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CRÍTICA
Eterno retorno contempla o pop bizarro
DA REDAÇÃO
Garotos que não choram,
garotas exóticas e românticos que acabam morrendo apenas por causa de um beijo.
O universo surrealista criado
pelo The Cure, captado por este
"Join the Dots", vai além das fronteiras musicais. Entre os quatro
CDs presentes, é o da fase inicial
que define melhor a essência do
vocalista e líder Robert Smith.
Há um pouco de expressionismo, folclore japonês e o refugo da
cultura pop em faixas como "I'm
Cold", "Lament" e "Descent". Há
um pouco de Cure em artistas que
vieram depois, como o cineasta
Tim Burton ("Edward Mãos-de-Tesoura") e o quadrinhista Neil
Gaiman ("Sandman"): uma sensação constante de desconforto
com o mundo dito normal permeia uma existência atormentada
pelo mais atroz romantismo.
Há ainda rescaldos do punk
("Pillbox Tales"), o psicodelismo
("Splintered in Her Head") e a entrega às tolices do tecnopop ("The
Dream"). O segundo CD (87-92)
já encontra o Cure naquela que
talvez seja sua fase mais bizarra,
quando acontece o megaestrelato.
Quem imaginaria que canções tão
anticonvencionais cairiam no
gosto do grande público? A criatividade começa a decair também,
com um Cure dividido entre a depressão ("Fear of Ghosts") e a
descontração ("Harold and Joe").
Um Cure mais lento e preocupado com climas está no terceiro
CD (92-96). Na nova década, eles
chegariam com pouco para dizer
em uma produção escassa. A caixa encerra-se com o período mais
recente. Trata-se de um Cure jurássico, com 25 anos, mais preocupado em tocar para ginásios,
longe da criatividade inicial.
Antes de mais nada, o Cure lembra o quanto o pop pode ser desafiador, ainda que toque em rádios
para a grande audiência -que
gosta de um show de horrores.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
Join The Dots
Artista: The Cure
Lançamento: Fiction/Elektra/ Rhino
Quanto: R$ 200, em média (importado)
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