São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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"DESCONTROLE"

O melhor de Mion da Band ainda é o Mion da MTV

ARTICULISTA DA FOLHA

Marcos Mion foi para a Band para repensar a TV. Seu programa-protesto, "Descontrole", exibido às 20h30, procura criticar os novos caminhos apelativos da TV brasileira. O anti-herói revelado pela MTV faz um antiprograma.
No entanto, o melhor do Mion da Band é ainda o que ele fazia na MTV: ironizar clipes de música e imitar cantores(as). É cedo. "Descontrole" estreou há pouco. Muita coisa vai mudar, o programa pode ganhar fôlego, mas uma barreira foi quebrada: a Band abriu espaço para um dos apresentadores mais instigantes que apareceram, deixando de lado as bombadas oxigenadas.
Mion é um personagem. O ex-ator inventa uma agressividade e impaciência que provocam o telespectador, levando-o a refletir sobre o baixo nível estético dos tempos recentes. Está de olho nos que forjam uma verdade para satisfazer as exigências do mercado.
Faz muito barulho, movimenta-se em excesso e é nitidamente influenciado pela cultura "trash", o que fez com que muitos o considerem o Ratinho jovem. Mas Ratinho apela. Mion apela para mostrar o ridículo do apelo.
No seu programa, na última quinta, discutiu-se a morte, e o telespectador foi avisado que um artista esquecido pela "Casa dos Artistas" iria se matar diante das câmeras, porque não suportava o recém-adquirido anonimato.
Para debater o assunto, "porque todo programa jovem tem de ter debate", zombou, ele apresentou uma "gostosa", "porque todo programa jovem tem de ter uma gostosa, e ela está aqui para debater com a gente porque é gostosa".
Ele levou ainda uma vidente e uma espécie de Forest Gump, personagem de Tom Hanks, que estava presente em diversos acidentes e, diante de um "chroma key", apontava onde estava. Observação dois: era mentira, e o cara era um ator qualquer. Depois, Mion abriu o microfone para a platéia, "porque em programa de jovem, jovem tem de falar", zombou mais uma vez. O jovem que falou não sabia quem era Darwin.
Mion era assistido por Cidão, o sujeito desengonçado revelado pelo "Piores Clipes", e por um corvo. Ainda havia uma jam com roqueiros. Na sexta, não tinha a banda. Nem debate. Mas tinha Mion imitando Nelson Ned e gozando de um clipe de Michael Jackson, como fazia na MTV.
Já se tornou uma regra: a MTV arrisca, ensina e revela, para outras emissoras levarem o passe. Alguns deram certo na TV aberta, como Gastão, agora na TV Cultura. A ex-VJ Maria Paula se deu bem na Globo, é a senhora Casseta. Uma colega sumiu da telinha, a ex-VJ Cuca, que do "Disk MTV" foi fazer sorteio no "Faustão".
Outros foram, não se adaptaram e voltaram aos braços da MTV, como Cazé e Thunderbird. Neste caso, a emissora do Sumaré foi uma verdadeira "MãeTV", cujo bom filho à casa retornou. Sabrina tem um programa de clipes na Band. Babi anda ameaçada no SBT. Soninha foi demitida da Cultura, mas escreve sobre futebol na Folha, comenta na ESPN e virou um ícone contra a intolerância.
Por que alguns não têm sobrevida fora da "MãeTV", ninguém entende. Mion, que critica os programas de TV que apelam para dar audiência, sobreviverá se também der audiência. Ele sabe fazer TV, tem muitas idéias e sabe o que diz. Resta saber se o telespectador aceita ser afrontado. (MARCELO RUBENS PAIVA)


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