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"DESCONTROLE"
O melhor de Mion da Band ainda é o Mion da MTV
ARTICULISTA DA FOLHA
Marcos Mion foi para a
Band para repensar a TV.
Seu programa-protesto, "Descontrole", exibido às 20h30, procura criticar os novos caminhos
apelativos da TV brasileira. O anti-herói revelado pela MTV faz
um antiprograma.
No entanto, o melhor do Mion
da Band é ainda o que ele fazia na
MTV: ironizar clipes de música e
imitar cantores(as). É cedo. "Descontrole" estreou há pouco. Muita coisa vai mudar, o programa
pode ganhar fôlego, mas uma
barreira foi quebrada: a Band
abriu espaço para um dos apresentadores mais instigantes que
apareceram, deixando de lado as
bombadas oxigenadas.
Mion é um personagem. O ex-ator inventa uma agressividade e
impaciência que provocam o telespectador, levando-o a refletir
sobre o baixo nível estético dos
tempos recentes. Está de olho nos
que forjam uma verdade para satisfazer as exigências do mercado.
Faz muito barulho, movimenta-se em excesso e é nitidamente influenciado pela cultura "trash", o
que fez com que muitos o considerem o Ratinho jovem. Mas Ratinho apela. Mion apela para mostrar o ridículo do apelo.
No seu programa, na última
quinta, discutiu-se a morte, e o telespectador foi avisado que um
artista esquecido pela "Casa dos
Artistas" iria se matar diante das
câmeras, porque não suportava o
recém-adquirido anonimato.
Para debater o assunto, "porque
todo programa jovem tem de ter
debate", zombou, ele apresentou
uma "gostosa", "porque todo
programa jovem tem de ter uma
gostosa, e ela está aqui para debater com a gente porque é gostosa".
Ele levou ainda uma vidente e
uma espécie de Forest Gump, personagem de Tom Hanks, que estava presente em diversos acidentes e, diante de um "chroma key",
apontava onde estava. Observação dois: era mentira, e o cara era
um ator qualquer. Depois, Mion
abriu o microfone para a platéia,
"porque em programa de jovem,
jovem tem de falar", zombou
mais uma vez. O jovem que falou
não sabia quem era Darwin.
Mion era assistido por Cidão, o
sujeito desengonçado revelado
pelo "Piores Clipes", e por um
corvo. Ainda havia uma jam com
roqueiros. Na sexta, não tinha a
banda. Nem debate. Mas tinha
Mion imitando Nelson Ned e gozando de um clipe de Michael
Jackson, como fazia na MTV.
Já se tornou uma regra: a MTV
arrisca, ensina e revela, para outras emissoras levarem o passe.
Alguns deram certo na TV aberta,
como Gastão, agora na TV Cultura. A ex-VJ Maria Paula se deu
bem na Globo, é a senhora Casseta. Uma colega sumiu da telinha, a
ex-VJ Cuca, que do "Disk MTV"
foi fazer sorteio no "Faustão".
Outros foram, não se adaptaram e voltaram aos braços da
MTV, como Cazé e Thunderbird.
Neste caso, a emissora do Sumaré
foi uma verdadeira "MãeTV", cujo bom filho à casa retornou. Sabrina tem um programa de clipes
na Band. Babi anda ameaçada no
SBT. Soninha foi demitida da Cultura, mas escreve sobre futebol na
Folha, comenta na ESPN e virou
um ícone contra a intolerância.
Por que alguns não têm sobrevida fora da "MãeTV", ninguém
entende. Mion, que critica os programas de TV que apelam para
dar audiência, sobreviverá se
também der audiência. Ele sabe
fazer TV, tem muitas idéias e sabe
o que diz. Resta saber se o telespectador aceita ser afrontado.
(MARCELO RUBENS PAIVA)
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