São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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Oscar 2007

Al Gore faz campanha sem fazer campanha

Democrata desconversa sobre candidatura à Presidência e faz apelo ambiental

Seu documentário sobre aquecimento global, "Uma Verdade Inconveniente", levou os Oscars da categoria e de melhor canção original


DO ENVIADO A LOS ANGELES

"Senhor presidente? Senhor presidente?" O primeiro jornalista a disparar a primeira pergunta a Al Gore nos bastidores do 79º Oscar resumia com a gafe o clima da noite. Se o vencedor artístico foi Martin Scorsese, o ganhador político foi mesmo o ex-vice-presidente democrata, eleito pelo voto popular em 2000 e derrotado por uma decisão da Suprema Corte, que deu a vitória a George W. Bush.
Já no início da cerimônia de domingo, a apresentadora Ellen DeGeneres tentou explicar ao público a "complicada" situação do dublê de ativista ambiental -que se apresenta em suas palestras sobre aquecimento global como "Meu nome é Al Gore e eu costumava ser o presidente dos Estados Unidos"- e hesitante pré-candidato à corrida de 2008:
"Jennifer Hudson está aqui hoje. Olhe só. Vou falar uma coisa. Jennifer Hudson estava no "American Idol", os EUA não votaram nela, e mesmo assim ela está aqui indicada ao Oscar. Isso é incrível. E Al Gore está aqui, os EUA votaram nele, e mesmo assim... É complicado".
A atriz e cantora, que ganharia a categoria de coadjuvante por sua participação no musical "Dreamgirls - Em Busca de um Sonho", foi eliminada pelo programa de calouros mais popular da TV dos EUA antes de chegar à final, uma decisão considerada injusta e equivocada por fãs e muitos na indústria fonográfica.
Já o político estava em casa. Chegou cedo ao tapete vermelho, deu entrevistas, subiu ao palco com Leonardo DiCaprio para anunciar que a Academia tinha tomado medidas para ser uma cerimônia "verde", ou que agride pouco o meio ambiente, brincou que anunciaria a candidatura, passou sua mensagem ambiental e fez um apelo ao bipartidarismo ao receber o Oscar de documentário.
Tudo muito politicamente correto, mas ele vai concorrer? "Não tenho planos de me tornar um candidato presidencial de novo. Estou envolvido numa campanha diferente, de continuar a tentar convencer as pessoas do mundo inteiro, especialmente as daqui, a resolver com sucesso a crise climática."
Mais para a frente, Laurie David, uma das produtoras do documentário, conhecida ativista ambiental (e mulher do comediante Larry David, de "Seinfeld" e "Segura a Onda"), foi instada a comentar a questão de financiamento da campanha de 2008 e se ela trabalharia por Hillary Clinton: "Acho que ainda é muito cedo".
"Vou dar mais um tempo para ver quem mais vai entrar na corrida", para depois olhar para Al Gore e dizer, sorrindo: "Você nunca sabe...". Uns quilos mais gordo, o ex-vice-presidente sorriu de volta. Se decidir concorrer à Casa Branca e ganhar, alguém lembrou, terá uma honra que nem o ex-ator Ronald Reagan teve: poderá adornar o Salão Oval com um Oscar.
Quanto ao jornalista que o chamou de presidente no começo, o próprio o autorizaria: "Eu fui presidente do Senado, então não é inapropriado", respondeu. (SÉRGIO DÁVILA)


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