Fotos compõem o livro "Contemporânea Arte Artistas", da paulistana Rosa de Luca; lançamento acontece amanhã na Millan Antonio

Coletânea mescla veteranos como Nelson Leirner e Cildo Meireles e nomes da nova geração como Laura Vinci, Cabelo e Sandra Cinto

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O criador diluído na criatura. A obra de arte como extensão física do corpo do artista. Partindo desse conceito, a fotógrafa paulistana Rosa de Luca, 45, fotografou 60 artistas plásticos brasileiros para compor o livro "Contemporânea Arte Artistas", que será lançado amanhã na galeria Millan Antonio.
Formada em artes pelo Liceo Artístico di Salerno, na Itália, Rosa se enveredou a partir da década de 80 pela fotografia de moda, sempre mantendo em paralelo uma produção pessoal voltada para o circuito de exposições. Lança agora seu primeiro livro após ser incentivada a realizar os retratos pelos amigos e artistas Caetano de Almeida, Edgard de Souza e Iran do Espírito Santo, todos presentes na obra.
Depois de formatar a idéia do livro, a fotógrafa diz ter entrado numa espécie de surto: "Fiz todas as fotos em apenas dois meses. Meu sangue italiano me faz ser impulsiva, obsessiva até. Marcava duas ou três sessões de retratos por dia", conta.
Se o ato criativo surgiu como um jorro incontrolável, o mesmo não aconteceu com o projeto gráfico e a direção de arte, que por opção da fotógrafa também ficaram a cargo dela.
Foram dois anos pensando a seqüência das imagens, a diagramação e o projeto gráfico.
A espinhosa função de eleger os artistas que entrariam no projeto, e conseqüentemente os que ficariam de fora, foi resolvida de forma hábil: "Pedi para que cada artista que era fotografado me indicasse um outro", diz Rosa. Trata-se, portanto, como diz Paula Alzugaray no prefácio do livro, de uma "curadoria orgânica, que funcionou por afinidades eletivas".
Dessa forma, a obra faz uma mescla de artistas veteranos como Antonio Dias, Nelson Leirner, Abraham Palatnik e Cildo Meireles, entre outros, com a geração que despontou na última década como Paula Gabriela, Sandra Cinto, Jarbas Lopes e Laura Vinci.
Um ou outro nome que tenha ficado de fora, no entanto, não tira da obra o mérito de ser um interessante inventário da atual safra de artistas nacionais contemporâneos que têm se destacado nas mais importantes mostras mundo afora.
A linguagem dos retratos foge do padrão do portrait clássico, comum nesse tipo de coletânea, e opta por uma investigação menos formal que possibilita uma maior liberdade criativa na relação estabelecida entre a fotógrafa, o artista e a câmera fotográfica. O uso deliberado da cor, do movimento, da luz ambiente e a recusa do flash tornam as imagens mais orgânicas, como no belo retrato de Antonio Dias. Quando essa química não funciona, porém, o resultado fica aquém da média, como acontece com Beatriz Milhazes e Adriana Varejão.
Os artistas surgem ora imersos e dispersos em seus ateliês, como Daniel Senise e Dora Longo Bahia, ora diluídos ou refletidos em suas próprias obras, como nos casos de Albano Afonso, Cabelo e Lucia Koch. Neste segundo caso, os retratos ganham em intensidade e a fotógrafa consegue que seu trabalho seja um interessante híbrido dos artistas e suas obras. Criador e criatura, enfim, fundidos no instante fotográfico.