São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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TEATRO

Trabalho de mestrado de professor associa erros e acertos do festival paranaense aos ventos da cena contemporânea

Curitiba reflete teatro nacional, diz tese

VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dissertação de mestrado defendida há duas semanas na Universidade Federal do Paraná associa erros e acertos de dez anos do Festival de Teatro de Curitiba aos próprios ventos que sopram na cena brasileira contemporânea.
"Podemos afirmar que as inúmeras tentativas de reinventar ou de reorganizar o festival, assim como as tentativas cênicas de (re)inventar esteticamente determinados espetáculos, contribuíram para o crescimento da discussão em torno do tema do teatro no Brasil", escreve o autor da dissertação, o professor de literatura e diretor teatral paranaense Geraldo Peçanha de Almeida, 31.
"Palco Iluminado: O Festival de Teatro de Curitiba" foi avaliada com nota dez em banca dos professores José Roberto Gomes de Farias (USP) e João Alfredo Dall Bello (UFPR). A tese foi orientada pela professora Marta Morais da Costa (UFPR/ PUC-PR).
Almeida lembra, por exemplo, que dos cerca de 400 textos encenados entre 1992-2001, pelo menos 250 eram inéditos.
"Obedientes ou não às convenções cênicas, os inúmeros diretores, atores e técnicos também ajudaram a definir essa complexa arquitetura teatral apresentada pelo Festival de Teatro de Curitiba", afirma Almeida.
A dissertação inclui retrospecto do FTC. Cita o grupo de estudantes que sonhou com o evento em 1991: Carlos Eduardo Bittencourt, então com 22 anos, Cássio Chamecki, 20, César Heli Oliveira, 22, Leandro Knoplholz, 18, e Victor Aronis, 28, este remanescente e atual diretor-geral.
Desconhecidos pela classe teatral, os estudantes atuaram em parceria com o produtor Yakof Sarkovas, de São Paulo.
Uma festa marcou o lançamento do FTC na extinta casa noturna paulistana Aeroanta, em 9 de dezembro de 91. Entre os convidados, estavam os diretores José Celso Martinez Correa, Antunes Filho, Gabriel Villela, Cacá Rosset, Moacyr Góes e Enrique Diaz; os atores Maria Alice Vergueiro e Antônio Nóbrega; e os cenógrafos José de Anchieta e Romero de Andrade Lima.
O teatro Ópera de Arame foi inaugurado em 19 de março de 92, coincidindo com a abertura da primeira edição do FTC.
Segundo Almeida, a realização do Fringe, a partir da sétima edição, foi um "tiro que saiu pela culatra". A Calvin Entretenimento, empresa que organiza o festival, era pressionada pela classe artística a incluir montagens do Paraná. O que chegou a ser definida como "programação associada", logo consagrou-se como Fringe, apropriação não só do nome da mostra paralela do Festival de Edimburgo, na Escócia, mas também de sua estrutura.
O formato concebido para "agradar àqueles que ficaram de fora" foi bem-recebido. Apesar dos problemas justamente estruturais do Fringe, que recebe companhias de outros Estados, a mostra do ano passado (104 peças) teve, segundo Almeida, as melhores considerações do público se comparada à mostra oficial, inclusive com sessões extras.
Algumas curiosidades sobre os dez anos do FTC. Foram montadas 22 peças de Shakespeare e 21 de Nelson Rodrigues. O público total chega a 650 mil espectadores. Caso a Calvin vendesse o festival para outra produtora, ele custaria cerca de US$ 5 milhões.
"O FTC é um festival de mídia, de marketing, porque é privado, mas isso não deve macular a sua importância", diz o professor da Faculdade Opet. Em breve, ele pretende publicar em três livros o resultado da dissertação (600 páginas e dois volumes).

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