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TEATRO
Montagem da peça "A Filosofia na Alcova", que estréia na cidade em abril, não terá nenhuma cena de nudez
Alcova de Sade chega com roupa a SP
João Wainer/Folha Imagem
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Ensaio da peça "A Filosofia na Alcova", baseada em obra de Sade
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ERIKA SALLUM
da Reportagem Local
No prefácio da primeira tradução em português de "A Filosofia na Alcova", uma das mais famosas obras do Marquês de Sade, o autor, anônimo, avisa sobre o conteúdo do texto a seguir: É preciso conhecer o mal para saber evitá-lo’’.
O livro foi publicado clandestinamente no Brasil entre os anos 40 e 50 e classificado, pelo mesmo desconhecido editor-tradutor do parágrafo acima, de antologia da libertinagem’’.
Polêmica, obscena, a obra de Sade ganha, no início de abril, uma versão teatral, sob direção de Marcelo Fonseca, que promete não usar nenhuma cena de nudez em sua montagem. A peça deve estrear na Funarte, em São Paulo.
No mesmo período, está previsto o lançamento de uma nova tradução do livro, pela editora Iluminuras (leia texto nesta página).
Escrito em 1795 pelo francês Donatien Alphonse François, o Marquês de Sade, o texto desfia a saga de Eugênia, uma virgem de 15 anos que acaba sendo iniciada nos prazeres da libertinagem por madame Saint-Ange, Dolmancé e amigos.
As lições’’ consistem, basicamente, em orgias, sodomia, homossexualismo, perversões, crimes, torturas, crueldade. E, acima de tudo, em renúncia à virtude. Em meio a isso, Sade tece profundas críticas a Deus e à religião.
Como explica o próprio título, Sade coloca erotismo e filosofia lado a lado, associando corpo e espírito. É isso que choca mais do que tudo’’, explica Eliane Robert Moraes, professora de estética e literatura e autora de Sade - A Felicidade Libertina’’.
O diretor Marcelo Fonseca _que montou recentemente O Balcão’’_ conhece bem as reações que o marquês pode provocar. No total, convidou cerca de 40 atores para participar da peça. Todos recusaram a proposta. Alguns disseram que não queriam meter a mão em uma coisa dessas. Outros simplesmente falaram que não queriam fazer. Pode não parecer, mas ator é bem careta.’’
Após tantas recusas, Fonseca (que atuará no espetáculo) conseguiu reunir no elenco Carolina Gonzales, Cibele Forjaz (responsável também pela iluminação), Denise Assunção, Adler Pellegrini e Rebeca Mattos. Ainda falta selecionar um último ator.
A Filosofia na Alcova’’ também não atraiu patrocinadores. Segundo o diretor, todas as empresas procuradas por ele negaram ajuda à montagem alegando que a peça não condiz com nosso perfil’’.
Atualmente, o espetáculo conta apenas com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura. É quase uma censura econômica. Por isso, também não farei merchandising no palco. Até o vinho vai estar sem rótulo’’, decreta.
Apesar das libertinagens de Sade, Fonseca garante que não haverá nenhuma nudez durante a apresentação. Para representar as cenas de sexo, o grupo contará com marionetes e slides, entre outros recursos teatrais. Quero colocar um slide de Cristo, enquanto rolam as sacanagens.’’
De acordo com ele, o público pode ficar tranquilo que a peça não será interativa, e os atores não incomodarão a platéia. Estamos trabalhando a doçura da obra de Sade, além do humor. Ele é engraçadíssimo, um cético.’’
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