|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Itália exige registro para pizza napolitana
JOSIMAR MELO
especial para a Folha
Depois de quase um século de vilipêndio, a Itália resolveu encher-se de brios e defender um de
seus símbolos mais marcantes e,
ao mesmo tempo, mais espezinhado: a pizza napolitana. O que melhor representa esse país, dentro e
(principalmente) fora de suas
fronteiras, do que a pizza?
Mas mesmo na Itália há vários
tipos de pizza: daquela espessíssima e retangular, que os estudantes
compram no balcão e saem comendo pela rua a caminho da escola ou de casa, até aquela que
mais se identifica com a imagem
do país, a napolitana -rica em
aromas de tomates frescos e manjericão, espalhados sobre um disco redondo de massa. E, como o
mais acabado representante dessa
última, a pizza margherita.
Para evitar o uso indevido do
termo "pizza napolitana", os italianos querem agora instituí-lo como uma Denominação de Origem
Controlada (DOC, o mesmo tipo
de registro atribuído a vinhos e
outros produtos alimentícios).
Querem também que ela passe a
contar com um selo de garantia,
expedido somente aos estabelecimentos que seguirem com fidelidade sua receita original.
As providências estão em estudo
no UNI (Instituto Nacional de
Unificação), entidade responsável
por fixar as regras de produção de
bens e de serviços.
Se for criada esta Denominação
de Origem Controlada, para ser
reconhecida como autêntica -e
ter direito legal a ostentar esse nome- uma pizza margherita terá
que respeitar uma série de regras.
Por exemplo: usar tomates frescos italianos pelados (nada de molhos prontos), mussarela de búfalo
(jamais de leite de vaca), azeite extravirgem de oliva, ter a massa
aberta a mão -e não com rolo-
e ser assada em forno de lenha
com cúpula refratária, em temperatura entre 420ºC e 480ºC.
O que de resto já acontece nos
melhores restaurantes italianos,
principalmente do sul -mas é redondamente desrespeitado país
afora.
1 milhão ao dia
Um dos primeiros orgulhos nacionais -pois teria sido criada pelo pizzaiolo Raffaele Esposito em
1889 como homenagem a Margherita de Saboya, primeira rainha da
Itália unificada-, a pizza margherita tem as cores do país: o vermelho dos tomates, o branco da mussarela e o verde do manjericão.
Para defendê-la dos plágios, o
UNI pretende não somente definir
a "norma técnica e oficial que certificará que se trata de uma verdadeira pizza napolitana", como pedir o reconhecimento dessas normas pela Comissão Européia.
Os italianos consomem 1 milhão
de pizzas por dia. Entre os consumidores que a comem fora de casa, 62% o fazem em restaurantes
-são 20 mil pizzarias pela Itália.
Um negócio que movimenta US$
2,3 bilhões ao ano -ou US$ 3 bilhões, se aí se incluir a pizza congelada. A coisa, portanto, é séria.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|