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ERIKA PALOMINO
COLEÇÃO DA PRADA UNE PASSADO & FUTURO
Milão dá novos rumos à moda.
A temporada de lançamentos de
inverno 2004/2005 entra para a
história. Primeiro, com o desfile
da Prada, na terça-feira. Depois,
com a despedida de Tom Ford
na Gucci. De Miuccia Prada,
nunca se sabe o que esperar.
Desta vez, ela se firma como uma
das grandes artífices da moda ao
mixar de um jeito moderno diferentes universos e inspirações.
Até Marte entra na nova salada
da Prada. A primeira pista era
dada pelos cenários do arquiteto
holandês Rem Koolhas, com as
paredes do show-room da via
Foggazzaro pintadas como se
fossem uma paisagem marciana,
vermelha, com dois astronautas
ao fundo. Assim a Prada reage
aos atuais tempos da humanidade, instalando uma nova era especial na moda, como os criadores fizeram nos anos 60. Mas se a
grife olha para o futuro, olha
também para o passado, com estampas referentes a Caspar David Friedrich (pintor romântico;
1774-1840) e também, claro, com
o approach retrô, evoluindo na
silhueta 40/50 da incensada coleção de verão. A brasileira Raquel
Zimmerman abre o desfile, em
sua primeira participação para a
Prada, algo que deverá ser igualmente histórico para sua carreira. A música é uma mistura de
"Pedro e O Lobo", de Prokofiev,
com "The Planets", de Gustav
Holst, e o tom é de extremo cinismo, como convém à Prada, e
a trilha empresta um perfume de
militarismo russo, sobretudo
nos looks mais pesados, de casacos e conjuntos.
A marca desbrava territórios,
numa imagem deliciosamente
romântica e doce, ao mesmo
tempo em que instala uma nova
noção para o que entendemos de
moda, tangendo na preciosidade
do alto luxo; é rico, mas também
numa nova maneira. A Prada fala da nova ostentação, da nova
elegância. A repetição de palavras não é casual: a Prada É o novo. O mantô chique é displicentemente dobrado nas mangas, e
recebem brocados nos cotovelos. E se o estilista é o artista que
interpreta o mundo por meio de
roupas, Miuccia reage à realidade de videogames, brincando
com o ícone do robozinho, acessório que apareceu no masculino e que já estampa deliciosas
bolsonas na nova loja (igualmente histórica) da Via Santa
Andrea, somente para acessórios, aberta terça. No Universo
Prada, está tudo interligado.
D-SQUARED ESTÁ
EM CASA
Na D-Squared dos gêmeos canadenses Dan e Dean Caten,
aparece o brilho de outra brasileira, Michelle Alves, que abriu
o desfile num colã de lã preto,
pernas de fora, descendo de
uma corda na passarela decorada como uma estação de esqui.
A marca, que recentemente foi
comprada pela Diesel, sabe como tirar soluções criativas de
idéias simples. "Nós não queremos reinventar a roda, queremos apenas que ela gire melhor", explicam. E como gira.
Com elementos dos equipamentos de esqui desdobrados
até mesmo em vestidos de cetim desnudos, como o de grandes nós de cordas de Erin
O'Connor, que encerrou o desfile, os irmãos se sentem em casa (o Canadá). Principalmente
quando encostam no western,
lembrando o famoso look em
xadrez e calça recortada com
couro, usada por Madonna em
"Don't Tell Me" (aqui eles enxugam a calça para um comprimento capri adicionando megabolsos utilitários da montanha com resultado sexy).
As melhores megaparkas do inverno e deliciosos tricôs de lã
com ingênuos desenhos de alce
completam proporções descoladas e o jeans que transforma
toda mulher no bumbum dos
sonhos. A marca deveria ser dever de casa para criadores brasileiros de olho numa moda comercial e criativa. A maior prova de sucesso: muita gente na
platéia usando as roupas.
ATENÇÃO PARA AS
TENDÊNCIAS DA HORA
Elementos novos na estação: o
comprimento abaixo do joelho,
nos vestidos, na silhueta mais
solta. E a década do momento
para os estilistas trabalhando
dentro das tendências: anos 70.
Na Sport Max e na Byblos, por
exemplo, que trouxe referência
em "Os Olhos de Laura Mars", e
para Alessandro Dell'Acqua,
que acionou "O Último Tango
em Paris". A silhueta alongada e
um certo espírito hippie, além
de uma feminilidade palpitante,
ajudam a compor um novo
imaginário feminino para a
próxima estação européia. Os
anos 50 ainda aparecem desdobrados num ideal de elegância,
feito de uma maneira atual.
GLAMOUR ENCERRA
ERA TOM FORD
O estilista norte-americano
Tom Ford fez anteontem em
Milão sua despedida da marca
Gucci, onde ele ficou nos últimos dez anos, definindo um estilo e construindo uma verdadeira era na moda. Sua saída da
companhia, devido a um impasse nas negociações de seu
contrato, marcam um momento novo na indústria do vestuário do planeta, que aponta o término da figura do estilista como
superstar. A partir de agora deverá contar mais o valor da
marca do que personalidades
individuais. O futuro de Tom
Ford ainda é incerto, assim como quem será seu substituto na
marca. Também na Yves Saint
Laurent, que ele desenha, seu
sucessor ainda não foi escolhido. O desfile da YSL acontece
dia 7 de março em Paris.
Para seu canto dos cisnes na
Gucci, Ford apresentou uma espécie de pout-pourri de seu estilo com os fundamentos do
glamour Gucci: saia-lápis, salto
alto, legging, couro, incríveis
vestidos de cetim (em clima
hollywoodiano), cabelo preso,
óculos gigantes e uma maquiagem bem acabada com olhos
escuros, tudo o que fez o desejo
das mulheres e do mundo nos
últimos anos. Ford acionou todos os elementos da emoção
como chuva de pétalas, hits de
desfiles anteriores da marca
("Killing me Softly", do The Fugees era um deles), paetês e bastante brilho (que os italianos
adoram). Mas o que mais tocou
o público de moda que lotava
como nunca a sala do hotel Diana foi a presença da modelo
Georgina Greenville com o famoso vestido de jersey branco
com recorte em gota à la Halston, dos momentos mais fortes
de sua trajetória na grife. Um
desfile literalmente definitivo.
palomino@uol.com.br
www.erikapalomino.com.br
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