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Fórmula e invenção dividiram as telas
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
1997 foi, por um lado, o ano do
cinemão no Brasil. "O Que É Isso,
Companheiro?", "Guerra de Canudos", "O Cangaceiro", "Anahy
de las Misiones", "O Noviço Rebelde": grandes produções, com
orçamentos de vários milhões de
reais, dirigidos ao "grande público", ou ao "mercado".
Sem entrar no mérito contábil
da coisa -o lucro ou prejuízo de
cada um dos filmes-, o que unifica esse bloco (com a possível exceção de "Anahy") é a idéia de que,
para se constituir como produtos
de entretenimento de massa, os
filmes devem moldar-se aos formatos narrativos hegemônicos, ou
seja, os do cinema industrial americano ou das telenovelas.
De um certo ponto de vista, esse
modelo de cinema venceu, uma
vez que chegou ao Oscar ("Companheiro") e à televisão ("Canudos" como minissérie da Globo).
Mas o preço dessa vitória é evidente: diluição estética, perda de
vigor inventivo, impessoalidade.
A criação e o risco continuaram
vivos na produção cinematográfica nacional, só que de maneira
quase marginal e subterrânea.
Novos realizadores como Tata
Amaral ("Um Céu de Estrelas"),
Beto Brant ("Os Matadores"),
Paulo Caldas e Lírio Ferreira
("Baile Perfumado") e José Araújo ("O Sertão das Memórias") fizeram filmes pessoais, inquietos,
cheios de arestas.
Mas não foram apenas esses estreantes que mantiveram acesa a
chama da invenção. Os veteranos
Walter Lima Jr. ("A Ostra e o Vento") e Julio Bressane ("Miramar")
avançaram em seus caminhos absolutamente pessoais de criação.
São autores de cinema, não apenas
profissionais do set.
Há, em princípio, espaço para
tudo no cinema brasileiro: produções para o grande público, filmes
intimistas, experiências radicais
de linguagem. Cabe esperar que o
triunfo do "Companheiro" ajude
a acabar com o complexo de vira-lata dos brasileiros com relação
a seu próprio cinema, mas sem
erigir em molde único o modo
Barreto de fabricar filmes.
Agora que a Rede Globo ameaça
invadir também o cinema, levando junto seu "padrão de qualidade", é bom reafirmar a necessidade de outros padrões, outros modos de produção, outras linguagens, outras vozes.
Se os cineastas brasileiros não
forem donos de suas vozes, repetirão para sempre, canhestramente,
a voz do dono.
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