São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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ERIKA PALOMINO

COLEÇÃO DA PRADA UNE PASSADO & FUTURO

Milão dá novos rumos à moda. A temporada de lançamentos de inverno 2004/2005 entra para a história. Primeiro, com o desfile da Prada, na terça-feira. Depois, com a despedida de Tom Ford na Gucci. De Miuccia Prada, nunca se sabe o que esperar. Desta vez, ela se firma como uma das grandes artífices da moda ao mixar de um jeito moderno diferentes universos e inspirações. Até Marte entra na nova salada da Prada. A primeira pista era dada pelos cenários do arquiteto holandês Rem Koolhas, com as paredes do show-room da via Foggazzaro pintadas como se fossem uma paisagem marciana, vermelha, com dois astronautas ao fundo. Assim a Prada reage aos atuais tempos da humanidade, instalando uma nova era especial na moda, como os criadores fizeram nos anos 60. Mas se a grife olha para o futuro, olha também para o passado, com estampas referentes a Caspar David Friedrich (pintor romântico; 1774-1840) e também, claro, com o approach retrô, evoluindo na silhueta 40/50 da incensada coleção de verão. A brasileira Raquel Zimmerman abre o desfile, em sua primeira participação para a Prada, algo que deverá ser igualmente histórico para sua carreira. A música é uma mistura de "Pedro e O Lobo", de Prokofiev, com "The Planets", de Gustav Holst, e o tom é de extremo cinismo, como convém à Prada, e a trilha empresta um perfume de militarismo russo, sobretudo nos looks mais pesados, de casacos e conjuntos.
A marca desbrava territórios, numa imagem deliciosamente romântica e doce, ao mesmo tempo em que instala uma nova noção para o que entendemos de moda, tangendo na preciosidade do alto luxo; é rico, mas também numa nova maneira. A Prada fala da nova ostentação, da nova elegância. A repetição de palavras não é casual: a Prada É o novo. O mantô chique é displicentemente dobrado nas mangas, e recebem brocados nos cotovelos. E se o estilista é o artista que interpreta o mundo por meio de roupas, Miuccia reage à realidade de videogames, brincando com o ícone do robozinho, acessório que apareceu no masculino e que já estampa deliciosas bolsonas na nova loja (igualmente histórica) da Via Santa Andrea, somente para acessórios, aberta terça. No Universo Prada, está tudo interligado.

D-SQUARED ESTÁ EM CASA
Na D-Squared dos gêmeos canadenses Dan e Dean Caten, aparece o brilho de outra brasileira, Michelle Alves, que abriu o desfile num colã de lã preto, pernas de fora, descendo de uma corda na passarela decorada como uma estação de esqui.
A marca, que recentemente foi comprada pela Diesel, sabe como tirar soluções criativas de idéias simples. "Nós não queremos reinventar a roda, queremos apenas que ela gire melhor", explicam. E como gira. Com elementos dos equipamentos de esqui desdobrados até mesmo em vestidos de cetim desnudos, como o de grandes nós de cordas de Erin O'Connor, que encerrou o desfile, os irmãos se sentem em casa (o Canadá). Principalmente quando encostam no western, lembrando o famoso look em xadrez e calça recortada com couro, usada por Madonna em "Don't Tell Me" (aqui eles enxugam a calça para um comprimento capri adicionando megabolsos utilitários da montanha com resultado sexy).
As melhores megaparkas do inverno e deliciosos tricôs de lã com ingênuos desenhos de alce completam proporções descoladas e o jeans que transforma toda mulher no bumbum dos sonhos. A marca deveria ser dever de casa para criadores brasileiros de olho numa moda comercial e criativa. A maior prova de sucesso: muita gente na platéia usando as roupas.

ATENÇÃO PARA AS TENDÊNCIAS DA HORA
Elementos novos na estação: o comprimento abaixo do joelho, nos vestidos, na silhueta mais solta. E a década do momento para os estilistas trabalhando dentro das tendências: anos 70. Na Sport Max e na Byblos, por exemplo, que trouxe referência em "Os Olhos de Laura Mars", e para Alessandro Dell'Acqua, que acionou "O Último Tango em Paris". A silhueta alongada e um certo espírito hippie, além de uma feminilidade palpitante, ajudam a compor um novo imaginário feminino para a próxima estação européia. Os anos 50 ainda aparecem desdobrados num ideal de elegância, feito de uma maneira atual.

GLAMOUR ENCERRA ERA TOM FORD
O estilista norte-americano Tom Ford fez anteontem em Milão sua despedida da marca Gucci, onde ele ficou nos últimos dez anos, definindo um estilo e construindo uma verdadeira era na moda. Sua saída da companhia, devido a um impasse nas negociações de seu contrato, marcam um momento novo na indústria do vestuário do planeta, que aponta o término da figura do estilista como superstar. A partir de agora deverá contar mais o valor da marca do que personalidades individuais. O futuro de Tom Ford ainda é incerto, assim como quem será seu substituto na marca. Também na Yves Saint Laurent, que ele desenha, seu sucessor ainda não foi escolhido. O desfile da YSL acontece dia 7 de março em Paris.
Para seu canto dos cisnes na Gucci, Ford apresentou uma espécie de pout-pourri de seu estilo com os fundamentos do glamour Gucci: saia-lápis, salto alto, legging, couro, incríveis vestidos de cetim (em clima hollywoodiano), cabelo preso, óculos gigantes e uma maquiagem bem acabada com olhos escuros, tudo o que fez o desejo das mulheres e do mundo nos últimos anos. Ford acionou todos os elementos da emoção como chuva de pétalas, hits de desfiles anteriores da marca ("Killing me Softly", do The Fugees era um deles), paetês e bastante brilho (que os italianos adoram). Mas o que mais tocou o público de moda que lotava como nunca a sala do hotel Diana foi a presença da modelo Georgina Greenville com o famoso vestido de jersey branco com recorte em gota à la Halston, dos momentos mais fortes de sua trajetória na grife. Um desfile literalmente definitivo.

palomino@uol.com.br
www.erikapalomino.com.br


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