São Paulo, Sábado, 27 de Fevereiro de 1999
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BLONDIE - CRÍTICA
Volta se faz de confissões, desculpas e cinismo pop

da Reportagem Local

Nada é melhor em "No Exit", disco de volta do baluarte Blondie, que seu próprio título. É uma confissão como poucas no pop, tanto quanto um pedido de desculpas.
Pois em 1979, num rock arrasa-quarteirão, a banda proclamava: "Die Young, Stay Pretty" (morra jovem, fique bonito). Bem, eles não morreram jovens, nem ficaram bonitos -mas nem por isso precisam se sujeitar à síndrome "I can get no satisfaction".
O que resta, então, é ser honesto -isso estava no velcro da new wave- e conservar a dose necessária de cinismo com a vida, com o dinheiro, com o próprio pop.
Posto isso, "No Exit" é um disco do Blondie esmerado em todas as características dos melhores discos do Blondie -e não foram poucos: "Parallel Lines" (78), "Eat to the Beat" (79) e "Autoamerican" (80) estão garantidos na galeria dos imortais do pop.
O conflito entre a honestidade punk e a volta nem tão desejada (Debbie tentara desde fazer a fórmula Blondie avançar uns passos -no belo "Debravation"- até se tornar diva jazz, com os Jazz Passengers) atravessa "No Exit".
Na abertura, "Screaming Skin" trata de fazer brincadeiras de dor e sangue com o passar do tempo -"minha pele chora, meu sangue suspira", rasga Debbie, cantando tão bem quanto nunca.
Tal tratamento prossegue em "Forgive and Forget", tanto um semitecno quanto um típico rock climático à "Picture This" (78) ou "Slow Motion" (79). Não é uma beleza o pedido de "perdoe e esqueça", como que ao ouvinte antigo?
Aí vem "Maria", o primeiro single do disco, rock'n'roll feminista de primeira grandeza. "Ela se move como se não estivesse nem aí/ macia como seda, "cool" como ar/ oh, dá vontade de chorar" -precisa dizer que essa Maria não é nenhuma outra além de Debbie?
Depois de tanta auto-justificação, o tombo fica inevitável. A faixa-título tenta citar, toscamente, o proto-rap "Rapture" (80), uma das glórias do Blondie. Vem com órgão gótico de igreja e a participação do rapper Coolio.
Tudo bem, é um manifesto de intenção -Blondie já foi desdenhado como Coolio é hoje, ainda que um tenha produzido "Heart of Glass" e outro, "Gangsta's Paradise", ambos antológicos- , mas a piada não funciona na execução.
Segue a balada "Double Take" sordidamente tristonha e dignamente incapaz de fazer frente a "Fade Away and Radiate" (78) ou à versão demo de "Heart of Glass".
O disco vai nesse compasso -o máximo de ousadia vem de "Boom Boom in the Zoom Zoom Room", pop-jazz "noir" para Deborah realçar seu lado diva jazzy. No mais, é Blondie honesto e competente para viúvas e para novatos.
"No Exit" se presta, no mínimo, a refrescar memórias sobre uma das duas mulheres mais importantes do pop norte-americano dos 70 (a outra é sua arqui-rival Patti Smith -mas isso é problema delas).
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Disco: No Exit Grupo: Blondie Lançamento: BMG Quanto: R$ 18, em média

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