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Comentário
É preciso remar contra essa onda das estátuas!
FERNANDO BONASSI
COLUNISTA DA FOLHA
Para desafinar o coro dos
babacas, é preciso remar contra a onda das
estátuas!
Nunca é demais lembrar
aquele velho dramaturgo, roteirista ou comunista alemão:
que é realmente muito, mas
muito triste que um artista precise de estátuas para se animar
a criar.
É triste como enterro de
criança que esta imprensa endividada precise de estátuas para ter o que dizer dos artistas
embalados por modistas; e
mais burro, duro ou triste do
que isso é a educação artís-
tica de uma população que precisa de estátuas para se dis-
trair da sua própria situação,
que só não é parada como essa
merda dessa estátua cobiçada
porque a miséria mais fedida
em que se agita essa massa é
uma barbárie desgraçada de
aflita...
É aqui mesmo, macacada,
onde a molecada se arrasta como o Judas que é linchado por
prefeitos tresloucados!
É triste para caramba, para
não dizer besteira numa terça-feira de trabalho!
É muito, mas muito triste ver
um país de dedo em riste ou
apontado para os gatilhos dos
controles cair nessas armadilhas de propaganda charmosa,
ou enganosa, e parar para ver
passar um instante infeliz, gozando com a coisa da pompa do
luxo alheio, apesar do lixo feio
em que vivem mergulhados e
amesquinhados.
Desculpem-me os que precisam de ilusão para viver e também os camaradas e companheiros dessas lidas, que demonizavam a dita estátua até pouco tempo atrás, mas que agora
gostariam de tê-la, nem que
fosse por um momento, entronizada num altar de suas salas
decoradas com a boa e honesta
renúncia fiscal.
Minha prezada classe profissional do bem-estar social: ela
ainda é aquela estátua normal,
aquela velha e boa estátua moral, como a dos cartazes antigos, com um sorriso malicioso
apontado para as nossas caras:
"I can't get no satisfaction..."
Politics, wars.
Do you remember, guys?
Aliás, nunca é mesmo demais
lembrar que o melhor dessas
estátuas talvez sejam os milhões de dólares, ienes ou eu-
ros que elas trazem aos ganhadores.
Do bolso da gente
Convém reiterar que só umas
duas dúzias de cidadãos norte-americanos, mais ou menos
americanos ou aceitos pela indústria cultural dos estadunidenses de um modo geral é que
ganham a tal da estátua a cada
ano e que tudo que eles ganham, de um modo ou de outro,
sai do frouxo bolso da gente.
Quem pode pode; quem não
pode agüenta as múmias e
seus piores comentários críticos nas esforçadas traduções simultâneas.
The Oscar goes to you, "bro"!
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