|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA/LANÇAMENTO
"JOIN THE DOTS"
Raridades inéditas e todos os lados B de singles da banda britânica são reunidos em caixa com quatro CDs
The Cure narra a história do pós-punk
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Quando fala-se em revoluções
recentes na música pop, estilos
como o punk rock e a eletrônica
são lembrados de imediato.
Aqueles que ficam no meio do caminho têm seu valor relativizado
com o passar do tempo.
O grupo inglês The Cure é um
desses casos. O lançamento da
caixa de CDs "Join the Dots" põe
em evidência um dos grupos mais
criativos e influentes que surgiram na esteira do punk na Inglaterra, em fins dos anos 70.
Na época, grupos-símbolos do
estilo, como Sex Pistols, já eram
devorados pela indústria cultural
e geravam inúmeras cópias. A geração seguinte embarcava, grosso
modo, em duas vertentes distintas. Havia o lado pop do punk
-que desembocou na new wave;
outros, mantiveram seu lado
sombrio e "sem futuro", no que
resultou no gótico.
O Cure, na primeira metade dos
anos 80, tornou-se um dos principais nomes dessa geração -ao lado de grupos como Siouxsie and
the Banshees e Bauhaus.
"Join the Dots" é composto por
quatro CDs -com todos os lados
B de singles e raridades, abarcando o período 1978-2001 (toda a
carreira do Cure até o momento
em 70 músicas)- e um livro contando a história de cada faixa.
A primeira vem de 1978, quando o Cure lançou o single "Killing
an Arab", que trazia como lado B
"10:15 Saturday Night" (presente
nesta caixa). "A primeira coisa
que sempre fazia quando pegava
um novo single era virá-lo e ouvir
o outro lado. Sempre tinha a expectativa de que o lado B fosse me
dar uma nova versão do artista,
algo tão bom quanto o lado A,
mas de alguma forma diferente.
Esperava grandes lados B dos artistas que eu amava", diz Smith no
livro que acompanha a caixa.
A estréia do Cure não aconteceria sem a ajuda de Chris Parry,
funcionário da Polydor na época.
A gravadora já havia cometido
dois erros históricos ao não assinar com Sex Pistols e The Clash,
ambas sugestões de Parry.
Claro que ele procurava mais
um grupo de mesmo potencial no
meio da enxurrada de fitas demo
que recebia. E foi ao ouvir "10:15"
que ele encontrou "a" banda.
A gravadora, no entanto, viu
mais potencial em "Killing", que
tornou-se o lado A. Para Smith,
"10:15" -canção sobre tédio e espera num sábado à noite, com
guitarras e vocais simulando o barulho de água de uma torneira
pingando- era tão emblemática
que seria o caso de lançarem um
single com dois lados A.
O material mais rico (1978-87)
está no primeiro CD. Essas músicas chegaram a circular nos anos
80 em concorridas versões para fitas cassetes da coletânea "Standing on a Beach" (86). Já nos anos
90, o mercado pirata também
abocanhou essas músicas. Smith
não mente quando fala de seu
apreço pelos lados B -muitos superam as canções principais em
termos de inventividade.
Há, por exemplo, "Splintered in
Her Head" (81), lado B de "Charlotte Sometimes". No Brasil, foi
usada como música-tema da
abertura do programa de entrevistas "Roda Viva" (TV Cultura),
durante os anos 80. A caixa também mostra o Cure aventurando-se no terreno dos covers: "Purple
Haze" (Jimi Hendrix), em versão
fiel -e inédita- e em versão eletrônica; "Hello I Love You"
(Doors), "Young Americans"
(David Bowie), e "World in My
Eyes" (Depeche Mode).
A coleção surge num momento
em que novas bandas de rock, como Hot Hot Heat (Canadá) e
Rapture (EUA), retomam itens
caros ao Cure, como o vocal agudo e anasalado; as canções anticonvencionais, quase bizarras,
que aliam as maiores tolices pop
com uma tensão sombria; e as
guitarras e linhas de baixo que
primam pela simplicidade. Em
outra ponta, "Lovecats" (1984),
um dos maiores hits- da banda,
retorna em versão híbrida para as
pistas de dança com a diva black
Missy Elliot, e em cover no álbum
"Vulnerable", de Tricky. Ao mesmo tempo, o criador da banda,
Robert Smith, tem recebido (e
aceitado) convites para cantar em
discos alheios. Blink 182, Junkie
XL, Blank & Jones são alguns da
lista. É o retorno dos lábios de batom borrado.
Texto Anterior: Teatro: Artistas dão cursos no Sesc Ipiranga Próximo Texto: Crítica: Eterno retorno contempla o pop bizarro Índice
|