São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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CRÍTICA

Eterno retorno contempla o pop bizarro

DA REDAÇÃO

Garotos que não choram, garotas exóticas e românticos que acabam morrendo apenas por causa de um beijo.
O universo surrealista criado pelo The Cure, captado por este "Join the Dots", vai além das fronteiras musicais. Entre os quatro CDs presentes, é o da fase inicial que define melhor a essência do vocalista e líder Robert Smith.
Há um pouco de expressionismo, folclore japonês e o refugo da cultura pop em faixas como "I'm Cold", "Lament" e "Descent". Há um pouco de Cure em artistas que vieram depois, como o cineasta Tim Burton ("Edward Mãos-de-Tesoura") e o quadrinhista Neil Gaiman ("Sandman"): uma sensação constante de desconforto com o mundo dito normal permeia uma existência atormentada pelo mais atroz romantismo.
Há ainda rescaldos do punk ("Pillbox Tales"), o psicodelismo ("Splintered in Her Head") e a entrega às tolices do tecnopop ("The Dream"). O segundo CD (87-92) já encontra o Cure naquela que talvez seja sua fase mais bizarra, quando acontece o megaestrelato. Quem imaginaria que canções tão anticonvencionais cairiam no gosto do grande público? A criatividade começa a decair também, com um Cure dividido entre a depressão ("Fear of Ghosts") e a descontração ("Harold and Joe").
Um Cure mais lento e preocupado com climas está no terceiro CD (92-96). Na nova década, eles chegariam com pouco para dizer em uma produção escassa. A caixa encerra-se com o período mais recente. Trata-se de um Cure jurássico, com 25 anos, mais preocupado em tocar para ginásios, longe da criatividade inicial.
Antes de mais nada, o Cure lembra o quanto o pop pode ser desafiador, ainda que toque em rádios para a grande audiência -que gosta de um show de horrores.
(BRUNO YUTAKA SAITO)


Join The Dots
    
Artista: The Cure
Lançamento: Fiction/Elektra/ Rhino
Quanto: R$ 200, em média (importado)



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