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TELEVISÃO
Filme refaz missão de Mário de Andrade
da Reportagem Local
"Sou 300, 350", escreveu Mário
de Andrade (1893-1945). Essa vocação do autor modernista há
muito extrapolou sua obra e está
espalhada em estudos, exposições
e agora num filme: "A Missão das
Pesquisas Folclóricas", que a TV
Cultura co-produziu e exibe hoje à
noite.
A produção é um misto de documentário e ficção sobre a viagem
de quatro pesquisadores ao Norte
e Nordeste do país, em 1938, para
registrar sons e imagens do folclore nacional.
Tal expedição foi idealizada por
Mário de Andrade (autor de "Macunaíma" e "Amar Verbo Intransitivo") quando ele era diretor do
Departamento de Cultura de São
Paulo, seu último cargo público.
Seus resultados constituem até
hoje um dos mais importantes documentos sobre culturas regionais, gravados em seis rolos de filme, 20 horas de música e mais de
7.000 páginas de anotações, entre
elas os diários que serviram como
base para a parte ficcional do documentário.
Para transformar esse material
num filme, o diretor Luiz Adriano
Daminello, 36, resolveu refazer a
viagem. Entre 21 de setembro e 5
de dezembro de 97, rodou 22 mil
quilômetros, de São Paulo a Belém
do Pará .
"Fui viajar porque achei que faltavam paisagens para ilustrar a
ficção. Não pensei que ainda encontraria os grupos folclóricos. A
idéia inicial era colher depoimentos, memórias de gente que viu a
missão", afirmou.
No Nordeste, Daminello foi surpreendido. Além das paisagens,
encontrou várias das manifestações folclóricas visitadas pelos
"expedicionários" Luis Saia, Martin Brauwieser, Benedito Pacheco
e Antônio Ladeira. Foram congos
na Paraíba, o reisado e o maneiro-pau no Crato (CE) e as danças
dos índios Pancararus no Recife.
"Em Souza (sertão da Paraíba),
onde eles fizeram muitos registros, nós não encontramos nada.
Em Pombal foi diferente, e pudemos conseguir imagens de várias
danças", afirmou.
A essas imagens, juntou mais
cerca de 15 minutos dos 45 filmados por Saia e equipe. As imagens
pertencem ao arquivo da Discoteca Pública Municipal do Centro
Cultural São Paulo.
Segundo Daminello, essa contraposição entre as imagens do
passado e do presente, resgatando
as descobertas do folclore brasileiro, é uma das linhas do filme.
Road movie
A outra linha é a história dos homens que fizeram essa viagem.
"Queremos mostrar como esses
quatro caras viajaram. Fiz um documentário, mas também um
road movie. É sobre pessoas que
sofrem uma transformação enquanto viajam", disse.
O ator Pascoal da Conceição faz
Mário de Andrade, presente na
viagem por intermédio da extensa
correspondência que trocou com
Saia e pelos esforços para evitar
que a missão fosse abortada.
Os expedicionários são interpretados por Marcos Azevedo (Saia),
Andre Boll (Braunwieser), Fernando Alves Pinto (Pacheco) e Silvio Restiffe (Ladeira). Participam
também José Rubens Xaxá, como
Oswald de Andrade, e Natália Barros, como Tarsila do Amaral.
A chamada "parte ficcional" está
baseada nos diários de Saia e
Braunwieser. Foi rodada em seis
dias em estúdios de São Paulo. O
diretor fez todas as filmagens utilizando o recurso do "croma key",
para inserir as paisagens que filmou durante a sua expedição.
A produção, de 1h10, teve um
orçamento apertado. Iniciou-se
com R$ 16 mil, resultado do Prêmio Estímulo. Foi terminada após
o apoio de várias empresas e o investimento da Cultura, da ordem
de R$ 60 mil. Após a exibição na
TV Cultura, Daminello quer fazer
uma segunda edição, de duas horas, para exibição em cinemas.
Filme: A Missão das Pesquisas Folclóricas
Diretor: Luiz Adriano Daminello
Quando: hoje, às 23h30
Onde: TV Cultura
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