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BLONDIE - CRÍTICA
Volta se faz de confissões, desculpas e cinismo pop
da Reportagem Local
Nada é melhor em "No Exit", disco de volta do baluarte Blondie,
que seu próprio título. É uma confissão como poucas no pop, tanto
quanto um pedido de desculpas.
Pois em 1979, num rock arrasa-quarteirão, a banda proclamava:
"Die Young, Stay Pretty" (morra
jovem, fique bonito). Bem, eles
não morreram jovens, nem ficaram bonitos -mas nem por isso
precisam se sujeitar à síndrome "I
can get no satisfaction".
O que resta, então, é ser honesto
-isso estava no velcro da new wave- e conservar a dose necessária
de cinismo com a vida, com o dinheiro, com o próprio pop.
Posto isso, "No Exit" é um disco
do Blondie esmerado em todas as
características dos melhores discos
do Blondie -e não foram poucos:
"Parallel Lines" (78), "Eat to the
Beat" (79) e "Autoamerican" (80)
estão garantidos na galeria dos
imortais do pop.
O conflito entre a honestidade
punk e a volta nem tão desejada
(Debbie tentara desde fazer a fórmula Blondie avançar uns passos
-no belo "Debravation"- até se
tornar diva jazz, com os Jazz Passengers) atravessa "No Exit".
Na abertura, "Screaming Skin"
trata de fazer brincadeiras de dor e
sangue com o passar do tempo
-"minha pele chora, meu sangue
suspira", rasga Debbie, cantando
tão bem quanto nunca.
Tal tratamento prossegue em
"Forgive and Forget", tanto um semitecno quanto um típico rock climático à "Picture This" (78) ou
"Slow Motion" (79). Não é uma beleza o pedido de "perdoe e esqueça", como que ao ouvinte antigo?
Aí vem "Maria", o primeiro single do disco, rock'n'roll feminista
de primeira grandeza. "Ela se move como se não estivesse nem aí/
macia como seda, "cool" como ar/
oh, dá vontade de chorar" -precisa dizer que essa Maria não é nenhuma outra além de Debbie?
Depois de tanta auto-justificação, o tombo fica inevitável. A faixa-título tenta citar, toscamente, o
proto-rap "Rapture" (80), uma das
glórias do Blondie. Vem com órgão gótico de igreja e a participação do rapper Coolio.
Tudo bem, é um manifesto de intenção -Blondie já foi desdenhado como Coolio é hoje, ainda que
um tenha produzido "Heart of
Glass" e outro, "Gangsta's Paradise", ambos antológicos- , mas a
piada não funciona na execução.
Segue a balada "Double Take"
sordidamente tristonha e dignamente incapaz de fazer frente a
"Fade Away and Radiate" (78) ou à
versão demo de "Heart of Glass".
O disco vai nesse compasso -o
máximo de ousadia vem de "Boom
Boom in the Zoom Zoom Room",
pop-jazz "noir" para Deborah
realçar seu lado diva jazzy. No
mais, é Blondie honesto e competente para viúvas e para novatos.
"No Exit" se presta, no mínimo, a
refrescar memórias sobre uma das
duas mulheres mais importantes
do pop norte-americano dos 70 (a
outra é sua arqui-rival Patti Smith
-mas isso é problema delas).
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Disco: No Exit
Grupo: Blondie
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
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