nos anos 30 e 40, ele reinou absoluto como o ritmo dançante mais popular do planeta. Seis décadas depois, o swing retorna às paradas de sucessos, despertando mais uma vez a atenção dos jovens.
Discos de bandas que estão dando uma nova roupagem a esse estilo musical já ultrapassaram a marca de 1 milhão de cópias vendidas só nos Estados Unidos.
Essa onda também começa a chegar ao Brasil, embora de modo discreto. Incluída na trilha sonora da finda novela "Torre de Babel", a dançante "Zoot Suit Riot" antecipou aqui o lançamento do CD da banda norte-americana Cherry Poppin' Daddies, uma das campeãs em vendagem no gênero.
Com nomes engraçados, inspirados em gírias da era do swing, bandas como Big Bad Voodoo Daddy, Royal Crown Revue, Squirrel Nut Zippers, Lavay Smith & Her Red Hot Skillet Lickers, Blues Jumpers, Steve Lucky & The Rhumba Bums, The New Morty Show e The Flying Neutrinos estão entre as mais populares.
O "revival" vai além da música. Na faixa dos 20 e 30 anos, boa parte do público atraído pela energia do novo swing comparece aos shows como se estivesse na década de 40. Muitos usam ternos e chapéus de gângster, sapatos bicolores e vestidos rodados com uma assumida inspiração retrô.
Promovendo noites de swing, casas noturnas dos EUA, como a Deluxe (em São Francisco, na costa oeste, onde a onda começou), Supper Club (Nova York) e Green Mill (Chicago) têm servido de cenários para frenéticas sessões dançantes, repletas de rodopios e passos acrobáticos.
Assim como as novas bandas recriam o swing e o "jump blues" de ídolos do passado, especialmente Cab Calloway, Louis Jordan e Louis Prima, os bailarinos de hoje estão resgatando estilos negros de dança já quase esquecidos, como o "lindy" (uma espécie de swing coreografado).
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Ex-punks
Bem curioso também é o fato de vários músicos que se converteram ao neo-swing serem ex-punks. Esse é o caso de Scotty Morris e Kurt Sodergren, respectivos vocalista e baterista da Big Bad Voodoo Daddy, banda que ganhou projeção nacional, nos EUA, ao participar do filme independente "Swingers" -ainda inédito por aqui.
Eddie Nichols, da banda Royal Crown Revue, e Vise Grip, dos Ambassadors of Swing, são outros figurões da cena neo-swing que trocaram as correntes e os cabelos à moicano por ternões listrados e blues suingados.
Por mais inusitado e irônico que possa parecer, a intenção de várias dessas bandas é "fundir a sofisticação harmônica do swing com a energia do punk", como costuma dizer o cantor, guitarrista e ex-punk Steve Perry, líder dos Cherry Poppin' Daddies.
Outro veterano roqueiro que hoje empresta seu nome a uma das orquestras mais populares do novo swing é Brian Setzer. No início dos anos 80, esse cantor e guitarrista comandou os Stray Cats -banda que chamou atenção no cenário pop ao resgatar o rockabilly quando a "new wave" era a novidade do momento.
Se a onda neo-swing é apenas um modismo passageiro ou vai mesmo se estabelecer como verdadeiro renascimento de um antigo estilo musical, só o tempo poderá dizer. Mas não deixa de ser animador ver ex-punks abrirem seus ouvidos surrados para outros gêneros mais musicais.



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