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CINEMA/ESTRÉIA
"LANCE DE SORTE"
Ator fala sobre semelhança da vida real e papel interpretado no filme, e projetos fora de Hollywood
Nolte expõe dependência química na tela
ROCÍO AYUSO
DO "EL PAÍS", EM LOS ANGELES
Se Nick Nolte se caracteriza por
uma carreira eclética, obsessiva e
bizarra, sua vida errática e extravagante não é mais do que o reflexo perfeito dessa arte.
Que imagem mais clara se poderia ter desse ator de 62 anos do
que a foto policial em que ele aparece de camisa havaiana, cabelos
desgrenhados e boca entreaberta
que, no ano passado, desviou a
atenção dos americanos da celebração do 11 de Setembro, quando o ator foi detido por dirigir sob
o efeito de drogas?
Em seu trabalho mais recente,
"Lance de Sorte", dirigido por
Neil Jordan, Nolte encarna um
conhecedor das artes e vigarista
decadente que precisa superar
sua dependência de drogas para
dar um último golpe.
Pergunta - Não é um problema
associar sua imagem artística a
seus problemas com as drogas?
Nick Nolte - Fui dependente toda
a minha vida e que não há nada de
novo que eu possa dizer a esse respeito. É uma doença bastante específica e sobre a qual acredito saber o bastante, pois passei todo o
tempo correndo atrás de cientistas para que me expliquem como
funciona. Sem estender-me mais
sobre o assunto, direi que meu cérebro sempre quer mais, porque
não sabe como relaxar, e isso torna-se um problema. Portanto,
não é que eu goste de ser preso
por dirigir sob o efeito de drogas,
mas às vezes situações desse tipo
são necessárias para que eu me dê
conta do meu estado.
Pergunta - A experiência própria
facilitou seu conhecimento do processo de desintoxicação?
Nolte - É um processo duro, e
por isso você é internado num
hospital, mas é bastante padronizado. Eu fui a uma das melhores
clínicas, a Silver Hills. Você passa
28 dias lá, divide o quarto com outra pessoa e é obrigado a lavar sua
própria roupa de baixo, o que faz
bem para a humildade. Você assiste a seis palestras diárias e, quatro semanas mais tarde, está limpo. É claro que o segredo do sucesso está em não recair.
Pergunta - No seu caso, o cigarro
parece ser uma dependência muito
mais difícil de cortar.
Nolte - Aprendi a fumar ainda
criança, e a humanidade inteira
inala fumo, sob a forma de cigarros ou outra, há mais de 10 mil
anos, se bem que dentro em breve
vai ficar impossível fumar nos Estados Unidos. Meu espírito investigativo me leva a ser a favor de
um tabaco mais puro.
Pergunta - Foi esse interesse
científico que o levou, neste ano, a
trabalhar numa grande produção
de Hollywood como ""Hulk"?
Nolte - Desde o momento em
que Ang Lee chegou à minha casa
e me disse que não sabia como fazer um filme de super-heróis e
que, por isso, o que queria era fazer uma grande tragédia, ele despertou todo meu interesse. Ele é
mais inteligente do que tudo isso.
Pergunta - Seus projetos mais recentes foram feitos fora de Hollywood, trabalhando agora com Neil
Jordan ou com o diretor norueguês
Hans Peter Molland em "Beautiful
Country". Por quê?
Nolte - Fora de Hollywood não
existe o "star system" que tanto
pesa, no qual tudo gira em torno
dos astros e estrelas. As criações
de Hollywood não passam de
produtos enlatados que não parecem nem sequer precisar de roteirista.
Tradução de Clara Allain
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