São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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MÚSICA

Evento lança bases de documento que condena falta de apoio à cultura independente do Rio; prefeitura refuta críticas

Festival Ruído será palco para manifesto

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Firmando-se como um dos principais palcos das bandas independentes do país, o festival carioca Ruído dá início hoje a sua terceira edição pedindo uma cultura independente no Rio de Janeiro... não tão independente. Ou, como afirmam os autores de um manifesto que será lançado no evento, não tão desamparada.
Juntamente às apresentações que acontecem até domingo, a organização do Ruído divulgará as bases de um documento a ser entregue à Prefeitura do Rio em que diz que a cidade "perdeu o posto de capital cultural" e que o poder público "trata com total descaso, preconceito e ignorância a produção independente carioca".
O festival, criado em 2002 como uma alternativa roqueira à programação do Carnaval, terá uma programação de três dias na casa Ballroom, em que figuram quase em sua totalidade bandas sem contrato com grandes gravadoras como os paulistas do Los Pirata, os baianos Nancyta e os Grazzers e a carioca Leela -num total de 18 bandas de seis Estados.
Segundo Rodrigo Quik, 30, do grupo Narjara (que também está no festival) e um dos organizadores do evento, a movimentação em torno do manifesto já vem ocorrendo desde setembro do ano passado e seu foco é centrado nas ações da prefeitura, considerando que a capital fluminense é ponto irradiador de influência cultural para todo o Estado e, principalmente, que 2004 é ano de eleições municipais, quando a discussão sobre projetos políticos de vários setores será retomada.
Durante o Ruído, o objetivo, de acordo com Quik, é chamar as pessoas para o debate acerca de um plano de cultura independente no Rio. Após a discussão e definição de um documento, será feito seu lançamento em eventos culturais e sua entrega em ato público à administração municipal e ao governo estadual, para, segundo Quik, "não dizerem: "ah, mas ninguém nos procurou'".
O organizador e mentor do manifesto afirma que "todas as produções culturais aqui no Rio são relacionadas a grandes empresas ou a grandes empresários da noite carioca, ou já esquematizados com o poder público ou privado. Na verdade a produção cultural independente é só rechaçada".
Quik diz que os artistas de pouco apelo popular não são acolhidos pela prefeitura e que a programação das lonas culturais -centros que apresentam shows e promovem oficinas em diversos bairros do Rio- atende apenas artistas de grande porte.
"A gente nem é contra que a prefeitura subsidie atrações populares. Tem de dar força para a produção massificada. Por outro lado, [a prefeitura] tem de incentivar o artista novo, o que está à margem da sociedade cultural."
Para Quik, é necessário formar uma "indústria cultural" no Rio, no sentido de um mercado que consiga gerar empregos, já que sua ausência "deixa milhares de pessoas subempregadas ou desempregadas, pessoas de talento que são obrigadas a abandonar sua profissão no meio artístico porque, sinceramente, não dá para tirar leite de pedra".
O organizador diz que uma das idéias futuras é definir um candidato a vereador "que represente a cultura independente, como forma de levar à prática as idéias do projeto".


RUÍDO. Quando: hoje (21h), sábado (21h) e domingo (19h). Onde: Ballroom (r. Humaitá, 110, Humaitá, tel. 0/xx/21/ 2537-7600). Quanto: de R$ 12 a R$ 15 (meia-entrada para estudante).


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