São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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Comentário

É preciso remar contra essa onda das estátuas!

FERNANDO BONASSI
COLUNISTA DA FOLHA

Para desafinar o coro dos babacas, é preciso remar contra a onda das estátuas!
Nunca é demais lembrar aquele velho dramaturgo, roteirista ou comunista alemão: que é realmente muito, mas muito triste que um artista precise de estátuas para se animar a criar.
É triste como enterro de criança que esta imprensa endividada precise de estátuas para ter o que dizer dos artistas embalados por modistas; e mais burro, duro ou triste do que isso é a educação artís- tica de uma população que precisa de estátuas para se dis- trair da sua própria situação, que só não é parada como essa merda dessa estátua cobiçada porque a miséria mais fedida em que se agita essa massa é uma barbárie desgraçada de aflita...
É aqui mesmo, macacada, onde a molecada se arrasta como o Judas que é linchado por prefeitos tresloucados!
É triste para caramba, para não dizer besteira numa terça-feira de trabalho!
É muito, mas muito triste ver um país de dedo em riste ou apontado para os gatilhos dos controles cair nessas armadilhas de propaganda charmosa, ou enganosa, e parar para ver passar um instante infeliz, gozando com a coisa da pompa do luxo alheio, apesar do lixo feio em que vivem mergulhados e amesquinhados.
Desculpem-me os que precisam de ilusão para viver e também os camaradas e companheiros dessas lidas, que demonizavam a dita estátua até pouco tempo atrás, mas que agora gostariam de tê-la, nem que fosse por um momento, entronizada num altar de suas salas decoradas com a boa e honesta renúncia fiscal.
Minha prezada classe profissional do bem-estar social: ela ainda é aquela estátua normal, aquela velha e boa estátua moral, como a dos cartazes antigos, com um sorriso malicioso apontado para as nossas caras: "I can't get no satisfaction..."
Politics, wars.
Do you remember, guys?
Aliás, nunca é mesmo demais lembrar que o melhor dessas estátuas talvez sejam os milhões de dólares, ienes ou eu- ros que elas trazem aos ganhadores.

Do bolso da gente
Convém reiterar que só umas duas dúzias de cidadãos norte-americanos, mais ou menos americanos ou aceitos pela indústria cultural dos estadunidenses de um modo geral é que ganham a tal da estátua a cada ano e que tudo que eles ganham, de um modo ou de outro, sai do frouxo bolso da gente.
Quem pode pode; quem não pode agüenta as múmias e seus piores comentários críticos nas esforçadas traduções simultâneas.
The Oscar goes to you, "bro"!


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