São Paulo, sexta, 27 de fevereiro de 1998

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CRÍTICA
"Ou Tudo ou Nada" é alívio sem super-homens

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

Estréia "Ou Tudo ou Nada" ("The Full Monty"), filme independente inglês cuja trajetória, apesar do elenco desconhecido, diretor e roteirista estreantes e um modesto orçamento, é de fechar o guarda-chuva. Já faturou US$ 150 milhões, em 28 países (uma das seis maiores bilheterias de 1997) e recebeu quatro indicações para o Oscar.
Apesar de não rolar sangue, monstros recriados pelo computador, ETs nem pencas de cadáveres à deriva, "Ou Tudo ou Nada" arrecadou, no Reino Unido, mais que "Jurassic Park", de Steven Spielberg, o último recordista em bilheteria.
E qual a razão de tamanho sucesso? O filme, uma comédia, tem a façanha de ser engraçado e sério ao explorar temas que simbolizam este fim de século que, para muitos, é trágico: o desemprego a longo prazo (ou permanente?) e a derrocada do bofão.
Tudo se passa em Sheffield, Inglaterra, antigo pólo metalúrgico que se modernizou, mecanizou fábricas e reestruturou a economia local, colocando no olho da rua muitos empregados e falindo muitas empresas.
Homens não conseguem pagar a pensão de filhos. Homens broxam na cama, diante de uma mulher que trabalha. Homens tentam se matar. Um grupo de desempregados tem a saída: o striptease. Uma ironia ao gênero que tornou objeto seu oposto.
Depois de meses fazendo hora no Clube dos Desempregados, esperando sua vaga na nova economia, Guz (Robert Carlyle, "Transpotting"), que está para perder a custódia do filho por falta de cacau, convence seu melhor amigo a montar um grupo de strippers. Um é esquelético. O outro, gordo. Vão encontrando, pelo caminho, companheiros na mesma situação de desespero e agregando-os ao grupo. Ninguém sabe dançar. Apelam para o ex-chefe, um executivo também desempregado que dá aulas de dança de salão.
Com delicadeza, humor e cenas inesquecíveis (como a dança do grupo na fila do seguro desemprego local), "Ou Tudo ou Nada" é um alívio. Nada de socos, sangue ou super-homens. É gente comum, que -mais alívio- teve o talento reconhecido pelo establishment da indústria cinematográfica e pelo público.

Filme: Ou Tudo ou Nada Produção: Inglaterra, 1997 Direção: Peter Cattaneo Com: Robert Carlyle Quando: estréia hoje, nos cines Metrô Tatuapé Cinemark 2, Butantã 2, Continental 1, Morumbi 5 e circuito



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